por Guilherme Cabral*
Os 65 anos da morte do escritor José Lins do Rego se completarão na próxima segunda-feira (dia 12). No intuito de lembrar a data, a Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc), em João Pessoa, por meio do Museu que leva o próprio nome do consagrado autor, realizará uma programação especial na data, com a abertura, às 9h30, da exposição Lins do Rego, o adeus da Imprensa em 1957. A mostra vai reunir 28 recortes publicados em jornais e revistas da época, que registraram o falecimento do romancista, além das manifestações de lamento de escritores e intelectuais pela sua perda. A visitação gratuita do público será até o final de outubro, sempre de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 17h, e, aos sábados e domingos, das 10h às 16h.
A homenagem póstuma para o autor de Menino de Engenho e Fogo Morto será encerrada na terça-feira (13), com apresentação do Programa de Inclusão Através da Música e das Artes (Prima), sob a regência do maestro Rainere Travassos, no auditório 1 da Funesc, às 9h. O concerto executará a peça ‘Uma Música para José Lins’, composição de Uirá Garcia.
A diretora do Museu José Lins do Rego, Carminha Diniz, informou que essa mostra, que também reúne fotos, é mais uma atividade realizada para manter destacada, inclusive para as novas gerações, a importância de José Lins do Rego como um dos autores mais expressivos da literatura brasileira. “É uma exposição bastante informativa, que vai reunir peças pertencente ao próprio acervo do equipamento. Além das cópias dos recortes de jornais e revistas, o público também vai observar os originais, para que tenha ideia de como é contemplar registros que são parte da história”, disse ela, que fez a seleção baseada na representatividade do material.
“A morte de José Lins do Rego causou uma forte comoção no Brasil e isso pode ser constatado pelos registros expostos, que são oriundos da Paraíba e de várias outras partes do país, produzidos por importantes nomes da área literária e de instituições. Há, inclusive, um certificado que o Governo de Israel emitiu para a família, em homenagem póstuma, em que registra ter plantado 56 palmeiras, cujo documento original vai estar exposto ao público”, afirmou Carminha Diniz.
A gestora do Museu informou que vários recortes vão ser contemplados pelo público, durante a visita ao equipamento, que se localiza na rua Abdias Gomes de Almeida, 800, no bairro de Tambauzinho. Ela disse que um exemplo é o texto que o escritor paraibano José Américo de Almeida publicou na revista O Cruzeiro, em 12 de outubro de 1957, sendo um dos trechos o seguinte: “Ninguém amou mais a vida, vivendo intensamente, na plenitude da sua glória. Custou a morrer, o organismo vigoroso resistia. Adeus, meu grande amigo”.
Entre os recortes escolhidos para a exposição há registros publicados no Jornal A União. Carminha Diniz ressaltou, por exemplo, a homenagem à memória do escritor José Lins do Rego que a Câmara Municipal de João Pessoa prestou, conforme nota divulgada em 19 de setembro de 1957; outro texto publicado no mesmo jornal, só que dia 13 daquele mês, refere-se à sessão realizada pela Assembleia Legislativa da Paraíba em homenagem ao escritor. “Na época, o então deputado Afonso Pereira falou da tribuna sobre o homem e a obra de José Lins e, na ocasião, foi anunciado que o então governador Flávio Ribeiro Coutinho decretava três dias de luto”, relatou a diretora do Museu, acrescentando que o Jornal Correio da Paraíba também fez registros sobre o fato.
Ela ainda destacou que Jorge Amado publicou na revista Para Todos, do Rio de Janeiro, edição de setembro e outubro de 1957, crônica intitulada Menino de Engenho, na qual lamenta a morte do paraibano. “Para mim é difícil, assim tão próximo dos seus funerais, reunir, sequer, imagens desses 25 anos, desde quando o conheci em Maceió até o último dia que o vi, no leito do hospital. Para mim, não é fácil escrever sobre ele. É terrível pensar que já não o encontraremos, já não ouviremos a sua gargalhada”, disse o escritor baiano.
“O mais interessante, e que dá uma ideia de quanto José Lins do Rego era conhecido no Brasil, é o fato do Jornal O Popular, de Goiânia, ter publicado notícia sobre a morte em 14 de setembro. Naquele ano de 1957, vários outros jornais também registraram o falecimento do escritor paraibano, além de instituições como o Governo da Paraíba, a Academia Brasileira de Letras (ABL) e o Congresso Nacional terem divulgado notas oficiais lamentando a morte do autor. O Clube de Regatas Flamengo, do Rio de Janeiro, do qual José Lins era torcedor fanático e foi diretor, e que no cinquentenário do clube recebeu certificado referente à data, documento esse que vai estar na exposição, também lamentou a morte do paraibano”, comentou Carminha Diniz.
Além das instituições, a diretora do Museu disse que a morte de José Lins do Rego foi bastante sentida por outros autores, a exemplo de Ledo Ivo e Thiago de Melo. “Outro foi o escritor Gilberto Freyre, que publicou no Diário de Pernambuco, em 15 de setembro de 1957, as seguintes palavras: ‘A notícia da morte de José Lins chega aos meus ouvidos como o mais brutal dos absurdos. Nunca me pareceu que ele pudesse ser senão vida’”.
De acordo com Carminha Diniz, há na revista Ciência e Trópico, de dezembro de 1982, uma frase da filha caçula de José Lins, Elizabete, em que ela registra: “Pouco antes de morrer, na última melhora que teve em seus três meses de hospital, ele me pediu uma folha de papel que estava ao lado, pegou um lápis e escreveu as seguintes palavras: ‘Tudo vai bem, José. Há força e viva a Garzom, 10’, que era o endereço onde ele morava, no Rio de Janeiro, e que amava muito essa casa, que tinha comprado com a herança do engenho”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 10 de setembro de 2022.