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Jornalista e historiador Hélio Zenaide morre aos 90 anos

publicado: 19/09/2017 00h05, última modificação: 19/09/2017 08h43
90 ANOS HÉLIO ZENAIDE - ( Foto Edson Matos )   (2).jpg

Intelectual Hélio Zenaide foi diretor do jornal A União no início dos anos 60 - Foto: Edson Matos

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Guilherme Cabral

O jornalista, escritor e historiador paraibano Hélio Zenaide morreu aos 90 anos de idade, no Hospital Memorial São Francisco, onde se encontrava internado, na cidade de João Pessoa. A confirmação do falecimento foi feita na manhã dessa segunda-feira (18) pela família, que sepultou o corpo no final da tarde, no Cemitério Parque das Acácias, depois do velório que ocorreu no mesmo local, situado no bairro José Américo de Almeida. “É uma grande figura da história da Paraíba. Um homem sem vaidades, é um dos nomes importantes na cultura do Estado. Foi um amigo e grande companheiro”, disse para A União o jornalista Gonzaga Rodrigues. “Hélio Zenaide era um dos últimos dos moicanos de uma geração que fez escola no jornalismo paraibano. Deixa o legado de um carreira pautada na polêmica, na ironia e no respeito à verdade dos fatos”, comentou, também, o jornalista Martinho Moreira Franco. “Lamento profundamente. Hélio Zenaide era um dos maiores nomes da cultura paraibana”, fez questão de ressaltar o escritor José Octávio de Arruda Mello, que, como ele, era membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP).

“Começamos a atuar juntos desde 1952. Helio Zenaide concluíra o curso de Direito em Recife e já estava começando a militar na imprensa através do jornal O Norte, no governo de José Américo, de quem era grande admirador, admiração herdada do seu pai, Heretiano Zenaide, um escritor importante, além de pesquisador da natureza e autor de livros de botânica. Hélio era militante da imprensa com viés político e, numa época em que se escrevia de forma sofisticada, ele foi um dos primeiros a escrever de forma muito simples, para que todos entendessem. Ele foi o responsável pela abertura de A União para a cobertura da luta dos camponeses, sendo o mais integrado, pois denominava de camponeses, enquanto outros jornais os chamava de rurícolas”, ressaltou, ainda, Gonzaga Rodrigues. “Com Hélio, A União se adiantou pela reforma agrária e ele terminou produzindo um acompanhamento espetacular que se tornou objeto de documentários e filmes nacionais como, por exemplo, Cabra Marcado para Morrer”, prosseguiu, lamentando o fato de Hélio não ter deixado uma seleção de todo o material que produziu durante décadas de atuação no jornalismo paraibano. “É uma pena que ele não tenha feito pelo menos um livro para que nós pudéssemos ter, em nossos arquivos, esses materiais que poderiam servir e muito à história da Paraíba no século XX”, concluiu ele.

O historiador José Octávio de Arruda Mello ainda destacou a exitosa trajetória de Hélio Zenaide na imprensa paraibana, ao lembrar que o saudoso intelectual ocupou diversos cargos em veículos de comunicação na cidade de João Pessoa. “Era um jornalista de muita sensibilidade, além de um homem muito correto no sentido da moral, ou seja, de dar apoio aos colegas na imprensa”, disse o escritor e pesquisador, acrescentando que “Hélio Zenaide casava a historiografia com a imprensa, pois os seus melhores trabalhos estão publicados em jornais, tendo sido autor de biografias, estudos críticos e reportagens históricas”. Martinho Moreira Franco também reforçou essa faceta. “Hélio escrevia com facilidade, devido à rapidez do raciocínio, mesmo “catando milho” nas teclas. Foi repórter, redator, colunista, editor e diretor de jornal, além de exímio taquígrafo”, disse ele, para quem Hélio Zenaide era um remanescente da época do jornalismo romântico, quando a profissão era exercida com “idealismo e paixão”, e ainda lembrando que “era um repórter com apurado faro pela notícia e realizou, durante sua primeira passagem em A União, a melhor cobertura sobre as ações da Liga Camponesa na região da Várzea”.

José Octávio destacou que Hélio Zenaide fez história ao registrar o discurso proferido por Raimundo Asfora, no Ponto de Cem Réis, em João Pessoa, logo após a morte do líder camponês João Pedro Teixeira, publicado na edição de A União de 4 de abril de 1962. “Foi um sucesso e gerou grande repercussão em todo o Estado. Asfora pronunciou um discurso onde dizia que os latifundiários deixariam as terras escuras se fossem proprietários do solo, e Hélio estava lá, captando o discurso através do taquígrafo. No outro dia, Asfora o procurou na redação e se deparou com o texto que Hélio tinha colhido no discurso dele já publicado no jornal”, relembrou o historiador.

“Hélio Zenaide teve um pouco de formação autodidata, pois a instalação da Universidade viria depois. Mas ele, que gostava muito de matemática, se formou na Faculdade de Direito de Recife e, entre vários cargos, foi diretor de A União em 1961 e 1962, durante o governo de Pedro Gondim, e, depois, diretor técnico do mesmo jornal, nomeado pelo governador Tarcísio Burity. O IHGP teve sua melhor fase quando ele ingressou, no dia 22 de março de 1980, onde passou a ocupar a Cadeira n0 38, cujo patrono é o tenente-coronel Francisco Coutinho de Lima e Moura”, observou, ainda José Octávio. “Hélio transitou com desenvoltura nos labirintos da burocracia, ocupado funções públicas com notável competência e reconhecida capacidade de trabalho.

Possuía também espírito boêmio, frequentado bares em companhia de colegas com os quais costumava passar horas e horas discutindo política e jogando conversa fora. Nada, porém, lhe fazia tão bem como o ambiente doméstico em que produzia textos memoráveis sobre histórias da Paraíba. Amigo dos amigos, cultivava a solidariedade com um dos seus melhores predicados. Deixa muitas saudades”, reforçou, também, Martinho Moreira Franco.