por Guilherme Cabral*
Raízes do Cangaço é o título do livro que o escritor e jornalista paraibano Humberto Mesquita lança hoje, a partir das 17h30, na sede da Fundação Casa de José Américo, em João Pessoa. Publicada pela Editora Oxente (SP), a obra reúne depoimentos de cangaceiros e de cientistas sociais, tem 360 páginas e custa R$ 60. Durante o evento, promovido pela FCJA e o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP), a obra será apresentada pela historiadora cajazeirense Nadja Claudino.
“No livro, não falo apenas dos efeitos, mas mostro as causas, as raízes que levaram ao cangaço, que foram as grandes revoltas que aconteceram na época da colonização brasileira, a exemplo da guerra de Canudos, as Balaiadas, a revolta dos indígenas e a República de Palmares. O cangaço foi uma resposta a tudo isso, sob o olhar complacente do governo e as atitudes violentas dos coronéis”, afirmou Humberto Mesquita.
O autor disse que a parte mais importante do livro é a busca das causas e do efeito, que é o cangaço. “O cangaceiro era uma fera, mas ferida por algo pior, ou seja, as injustiças sociais, a seca do Nordeste e a violência dos coronéis. Parafraseando o escritor Euclides da Cunha que, no livro Os Sertões, afirma que ‘o sertanejo é, antes de tudo, um forte’, eu digo que o sertanejo é, antes de tudo, um sem sorte, porque até a seca o atingiu. O meu objetivo, com o livro, é mostrar que o cangaceiro não é santo e nem bandido, mas é vítima, e que os coronéis eram tão criminosos quanto os cangaceiros, na época. E é como diz o poeta paraibano Augusto dos Anjos, em Versos íntimos: ‘O homem, que, nesta terra miserável, mora, entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera’. Lampião, para mim, não foi herói e nem bandido: foi vítima”, afirmou Humberto Mesquita.
O escritor observou que o projeto do livro, que é a sua quarta obra, surgiu há várias décadas, mas só recentemente pôde concretizá-lo. “Em 1968, eu trabalhava na TV Bandeirantes e apareceu uma pauta para entrevistar a historiadora paulista Maria Cristina da Mata Machado, que ia defender tese sobre o cangaço na USP e, em seguida, na Universidade de Sorbonne, na França, de quem me tornei amigo e que morreu em 1971. Em São Paulo, estávamos na casa do historiador Sérgio Buarque de Holanda, pois ela queria falar com ele a respeito do fato do cinema fazer do cangaceiro um criminoso, dentro de um mundo cão”, relatou Mesquita.
Naquele momento, Cristina Matta Machado defendeu o assunto com tanta convicção que despertou o interesse do paraibano pelo cangaço. “Foi aí que Sérgio Buarque de Holanda, autor do livro Raízes do Brasil, que fala sobre a colonização do país, comentou que, se a minha amiga historiadora defendia os cangaceiros com tanta lucidez e com muito entusiasmo, deveria escrever sobre as raízes do cangaço. Esse conselho ficou na minha mente. Cristina e eu começamos a realizar pesquisa, com o objetivo de localizar ex-cangaceiros. Foi uma odisseia, mas conseguimos encontrar 18 ex-cangaceiros, como Zé Sereno, que trabalhava numa escola de crianças, em São Paulo, Labareda, Volta Seca, Saracura, Dadá, Balão, que abria poço, em São Paulo, além da filha de Lampião, Expedita Ferreira. Além de São Paulo, nós os encontramos em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. Esse foi um projeto que, além de Sérgio Buarque e Cristina Matta Machado, contou com as participações dos historiadores Maria Isaura Pereira de Queiroz, Moniz Bandeira e Hermínio Sacchetta. Fiquei com aquela sugestão de Sérgio Buarque e, como já tinha tudo na minha cabeça, decidi escrever o livro há oito meses”, disse Mesquita, que nasceu em Campina Grande, viveu a juventude em João Pessoa e tornou-se um cidadão paulistano.
Humberto Mesquita apresentou programas, como o Pinga Fogo, na Rede Tupi, Xeque-Mate, na Bandeirantes, e Isto é Brasil, no SBT. Por trás das câmeras, foi editor de jornalismo na Tupi e no SBT. Na imprensa escrita trabalhou nas revistas Cruzeiro e Realidade, dentre outras. É autor do livro Tupi, a Greve da Fome, do romance Santa Brígida, e de Coisas que eu vi. Atualmente, ele mora em Marselha, na França, de onde conversa sobre sua vida dedicada ao jornalismo e sobre a conjuntura política e social do país.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 07 de dezembro de 2021