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Mesmo após os festejos juninos, bandas como Os Gonzagas mantêm crescimento nas plataformas de música

Indústria fonográfica: Girando em torno dos ‘streamings’

publicado: 05/07/2022 09h28, última modificação: 05/07/2022 09h28
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Foto: Maximiliano Brito

por Joel Cavalcanti*

Você está por dentro de quais são as bandas paraibanas mais ouvidas no momento? Com o fim dos festejos juninos, é possível afirmar que os lançamentos musicais realizados em virtude das comemorações tradicionais no Nordeste ainda possuem impacto no mercado fonográfico. Um exemplo é a banda paraibana Os Gonzagas. Desde o lançamento, há dois meses, do álbum Nós, o quarto em 10 anos de carreira, o grupo vem expandindo seu público e já figura como a quarta banda paraibana mais ouvida da atualidade nas plataformas de música online. Só no mês de junho foram mais de 70 mil ouvintes únicos no Spotify, o maior número já atingido pela banda de forró.

O crescimento foi impulsionado pelo mais recente disco, que conta com as parcerias de Chico César e Santanna, O Cantador, duas referências na música nordestina que ajudam a posicionar a relevância que Os Gonzagas atingiram em sua história. Shows como o que lotou o Parque do Povo, em Campina Grande, no dia de São João, também contribuíram para que a banda figurasse no ranking liderado por Magníficos, Seu Pereira e Coletivo 401 e Cidade Viva Music.

Segundo os dados estatísticos do Spotify, a quantidade de plays nas músicas d’Os Gonzagas supera o número observado em 2015, quando eles chegaram à semifinal do programa Superstar, da Rede Globo. Sete anos depois, a consideração mais relevante é que o pico atual com mais de 10 mil execuções em um único dia foi alcançado com músicas autorais, diferente do que foi realizado no programa de televisão de grande audiência.

“A indústria fonográfica agora gira em torno de streamings. As outras formas de se ouvir música gravada são insignificantes perto das plataformas. Essa é a forma que temos de chegar perto das pessoas. É uma luta de anos, produzindo e lançando material”, explica o músico pessoense Yuri Gonzaga. Para o sanfoneiro, compositor e vocalista do grupo, o divisor de águas foi quando a banda conseguiu entrar para as playlists, tanto as editadas por curadores das plataformas de áudio quanto pelos usuários individuais que acabam influenciando outras pessoas conectadas em rede. “Eles percebem a relevância do nosso trabalho e isso vai favorecendo o algoritmo do Spotify, que passa a sugerir mais as nossas músicas para que o público venha a nos conhecer. É como um ciclo que se retroalimenta”, considera Yuri.

Seguindo uma receita que homenageia a tradição do ritmo nordestino enquanto atualiza a sua própria estética visual e sonora, Os Gonzagas conseguiram produzir, ainda que de forma autônoma, estudos que analisaram com precisão o mercado da música para definir os melhores momentos para o lançamento de singles, as escolhas de parcerias com outros artistas e como utilizar as ferramentas virtuais para favorecer a divulgação da banda. “Tudo isso vai se agrupando para que os números aconteçam e eles demonstram que é possível fazer um trabalho relevante e significativo, sendo uma banda independente”, destaca Maria Kamila, vocalista em Os Gonzagas.

E encontrar um espaço que desperte o interesse entre os cerca de 420 milhões de usuários na plataforma com mais de uma dezena de milhões de criadores de conteúdo, não é uma tarefa fácil. Mas é nesse esforço que se define a continuidade da carreira de muitos artistas da música. “Isso é resultado de um amadurecimento construído nos últimos 10 anos, e isso se reflete no trabalho, nas sonoridades que se busca e nas referências, que vão cada vez mais se expandindo e, ao mesmo tempo, se afunilando dentro da proposta que produzimos”, acrescenta Maria Kamila.

A autenticidade com a qual a banda apresenta seu trabalho, que se verifica no investimento que realizam em poesia, em arranjos modernos e na elaboração das harmonias de suas músicas, demonstra, porém, que o grupo não procura fazer concessões aos hits instantâneos das redes sociais ou a vertentes que desfiguram o forró consagrado por nomes como Luiz Gonzaga, Marinês, Dominguinhos e Jackson do Pandeiro. “Acreditamos em uma sonoridade particular, com a poesia que a gente cria, em uma união entre letra, que passa uma mensagem, e música. Essa é a nossa verdade”, define Carlos Henrique, sanfoneiro e produtor d’Os Gonzagas. “Você pode estar dançando, mas ao mesmo tempo está ouvindo uma mensagem na música, uma poesia que fica, que cria uma identificação com as pessoas”, complementa ele.

Em meio a tanta diversidade da música brasileira e com tantas variantes que interferem na entrega ou não das canções produzidas pelas bandas paraibanas ao seu público em potencial, Os Gonzagas mantêm um olhar para fora (para o mercado e o funcionamento dos algoritmos das plataformas), e um olhar para dentro de si, para desenvolver ainda mais uma linguagem atual do forró. “Daqui para frente, pensar sempre em trazer novas músicas que trazem essa mensagem e continuar resgatando canções tradicionais com a nossa pegada. Vamos trabalhar ainda mais intensamente nisso para os próximos shows e para os próximos álbuns”, finaliza Carlos Henrique.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 5 de julho de 2022.