por Guilherme Cabral*
“Estou feliz. A atitude do governador foi muito inteligente, sensível e humanitária. A arte é a vida do artista, não tem preço e o salário moral é poder ver a obra ser novamente apreciada pela população”, confessou o artista plástico Marcos Pinto de Morais, referindo-se à iniciativa do governador da Paraíba, João Azevêdo, de lhe oferecer o Parque Parahyba III, situado no bairro do Bessa, na cidade de João Pessoa, para a instalação da escultura Aves de Arribação, que em 2016 foi removida da antiga rotatória da Avenida Beira Rio, na capital, por causa de mudanças na malha viária. Depois de passar por um processo de recuperação, a obra já se encontra no novo local e a previsão é de que a inauguração seja realizada até o final deste mês de março.
O artista paraibano também demonstrou satisfação por sua escultura estar em um novo ponto da cidade. “É muito melhor por causa da localização e da valorização do ambiente, que inclui a jardinagem e onde tudo é de muito bom gosto”, disse Marcos Pinto de Morais, acrescentando que ainda faltam ser instalados 21 refletores para a iluminação da Aves de Arribação. Ele ainda informou que o trabalho de instalação da obra foi concluído na última sexta-feira (dia 25), depois de serviços de restauração realizados no próprio atelier do artista e que duraram dois meses.
“Fiz vários apelos, através da internet, pela recuperação da escultura, que estava jogada, abandonada de propósito no quintal da Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) da Prefeitura de João Pessoa há vários anos, desde a gestão do então prefeito Luciano Cartaxo, que retirou a obra. O governador João Azevêdo ficou sabendo do meu apelo e me ligou para sugerir a instalação da escultura no Parque Parahyba III e eu aceitei. Aí o prefeito Cícero Lucena, a quem também sou muito grato, mandou deixá-la em meu atelier transportada em dois guindastes”, relatou Marcos Pinto.
O governador João Azevêdo postou, nas redes sociais, a seguinte mensagem: “Pronto, devolvida à cidade a sua obra. Correção de uma injustiça cometida contra as artes, contra o artista e contra a cidade que tinha nas Aves de Arribação uma referência. Mas tudo a seu tempo mesmo. Melhor instalada, mais bela e reescrevendo o seu. A obra está instalada no Parque Parahyba III, no Bessa. Ao artista Marcos Pinto de Morais, um forte abraço e que Deus o abençoe”.
Processo de restauração
A obra mede, de um arco para outro, 14 metros de largura por sete metros de altura e cada um dos quatro pássaros que a integram pesa 1.200 quilos. A base onde foi colocada no novo local tem formato de um quadrado que mede 14 metros e 1,5 metro de altura. O artista começou a restauração da obra, que é feita de fibra de vidro e preenchida com concreto, pela parte interna. “A escultura poderia ter sido removida inteira, naquela época, mas ela foi trucidada. Depois, fiz uma forma para remoldar todos os quatro pássaros e o arco. E levou um mês para instalar no local, pois foi preciso construir a base”, detalhou o criador.
“Essa é uma obra da paz e não tenho raiva de ninguém”, afirmou Marcos Pinto de Morais, referindo-se à escultura. Nas redes sociais, ele já havia divulgado que Aves de Arribação” é e sempre vai ser uma obra da paz e pela paz. O meu coração não tem lugar para a dor e nem para a lágrima. Nele só há espaço para a alegria e a felicidade que, por causa do seu ato, agora estão em outro ninho. Pousaram com fé e esperança e que essas aves sejam sempre um instrumento de amor”.
E continuou com os agradecimentos: “Gratidão a Deus, por me mostrar que não era no meu tempo, mas no tempo de Deus. Gratidão a Deus por me mostrar que sou cada vez mais um instrumento em suas mãos sagradas. Gratidão ao Grupo Holanda, que comprou e doou essa escultura Aves de Arribação à cidade de João Pessoa. Gratidão ao Prefeito Luciano Agra, in memoriam, que apoiou e deu toda infraestrutura para que ela fosse colocada no Girador do final da Av. Beira-Rio. Gratidão ao prefeito Luciano Cartaxo por ter retirado essa obra da pior maneira possível e ter deixado abandonada de propósito, no quintal da Seinfra Municipal. Gratidão e todo o meu carinho porque, com seu gesto devassador, me mostrou que ‘a força nunca conseguirá fazer comigo o que a força sempre faz’ e me mostrou também que, apesar de todo ódio depositado nessa escultura, a transformou diante de uma população estarrecida num símbolo cada vez mais da paz”, finalizou o escultor paraibano.
Quando a construtora Holanda encomendou a ele a escultura para dar de presente à cidade, há alguns anos, a empresa queria algo que significasse aquele local. “Comecei a ver que as pessoas giravam, subiam para o Altiplano Cabo Branco como se fossem aves procurando moradia e alimentação e esse foi o conceito que me levou a produzir a obra”, comparou Marcos Pinto.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 03 de março de 2022