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Chico César

Inquietação musical aos 60 anos

publicado: 26/01/2024 08h59, última modificação: 26/01/2024 08h59
Artista paraibano celebra seu aniversário com apresentação no lendário Circo Voador, no Rio de Janeiro

por Audaci Junior*

De Catolé do Rocha, no Alto Sertão paraibano, para o mundo, ainda mais com as vestes alinhavadas de amor, em uma trajetória que vai desde protestos de barriga vazia nas dependências universitárias, passando pelo disco dedicado “aos vivos” e chegando a atravessar o Atlântico para gravar nas sempre charmosas terras francesas e ter projeto reconhecido com uma indicação do Grammy.

Hoje, Chico César celebra os seus 60 anos de vida no palco do Circo Voador, no Rio de Janeiro. Na abertura, mais um pé na Paraíba: a banda Seu Pereira e Coletivo 401 fará coro no sotaque nordestino. No show, além de músicas como ‘Mama África’, ‘Pensar em Você’ e ‘À primeira vista’, canções do seu décimo álbum de estúdio, Vestido de Amor.

“Eu me sinto muito feliz de chegar aos 60 com muita potência, inquieto, como quando eu tinha 20”, declarou o cantor e compositor. “Sinto que os petardos artísticos que eu criava aos 20 não repercutiam. Repercutiam num círculo muito pequeno. Isso, de algum modo, me angustiava. E agora sinto que essa minha inquietação musical tem tido respostas às vezes muito imediatas, às vezes de coisas que eu já fiz faz muito tempo, como foi o ‘Deus Me Proteja’, trazido de volta por Juliete no BBB, e outras que são mais imediatas, como agora essa música ‘Do Acaso’, em parceria com Ronaldo Bastos, que fizemos há uns dois anos, foi ao Grammy e, agora, está na novela Renascer”.

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Chico César estreia uma nova turnê em março, ao lado do parceiro de composições Zeca Baleiro; antes, ele estará animando o bloco das Muriçocas do Miramar, em João Pessoa, no próximo dia 7 de fevereiro - Foto: José de Holanda/Divulgação

No alto da sua meia dúzia de décadas vividas, Chico César destaca dois momentos marcantes da sua carreira artística. “Acho que a gravação do Aos Vivos define a minha vida, separa o antes e o depois. Tem o antes do Aos Vivos e o depois do Aos Vivos. Não vamos ficar apenas no momento da gravação, mas do ano inteiro que eu passei esperando a gravadora se decidir para lançar ou não lançar, e, finalmente, lançar”, contou o paraibano, que teve esse seu primeiro disco lançado originalmente em 1995, em CD, e relançado recentemente, no final do ano passado, em formato de LP, um sonho antigo do músico, que teve de buscar os CDs de metrô, lá no Tatuapé (SP), saindo para vender no mesmo dia, para um bancário, que encomendou 10 discos. “Então, ali eu comecei a mudar, no sentido de: bom, é isso que será agora a minha vida, fazer músicas, gravar discos, vender discos e fazer shows a partir desses discos”.

O segundo momento é quando ele estava tranquilamente no Studio Mosh, na Barra Funda (SP), e Maria Bethânia estava gravando ao lado. Quando a cantora baiana soube que o paraibano era seu vizinho de estúdio, pediu para que César a procurasse, pois queria ter alguns dedos de prosa com ele. “Quando eu estava voltando do almoço, ela estava no saguão, me recebeu, me abraçou, estendeu as mãos e tivemos uma longa conversa, bastante esclarecedora sobre o fazer música no Brasil”, relembrou Chico. “Ela me disse coisas lindas, como: Olha, seja muito bem-vindo a MPB, a música brasileira é a sua casa. Não é nenhum favor lhe receber, você tem merecimento. Isso foi muito lindo. Ali, ela me pediu músicas para gravar e eu mandei cinco para ela, que acabou gravando ‘Onde Estará o Meu Amor’ e ‘Invocação’. Isso, para mim, foi um sentimento de estar no caminho certo, de estar diante de uma das minhas maiores referências e ela falar coisas assim, tão profundas”.

Se fosse para definir a profissão de Chico César, ele tem a resposta prontamente: “O artista é um entertainer. Nós trabalhamos na área do entretenimento. É isso que nós fazemos e eu digo isso com muito orgulho. Eu sou um entertainer, assim como era Charles Chaplin, assim como era Luiz Gonzaga, assim como é Bob Dylan, assim como era Victor Jara. Cada artista tem o modo de escrever sobre os seus assuntos e, ao entreter, ele pode também levar reflexões, mensagens. Eu sou desses. Eu gosto de, mesmo quando falo de amor, tentar lançar faíscas de reflexão de como pode ser o amor”, explicou ele.

Nova turnê

Para quem acha que as “celebrações” param no palco do lendário Circo Voador, na Lapa carioca, há um indicativo de que o entertainer César comemore suas primaveras por aqui, pela Paraíba: No dia 8 de março, Curitiba (PR) será a testemunha ocular e auricular da estreia da turnê Ao Arrepio da Lei, que marca o encontro da parceria de mais de três décadas entre Chico César e o Zeca Baleiro.

Assim como rodou o Brasil ao lado do pernambucano Geraldo Azevedo com Violivoz, o novo show ao lado do maranhense trará uma nova safra de mais de 20 canções que resultará também em um álbum. Em 2021, a dupla tinha antecipado duas composições do projeto, ‘Respira’ e ‘Lovers’. Já estão confirmadas apresentações em Florianópolis (SC) e Porto Alegre (RS).

Antes de uma possível vinda de Ao Arrepio da Lei, o próprio Chico César será protagonista de outra festa, dessa vez a carnavalesca. Ele vai animar o bloco das Muriçocas do Miramar, em João Pessoa, no próximo dia 7 de fevereiro.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 26 de janeiro de 2024.