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Exposição

Imersão em Ariano

publicado: 15/04/2024 09h43, última modificação: 15/04/2024 09h43
A mostra “O Auto de Ariano, o Realista Esperançoso” será aberta ao público hoje, no Altiplano, buscando levar o público a uma experiência pela história do autor paraibano
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A exposição fica aberta à visitação de quarta a domingo, das 14h às 21h | Fotos: Divulgação

por Sheila Raposo*

O Auto de Ariano, o Realista Esperançoso, exposição imersiva nas origens e no coração do multiartista e intelectual paraibano Ariano Suassuna, estreia hoje, no espaço Luzzco, no bairro do Altiplano, em JP. Em meio a luzes, cores, sons e texturas, o público terá a oportunidade de “mergulhar” na história do escritor e conhecer, em dimensão até então inédita, riquezas da cultura popular nordestina e da trajetória de Ariano, para além da simples observação.

Concebido com a participação do neto do homenageado, João Suassuna, o projeto foi dividido em cinco atos imersivos, além da introdução. Todos eles trazem a palavra “amor” em seus títulos: “Ato I — Amor pela poesia”; “Ato II — Amor por sua aldeia”; “Ato III — Amor da vida”; “Ato IV — Amor que contagia”; e “Ato V — Amor imorrível”. “O Auto de Ariano percorre todos os amores que guiaram a vida e a obra do meu avô”, destaca.

A ideia, segundo ele, é que os visitantes se envolvam na exposição não somente de forma física, mas emocional. “O ponto que liga todo o espetáculo é o amor: o amor de Ariano como filho, o amor por sua terra, por sua família, por seu país e sua gente, por nossa cultura e arte. E o que nos fez levar esse projeto adiante é também esse sentimento, que nutrimos por ele e por tudo o que ele representa”, ressalta João.

De acordo com ele, os ambientes montados para o espetáculo sensorial trazem pílulas físicas da vida de Ariano e da sua obra, algumas nunca tocadas ou vistas pela população de forma presencial, como o traje usado por ele — que já se tornou um símbolo estético — e a cadeira na qual gostava de se sentar, para ler e contar as suas histórias para amigos, familiares e visitantes. “É a oportunidade de ver o ser humano Ariano, o homem por trás do ícone”, diz.

Como surgiu

Segundo João Suassuna, ele e Jader França, CEO do Luzzco, já vinham conversando sobre uma homenagem a Ariano desde antes da inauguração desse espaço, mas queriam fazer algo diferente de tudo o que já tinham visto. “Foi a empreitada mais trabalhosa na qual entrei — e também a mais prazerosa. O fato de o meu avô ser uma pessoa plural e com uma criação artística extremamente diversificada foi um grande desafio. Mas conseguimos imprimir todas as suas variadas facetas no espetáculo. As pessoas vão se encantar”, aposta.

Sem rigidez cronológica, o espetáculo imersivo destaca todos os pontos fundamentais da vida e da obra de Ariano Suassuna, por meio de uma experiência sensorial que mexe não somente com os sentidos da visão e da audição, mas também estimula o paladar, o olfato e o tato. “As pessoas vão do riso à reflexão, guiadas por esses sentidos”, diz ele.

Para a realização dessa exposição, João participou de tudo, desde as primeiras conversas até a consolidação conceitual e estética do projeto. “Tudo foi feito a várias mãos, um processo fundamental para o fomento e a difusão da nossa cultura, para valorizarmos o que é nosso”, diz ele.

Para o mundo

A história de Ariano Suassuna começa na Paraíba e se desenrola em Pernambuco, onde, morando em Recife, conheceu e se casou com Dona Zélia, com quem teve seis filhos, 15 netos e — até o momento — 11 bisnetos. Considerado um dos maiores intelectuais brasileiros, ele idealizou o Movimento Armorial e escreveu obras como Auto da Compadecida (1955) e Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971).

Durante toda a sua vida, ele chamou a atenção para a literatura de cordel, os trovadores e repentistas, as artes visuais, o artesanato e a música do Nordeste do Brasil. Como defensor contundente da cultura dessa região, a produção literária de Ariano engloba poesia, teatro e romances. Suas obras foram traduzidas para inglês, francês, espanhol, alemão, holandês, italiano e polonês.

Citando o escritor russo Liev Tolstói, a quem Ariano sempre fazia referência, João Suassuna diz que a aldeia que o avô pintou, ao longo de toda sua vida, foi a Paraíba, Pernambuco, o Nordeste e o Brasil. “Assim, ele acabou pintado o mundo, e a sua obra se tornou universal e atemporal”, avalia.

Itinerante

Depois de João Pessoa, a exposição seguirá para Recife, onde Ariano formou a sua família. Em seguida, conquistará outras praças. “Temos a intenção de rodar o Brasil. Também já recebemos convites para fora do país. É um evento que vai além do entretenimento, por meio do qual vamos levar adiante a chama imortal de Ariano, que nos inspira, impulsiona e encanta”, enfatiza João Suassuna.

O Luzzco fica na Rua Severino Garcia Galvão, 161, Altiplano. As sessões acontecem de quarta-feira a domingo, das 14h às 21h. Ingressos entre R$ 35 e R$ 70, que podem ser adquiridos no local ou no site Outgo. As sessões duram uma hora e meia, sendo realizadas seis por dia. A exposição é recomendada para maiores de 10 anos.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 14 de abril de 2024.