“Rio das onças”. O significado por trás da palavra “Jaguaribe” distancia os pessoenses de sua origem indígena, mas não aparta esses mesmos habitantes da importância desse bairro para a cultura da capital paraibana. Com o objetivo de asseverar a importância da territorialidade na construção da arte, a Jaguaribe Mostra de Cinema Documental, promoverá, a partir de amanhã, em João Pessoa, uma programação gratuita com oficinas e exibição de filmes, incluindo três do realizador Vladimir Carvalho. O evento ocorrerá no Cine Aruanda, campus 1 da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A grade oficial abrirá às 18h, com a projeção de curtas-metragens de diretores locais.
Também amanhã, antes da abertura da mostra de cinema, será ministrada uma oficina audiovisual pela realizadora Iasmin Soares – a partir das 14h, na Escola Técnica de Artes, no Varadouro. De volta ao Cine Aruanda da UFPB, a mostra projetará o documentário Pedro Osmar – Pra Liberdade que Se Conquista, de Eduardo Consonni e Rodrigo T. Marques. Neste filme, lançado em 2016, o mítico artista criador (ao lado de seu irmão Paulo Ró) do duo Jaguaribe Carne, registra o seu cotidiano com uma câmera em primeira pessoa. A sessão está marcada para as 20h.
Na quinta-feira, dia 13, a grade será retomada com o bate-papo “Territorialidade e processos criativos”, mediado pela realizadora Ana Bárbara Ramos. O encontro está marcado para as 16h. Logo depois, uma nova sessão de curtas, às 18h.
Fechando a programação, a seleção de três filmes documentais dirigidos pelo paraibano Vladimir Carvalho: Os Romeiros da Guia (1962), seu primeiro trabalho, ao lado de João Ramiro Mello, rodado no santuário em Lucena; Vila Boa de Goyaz (1973), uma digressão pelo interior do Centro-Oeste; e Quilombo (1975), sobre o cotidiano dos descendentes de escravizados, também em Goiás.
A Jaguaribe Mostra de Cinema Documental conta com o suporte do Governo do Estado e do Centro Técnico Audiovisual (CTAv) do Ministério da Cultura (MinC). A curadora Martina Nobre assevera que, depois dessa primeira edição, a sua intenção é fixar o evento no calendário de festivais audiovisuais de João Pessoa.
“Acredito que o bairro Jaguaribe traz essa construção tanto territorial, quanto cultural, esses símbolos mesmo que formam uma noção do que é João Pessoa. Esse documentário de Pedro Osmar indica como, por exemplo, alguém pode carregar tanto os símbolos de cultura e de resistência”, sustenta.
Os documentários da quinta-feira serão exibidos a partir de cópias restauradas pelo CTAv. Essas projeções também tiveram o apoio de Walter Carvalho, fotógrafo e diretor de cinema que tem ajudado a manter o legado do irmão, Vladimir. Os títulos foram escolhidos com base na circulação menor desses trabalhos.
“A seleção também é orientada pela nossa temática, a territorialidade. Vladimir filma comunidades que não são exatamente as dele. E isso pode ser uma coisa muito perigosa, mas que não é perigosa no cinema do Vladimir, porque ele tem um cinema humano e um olhar muito respeitoso sobre elas”, conclui.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 11 de novembro de 2025.

