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Improvisação dá o tom em espetáculo na UFPB

publicado: 09/09/2025 08h35, última modificação: 09/09/2025 08h35
“Esperando Haroldo” tem primeira de três apresentações hoje, no Abacatão
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O encenador Everaldo Vasconcelos é professor da disciplina da qual se origina “Esperando Haroldo”, criado pelos estudantes | Foto: Carlos Rodrigo

por Esmejoano Lincol*

Esperando Godot, clássico da dramaturgia ocidental escrito por Samuel Beckett, põe dois personagens em cena dialogando sobre o imponderável. Já Harold, técnica teatral criada nos anos 1980, tenta manejar esse imprevisível, também no âmbito dos palcos. Os cursos de licenciatura e de bacharelado em Teatro da UFPB apresentam um espetáculo de improvisação que mantém essas duas referências: Esperando Haroldo, ganha três sessões neste mês — a primeira amanhã e as seguintes nos dias 17 e 24, às 17h15, na sala 15 do prédio do Departamento de Artes Cênicas (conhecido como Abacatão). A entrada é franca.

O elenco da peça é composto por alunos do primeiro período das graduações em Teatro e este exercício, por sua vez, faz parte da disciplina de Improvisação Teatral, sob responsabilidade dos professores Elias de Lima e Everaldo Vasconcelos. Os jogos propostos têm duração variada — dos mais longos, em equipe, aos mais curtos, individuais.

“Sutilmente, faremos referência ao teatro do absurdo de Ionesco, com A Cantora Careca. Porém, não há em Esperando Haroldo nenhuma cena deste ou de Beckett; isso ficou apenas no nível dos títulos como essa forma de aludir ao que virá pela frente. Fazer teatro é sempre um modo de entrarmos em contato com a riqueza da arte como um todo”, informa Everaldo.

Cada sessão terá, em média, 35 minutos de duração e também contará com a participação de estudantes de períodos mais à frente. O maior desafio para os discentes, segundo Everaldo, é executar esse jogos logo no primeiro semestre da faculdade — e esse encontro com o público desponta como essencial para os atores em formação.

“Os alunos e alunas resolveram abrasileirar, agora, para ‘Haroldo’, mas essa forma longa chamada Harold foi criada em 1967 pelos professores Del Close e Charna Halpern, da Califórnia, e se popularizou entre os praticantes da improvisação teatral. No Brasil, há grupos especializados nesse tipo de espetáculo como Os Barbixas”, detalha.

Apesar de parecer “caótico”, o improviso teatral é alicerçado em técnicas sistemáticas de condução dos jogos de cena, assinala Everaldo. As aplicações vão além dos espetáculos: ele ainda oferece treinamento básico para artistas e pode ser utilizado, complementarmente, em práticas terapêuticas.

“É um exercício de foco, visualização e memória e uma poderosa forma de análise ativa de cenas. Para o público, parece que tudo apareceu de surpresa naquele instante. E essa é a beleza dessa técnica, a sua leveza e espontaneidade. O exercício aperfeiçoa as capacidades de um elenco e traz mais naturalidade”, descreve. 

Everaldo Vasconcelos diz, por fim, que determinadas experiências só podem ser apreendidas, de fato, com a práxis, tendo, como testemunhas, a quem este e outros espetáculos se destinam: os espectadores.

“Isso é algo que precisa ser vivenciado para que se tome consciência de como funciona o fenômeno da presença e da relação de cumplicidade que se estabelece entre os artistas e o público. É importante também que se interaja com pessoas que não são os nossos colegas do dia a dia, pois isso potencializa a consciência de se estar palco”, conclui.  

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 9 de setembro de 2025.