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Há 40 anos morria Di Cavalcanti, um dos maiores ícones das artes no Brasil

publicado: 26/10/2016 00h05, última modificação: 26/10/2016 07h04
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As obras de Di Cavalcanti foram marcadas pelo expressionismo, pelo cubismo e por uma atmosfera quente e sensual - Foto: Divulgação

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Hilton Gouvêa

Hoje completam-se 40 anos da morte de Di Cavalcanti. E os admiradores deste grande pintor brasileiro têm a obrigação de saber que Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo era um excêntrico, na pura expressão da palavra. Embora tenha se filiado ao Partido Comunista Brasileiro, convém dizer que esta atitude talvez tenha se originado numa ideologia de balsaqueano rebelde, já que seu avô, o capitão Emiliano Rosa Sena, era latifundiário e dono de grande fortuna. Ao que parece, o menino teimoso, que nasceu na casa do jornalista negro José do Patrocínio (RJ), em 6 de janeiro de 1897, sofreu influência deste ilustre parente. Por que?

Ora, José do Patrocínio era filho de um padre com uma jovem escrava. Concluiu o curso de Farmácia a duras penas. E, quando a República de estudantes em que morava fechou, a sorte o fez ser contratado pelo capitão Emiliano, como professor de seus filhos. A então sociedade racista do Rio de Janeiro bateu na cuia com malícia. Que se tornou mais aguda após a notícia do casamento de Henriqueta, uma moça branca, filha de latifundiário, com um negro pobre.

Emiliano eliminou o obstáculo da pobreza do genro emprestando-lhe dinheiro para comprar um jornal. O agora marido de Henriqueta, tia de Di Cavalcanti, tornou-se um jornalista ilustre.

Patrocínio passou, então, a circular com desenvoltura, nas altas camadas da sociedade carioca. Quando Di Cavalcanti nasceu, Patrocínio já tinha 44 anos e escandalizava os conservadores cariocas com seus porres homéricos e o automóvel que importara da Europa, por sinal, o primeiro carro de passeio do Rio de Janeiro.

Cubista em atmosfera quente e sensual

Frequentador assíduo do Baile das Bonecas – um clássico evento de travestis do Teatro da República (RJ) -, Di Cavalcanti nasceu em 6 de janeiro de 1897 e morreu aos 79 anos, em 1976. Com estilo artístico marcado pelo expressionismo, cubismo e dos muralistas mexicanos, seus temas estavam impregnados dos trópicos e de uma atmosfera quente e sensual. Glauber Rocha fez um filme sobre a vida deste gênio do pincel, que acabou proibido pela Justiça, a pedido da família.

Aos 24 anos, provoca ciumadas em caricaturistas veteranos do Rio. Motivo: foi convidado para ilustrar o livro “Balada do Cárcere de Reading”, de Oscar Wilde. A convivência com Picasso e Brique é notória. Em 1916, matriculou-se na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (SP), mas dizem que nunca atuou como advogado. Foi morar no Recife em 1934. Talvez tenha vindo daí a crença de que era pernambucano.

Conta-se que estava no exterior com Vinicius de Morais, com quem jantava na noite de 31 de março de 1964. No dia seguinte, teve notícia do Golpe Militar, mas não acreditou: pensara ser um trote do primeiro de abril. Em 1953, juntamente com o pintor Alfredo Volpi, recebeu o prêmio de “Melhor Pintor Nacional”, na II Bienal de São Paulo. Niemeyer indicou-lhe pessoalmente para pintar a Via-Sacra da Catedral de Brasília. Outro contraste na vida de um pintor que se dizia comunista. Entre suas principais obras, se destacam os quadros “Manga”, “Samba”, “Pierrete”, “Mulheres com Frutas”, “Aldeia de Pescadores” e “Duas Mulatas”.

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