Guilherme Cabral
Cerca de 40 pessoas - dentre as quais 14 mestres e bonequeiros populares tradicionais do Estado, pesquisadores oriundos de outras regiões do Brasil, produtores culturais e gestores públicos - participam, a partir desta quinta (6), do II Encontro de Brincantes de Babau da Paraíba. O evento - aberto ao público e que é realizado pela Companhia de Teatro de Bonecos Boca de Cena, cuja sede se localiza na capital e se estenderá até este sábado - vai ser aberto às 14h30, no Salão São Sebastião, na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, na cidade de Mari. Além das apresentações de espetáculos de babaus, a programação inclui mesas redondas, intervenções artísticas, exposições, entrega de certificados de Patrimônio Imaterial aos brincantes de babau paraibanos e exibição do documentário intitulado Benedito e João Redondo pelas ruas da cidade.
“Esse Encontro é um dos raros momentos para juntar todos os brincantes de babau do Estado da Paraíba. Mari foi estrategicamente escolhida para sediar o evento porque foi nessa cidade que nasceu Antônio do Babau, que influenciou as novas gerações para continuarem mantendo essa tradição popular como também divulgou essa manifestação cultural para o resto do Brasil”, disse para o jornal A União Artur Leonardo, diretor e fundador - há quase 21 anos, que se completarão no próximo mês de outubro - da Companhia Boca de Cena, o único grupo que atua exclusivamente com o teatro de bonecos na Paraíba e que produziu o documentário a ser exibido nesta quinta, às 19h, no largo da Igreja. Ele antecipou que o objetivo final é sugerir propostas que contribuam para que sejam formuladas políticas públicas que façam com que, em âmbito nacional, seja salvaguardada a prática do babau da Paraíba, para que passe de geração a geração, evitando, assim, que se extinga, com o passar do tempo.
O II Encontro de Brincantes de Babau da Paraíba é uma realização da Cia Boca de Cena, com patrocínio do Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e apoio cultural da Prefeitura Municipal de Mari, Associação Rádio Comunitária Araçá FM e Paróquia Sagrado Coração de Jesus. “Além da sugestão de propostas de políticas públicas que possam salvaguardar o babau da Paraíba, vamos celebrar, juntos, o reconhecimento oficial pelo Iphan do teatro de bonecos popular do Nordeste: Mamulengo, Babau, João Redondo e Cassimiro Coco como mais um Patrimônio Imaterial do Brasil, que ocorreu em abril de 2015”, disse Artur Leonardo.
Os mestres e brincantes do babau da Paraíba que participarão, como convidados de honra do evento, são os seguintes: Mestre Nildo, do Município de Lagoa de Dentro; Damião Ricardo (Caldas Brandão); Mestre Mingau (Cruz do Espírito Santo); Geraldo (Solânea e Bananeiras); Pedro Luiz (Pedras de Fogo); Mestre Vaval (João Pessoa); Luiz do Babau, Mestre Clóvis e Mestre Clébio, todos de Guarabira; Toba dos Bonecos e Reis dos Bonecos, ambos de Sapé; Hélio do Babau e Miro do Babau, os dois de Mari, e, ainda, Jagunço (Bayeux). E, dentre as presenças oriundas de outras localidades do Brasil estão os pesquisadores Danilo Cavalcante, de São Paulo, que é um dos organizadores do Encontro de Mamulengueiros que ocorre no Estado, e Renato Perré, do Paraná, ex-presidente da Associação Brasileira de Teatro de Bonecos e um dos defensores e responsáveis para que o teatro de bonecos popular do Nordeste fosse reconhecido, pelo Iphan, como patrimônio imaterial.
“O público terá a oportunidade de conhecer, de perto, os detentores desses saberes, suas criações, histórias e brincadeiras. Além disso, estarão participando de um processo democrático de construção de uma ferramenta para a preservação desse bem cultural, que é o teatro de bonecos popular do Nordeste”, ressaltou Artur Leonardo, acrescentando que, ao longo da realização do Encontro, cada brincante vai realizar o que se denomina de “abertura de mala”. Em outras palavras, tal expressão significa que cada um deles - começando nesta quinta, data da abertura do evento - vai explicar para o público alguns aspectos do seu trabalho, a exemplo do processo de criação e confecção dos bonecos.
“Este evento será de fundamental importância para a manutenção desse patrimônio para as futuras gerações. Em três dias, o Município de Mari, terra do saudoso Antônio do Babau, do referenciado Miro do Babau e do promissor brincante Hélio se transformará na capital do babau”, garantiu o diretor da Cia Boca de Cena. Nesse sentido, Artur Leonardo disse que, por meio de edital de processo seletivo, foi realizado, nos últimos dias 27 e 28 de junho, o minicurso intitulado “Patrimônio Nosso” e monitoria voluntária de exposições, as quais integram parte da programação do evento em Mari. Na ocasião, os ministrantes Amanda Viana e Anderson Santana capacitaram e qualificaram 12 jovens daquele município sobre patrimônio imaterial, teatro de bonecos popular, relações públicas e atendimento ao público.
O I Encontro de Brincantes de Babau da Paraíba ocorreu em 2009, no Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa. Ele justificou que esse intervalo de tempo para a segunda edição se deveu às dificuldades em obter patrocínio. O diretor da Cia Boca de Cena ainda destacou que a ideia é que os saberes em torno dos brincantes de babau sejam implementados nas cidades. Nesse sentido, a organização do evento convidou, além de gestores do Iphan e da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) da Paraíba, gestores das Secretarias de Educação e Cultura de vários municípios.