No que consiste a memória de um jornal? Poderíamos falar do maquinário ou da hemeroteca que compõe o arquivo do jornal, que, no caso de A União, dispõe de cerca de 30 mil exemplares. Mas parte fundamental da memória desse jornal não é feita de metal ou de celulose, mas de organismos vivos – os repórteres, colunistas, editores, fotógrafos, secretários de redação e outros profissionais do ofício da comunicação. O projeto Memórias A União traz semanalmente para o canal do jornal no YouTube entrevistas com esses personagens. E uma versão em livro será lançada na próxima terça, às 18h, na Livraria A União, no Espaço Cultural, junto com a Coleção Paraíba na Literatura V, no evento Noite da Literatura Paraibana.
O livro Memórias A União reune, em texto resumido, parte das histórias que passamos a conhecer através das postagens no canal TV A União a cada domingo. O material do livro também utiliza como base a versão impressa dessas entrevistas, publicadas na edição dominical do jornal. A organização dos textos é de responsabilidade de Luiz Carlos Sousa, apresentador do segmento no YouTube.
O jornalista, que também é editor do caderno Políticas do jornal, optou por reunir as entrevistas que compõem a primeira etapa do programa. O projeto estreou em 2 de fevereiro de 2023, trazendo neste início uma conversa histórica com o jornalista Gonzaga Rodrigues, decano na redação de A União, ainda colunista. Mais de 60 vídeos do projeto já foram postados.
Quem encerrou a primeira fase do Memórias foi o próprio Luiz Carlos, em entrevista para o colega Jorge Rezende. Ao todo, 32 das figuras importantes para o jornal foram sabatinadas: além de Luiz Carlos e Gonzaga, Carlos Vieira, Etiênio Campos de Araújo, Deoclécio Moura Filho, Zélio Marques, Baby Neves, Ramalho Leite, Gilvan de Brito, Alarico Correia Neto, Fernando Melo, Werneck Barreto, Valderez Barbosa, Rubens Nóbrega, Frutuoso Chaves, Cleane Costa, Rui Leitão, Chico Pinto, Tião Lucena, Sérgio de Castro Pinto, Wellington Farias, José Euflávio, Geraldo Varela, Geovaldo Carvalho, Agnaldo Almeida, Antônio Costa, José Juvêncio, Josinaldo Malaquias, Paulo Sérgio, Maria do Socorro, Alexandre Luna Freire e Gisa Veiga.
Entrevistas emocionantes
Luiz Carlos Sousa – Lula, para os amigos e colegas –, relembra que o Memórias foi concebido em construção coletiva pela equipe do jornal, com consultoria inicial de Alarico Correia Neto. Mas, o convite para apresentar o segmento do YouTube partiu do então gerente executivo de mídia impressa, André Cananéa. “Ele me informou do que se tratava e lhe disse que não era um profissional de vídeo. Tive receio. Mas ele contou que Naná Garcez (presidente da EPC) havia sugerido meu nome. Topei e o projeto deu certo”, relata.
O próprio Luiz Carlos também tem histórias para contar. Tendo estado em uma das primeiras turmas do curso de Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Lula foi pioneiro a exercer a profissão enquanto diplomado na redação de A União – somando hoje 44 anos de profissão, com passagens por diversos veículos locais e uma colaboração internacional no jornal Real News. “Eu não pensava em ser jornalista. Estudava música, que ainda é uma paixão em minha vida. Amigos me levaram para A União por causa do gosto pelo português. Foi aqui onde vivi as primeiras e algumas das mais importantes experiências com a informação”, evoca o editor.
O leitor de Memórias poderá conhecer ou relembrar “causos” engraçados, como o fato de o ex-repórter Frutuoso Chaves ser chamado de “catador de milho”, pelo jeito sem pressa com que digitava a máquina de escrever, e histórias emocionantes, como quando Gonzaga Rodrigues foi nomeado secretário de redação de A União, na década de 1950, aplaudido naquele instante pelos colegas de redação Malaquias Batista, Dorgival Terceiro Neto, Wilson Madruga e Wellington Aguiar. Segundo o próprio Gonzaga, este foi um momento mais emocionante do que aquele em que recebeu o título de doutor honoris causa (pela UFPB, em 2009).
Agnaldo Almeida citou fatos históricos locais retratados pela A União, como a tragédia do assassinato de João Pessoa. Outra curiosidade relembrada pelo jornalista foi a repercussão da manchete “Botafogo vence o Maracanã”, após a vitória do time paraibano contra o Flamengo, em 1980, no Rio. “Houve o seguinte comentário. ‘Essa A União é engraçada. O Botafogo jogou contra o Flamengo, não contra o Maracanã’”, rememora Agnaldo em Memórias.
Se depender das histórias que A União tem para contar, não faltarão postagens no perfil do jornal no YouTube, nem em possíveis próximas edições da série impressa. O subtítulo do livro – Volume 1 – indica que uma segunda parte do Memórias pode vir em breve. “Ainda não comecei a preparar um segundo volume, mas acredito que ele será editado. Todo o material está pronto para mais uma edição”, projeta Luiz Carlos Sousa.
Precisamos conhecer
Para William Costa, gerente de Mídia Impressa da EPC, o projeto Memórias nasceu de um sintoma importante dentro do campo do jornalismo e das comunicações: ainda que A União permaneça sendo impresso e distribuído em formato físico, a notícia que circula neste e em outros veículos está universalmente em meio digital. “Para levar essas histórias a um público maior – por serem tão importantes não só para o jornal, como para a história do jornalismo paraibano – impossível não lançar mãos de outros suportes, como o livro e as redes sociais”, justifica.
O Memórias, segundo William, guarda outro tipo de importância vital para o veículo da EPC: a possibilidade de os profissionais prestarem tributo a si mesmos e a seus colegas. “A história é feita por pessoas e o jornalismo, claro, também é produto da ação humana. É justo, portanto, que as pessoas que dão vida à indústria e comércio das comunicações tenham a oportunidade de revelar, para a sociedade, a crônica de seus dias, no campo profissional”, finaliza o gerente.
Literatura paraibana
Lançamento também da próxima terça-feira, o livro Paraíba na Literatura V dá seguimento a uma série de catálogos com textos de autores paraibanos sobre outros escritores locais. A obra foi organizada pela equipe da Editora A União e traz histórias de nomes consolidados, como o jornalista Ramalho Leite e o crítico João Batista de Brito, e de jovens autores da Paraíba, como Débora Gil Pantaleão e Tiago Germano. O livro conta com um texto de apresentação do governador João Azevêdo.