Foi publicado no início deste mês, no Diário Oficial do Estado (DOE), o edital do Prêmio Viva o Circo, promovido pelo Governo do Estado da Paraíba, através da Secretaria de Estado da Cultura (Secult): neste ano, a iniciativa pretende bonificar 35 circos itinerantes tradicionais da Paraíba, com investimentos na ordem de R$ 57 mil para cada proposta, a partir de recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (Pnab); neste ano, o orçamento total é de R$ 2 milhões. As inscrições para esta edição do Viva o Circo seguem abertas até o próximo dia 24, com preenchimento de formulário na Plataforma Prosas.
As 35 vagas previstas no edital serão distribuídas proporcionalmente entre as 12 regionais de cultura da Paraíba, que agrupam municípios circunvizinhos. Também estão descritas ações afirmativas para os projetos submetidos ao edital, que serão revertidas em cotas para pessoas pretas e pardas, indígenas e/ou com deficiência. Ainda haverá pontuação específica para os proponentes que se enquadrem em dos seguintes critérios: mulheres; pessoas LGBTQIAPN+; pessoas idosas; pessoas em situação de rua; indivíduos que fazem parte de povos ou de comunidades tradicionais.
Durante o processo de análise pela comissão de seleção, os circos serão avaliados em seis pontos distintos para os quais serão atribuídas notas com pesos igualmente diferentes: atuação profissional comprovada do autor da proposta em circos tradicionais paraibanos; atuação profissional comprovada no estado há pelo menos dois anos; origem local do circo – necessariamente na Paraíba; relevância da trajetória do circo; utilização de itens obrigatórios de segurança para os artistas, como redes e capacetes; participação dos circos em festivais e demais eventos públicos. O resultado final deve ser divulgado no dia 11 de setembro.
Selecionadas as propostas, os responsáveis pelos projetos deverão assinar o Termo de Premiação Cultural até o dia 16 de setembro, crucial para o recebimento do prêmio – pago em parcela única através do Fundo de Incentivo à Cultura Augusto dos Anjos. Caso não assine, o proponente será desclassificado, assim como também haverá desclassificação caso haja descumprimento de algum dos itens do edital; projetos suplentes assumirão vagas remanescentes.
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Retorno garantido
De acordo com Josemberg Pereira, gerente executivo de fomento e economia criativa da Secult, a participação dos artistas locais na elaboração do edital foi um fator importante na constituição do documento que orienta o prêmio Viva o Circo. “Sabemos ser crucial a valorização de expressões significativas para a cultura paraibana através das linguagens que compõem nossa cultura, como no caso do circo”, salienta.
O gerente também detalha que o investimento destinado aos circos eleitos pelo edital retornará ao estado de forma direta e indireta, a partir do aproveitamento desse dinheiro na estrutura de cada circo. “Por meio da aquisição de bens e de serviços, em produtos cuja origem é o nosso próprio estado, conseguimos alavancar ainda mais a estrutura física deles. E cada unidade poderá ofertar espetáculos de qualidade superior aos seus espectadores”, explica Josemberg.
O secretário de estado da Cultura, Pedro Santos, arremata que a Pnab tem se mostrado atenta e plural a outras formas de expressão artísticas e às necessidades de cada setor, como no caso do Prêmio Viva o Circo. “Vamos nos esforçar para investir em todos os segmentos da cultura paraibana. É uma honra para a gente perceber a quantidade de públicos que estamos alcançando nesses diferentes editais”, declarou o gestor.
Diálogos com o circo
O prêmio é celebrado por artistas e proprietários de circos tradicionais de nosso estado. Isabel Fragoso, dona do Circo do Palhaço Ditinho, na capital, fala da importância desse recurso para espaços de pequeno porte, como este, gerido por ela. “Os reparos precisam ser feitos a cada ano. Ao mesmo tempo, estamos vivendo numa época muito difícil para a arte circense. Não podemos deixá-la morrer”, frisa a empresária. Carlos Pipoquinha, palhaço do Circo Fantasia, também de João Pessoa, afirma que os recursos ajudarão na luta diária dos colegas – muitos deles, em atividade há muitas décadas. “Do circo saem muitos artistas – atores, cantores. E todos nós sentimos muito orgulho de dizer que corre sangue circense em nossas veias. Estamos na luta”, argumenta.
Para Walter Olivério, artista circense e membro do Fórum de Circo da Paraíba, o edital chega “carregado de muita esperança” para os artistas de nosso estado. Segundo ele, os recursos serão necessários para manutenção em lonas, gradis, equipamentos de som e iluminação e trailers, além de servir para colocar em dia a folha de pagamento dos trabalhadores. “Todos com quem tenho dialogado têm asseverado que pretendem investir diretamente no circo, que é sua casa e seu trabalho, melhorando ainda o atendimento à população”, pontuou.
Walter detalha que a minuta prévia do edital foi compartilhada entre artistas e empresários paraibanos, que puderam sugerir pontos que deveriam ser suprimidos ou abordados no documento. Uma reunião on-line com representantes circenses arrematou essas questões antes de o edital ser publicado no DOE, no último dia 5. “Foi um processo democrático, leve e acessível. A expectativa é a melhor possível. Que consigamos ter espetáculos e estruturas cada vez melhores e que os artistas possam estar mais seguros dentro do templo sagrado do circo”, finalizou Walter.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 16 de julho de 2024.