Notícias

Mostras reúne trabalhos em pinturas, cerâmicas e fotografias de mais de 40 artistas

Hotel Globo: exposições focam em arte e terapia

publicado: 08/04/2022 08h43, última modificação: 08/04/2022 08h43
Foto_Elizenda Sobreira_Divulgação.png

Foto: Elizenda Sobreira/Divulgação

por Joel Cavalcanti*

As artes visuais como uma atividade terapêutica de provocação da imaginação e que ajuda na abstração da realidade. Esse é um dos focos das três exposições inauguradas hoje no Hotel Globo, no Centro Histórico de João Pessoa. Com pinturas em acrílico, cerâmicas, fotografias e quadros criados com giz e lápis, os trabalhos reúnem obras de mais de 40 artistas em um panorama que aborda os sentidos mais amplos da inclusão social, a necessidade humana da criação artística e como explorar no mundo exterior a inspiração que traduz a identidade de cada um.

Um dos destaques encontrados no espaço é para a exposição de 60 fotografias que tiveram origem no livro digital Fotografia & Depoimentos: a arte como terapia. A obra é organizada de forma independente por Ilka Cristina, Elizenda Sobreira e Maura Fernandes, e é composta por pessoas de variadas formações e posições profissionais registrando várias situações cotidianas que refletem o olhar atento de 37 artistas que durante a pandemia encontraram um refúgio em uma câmera fotográfica. “São exposições com perfis e conceitos bem diferentes, até linguagens diferentes, mas é exatamente isso que nós queremos começar a produzir, mostrar que nossa arte e nossa cultura são realmente multifacetadas, multiculturais”, afirma o diretor executivo da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), Marcus Alves.

As imagens combinadas com os depoimentos se configuram como um perfil dos artistas expressando suas visões de mundo e sobre a importância que o ato de fotografar trouxe a cada um. “O livro busca retratar olhares fotográficos conjugados com pensamentos sobre o papel da arte na vida humana. Com centenas de fotografias dos mais diversos estilos, esquadrinha os acervos guardados em equipamentos tecnológicos e muitas vezes até meio esquecidos que de repente vêm à tona após exaustivas pesquisas, olhares, avaliações e troca de opiniões”, descreve Elizenda Sobreira, uma das organizadoras da obra.

Já a artista plástica Tati Oliveira apresenta a exposição Despertar, com um quadro sensorial através da arte naïf em mais de 30 telas e algumas cerâmicas que revelam o universo imaginativo e lúdico de sua criadora. “Essa obra é o meu despertar. Foi quando descobri que sou uma artista, além do autismo. Nós autistas somos capazes de fazer o que a gente quiser, pintar e ser artista. Foi quando eu acordei para essa arte. Estou muito feliz e ansiosa”, declara a jovem de 25 anos que, na semana em que se lembra o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, leva um discurso contra o capacitismo para as galerias de arte de João Pessoa. “Somos muito capazes de fazer tudo, de pintar. Eu realizei meu sonho por causa disso”.

A artista desenha desde a infância, mas foi durante a pandemia que ela assumiu o controle das tintas e começou a se especializar nas artes plásticas. Foi quando a pernambucana nascida em Recife passou a receber encomendas de quadros, a expor e a pintar profissionalmente. Estimulada pela família a desenvolver e melhorar suas habilidades sociais, cognitivas e comportamentais, Tati já foi premiada internacionalmente em Miami (EUA) com o quadro TeTEA, peça sensorial, de pintura inclusiva, que pode ser apreciada através do toque. Tati costuma retratar seres mágicos, estrelas, sóis, além de movimentos que representam a cultura nordestina e a religiosidade. “Nós queremos mostrar que os autistas podem ser o que eles quiserem, inclusive artistas. A Tati quer mostrar como ela despertou para a arte, para a pintura, e não apenas como uma atividade de tratamento do transtorno do espectro autista”, explica o curador e chefe da unidade do Hotel Globo, Willian Macêdo.

Foto: Willian Macêdo/Divulgação

A terceira parte da exposição é intitulada Liberd’Arte, dos artistas paraibanos Elidio Nunes e Eduardo Pordeus. Nascidos no Sertão, a dupla de Sousa e Patos busca no manuseio de giz, lápis e tintas uma extensão de seus desejos de liberdade. Os dois se inspiraram em paisagens floríferas naturais do cotidiano e a liberdade através de uma coleção voltada aos pássaros. As telas são um convite à reflexão sobre a simplicidade do cotidiano e das memórias.

As exposições ficam abertas ao público de domingo a domingo, das 8h às 17h. A entrada é gratuita.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 08 de abril de 2022