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Jornalistas paraibanos lançam livros que abordam o universo do futebol

publicado: 15/06/2016 00h05, última modificação: 15/06/2016 01h00
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Professor e pesquisador Edônio Alves lançou “A Esfera como Metáfora: Representações do Futebol no Campo da Literatura” - Foto: Edson Matos

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Linaldo Guedes

O futebol brasileiro já não encanta mais como antes. Desde a derrota de 7 a 1 para a Alemanha na última Copa do Mundo que nosso futebol vem tentando refazer sua história e voltar a brilhar nos gramados como manda a tradição de um país pentacampeão do mundo. Fora de campo, no entanto, escritores e jornalistas vem marcando golaços com a produção de livros onde o futebol ocupa lugar de destaque, com dribles narrativos e muito talento. No caso da Paraíba, dois nomes se destacam: o poeta, escritor e professor Edônio Alves e o jornalista Phelipe Caldas.

Edônio Alves lançou, recentemente, “A Esfera como Metáfora: Representações do Futebol no Campo da Literatura”. A obra é uma pesquisa que visa mapear e analisar a transição do tema do futebol do jornalismo para a literatura em todo o Brasil, no gênero conto de ficção. A ideia foi dar uma visão geral do futebol brasileiro através da lente da ficção, tomando como ponte os autores (jornalistas e escritores) que tematizaram este esporte nas suas obras e ao mesmo tempo analisar a partir de que enfoque estes autores glosaram este tema em suas obras. “Estudamos quase cem autores e mais de quatrocentas narrativas sobre o futebol no conto brasileiro de ficção. O resultado disso está no livro”.

Edônio afirma que como é jornalista de formação, não viu muita dificuldade em trabalhar academicamente sobre o tema. “Claro que apliquei o rigor e a metodologia acadêmica na obra, mas o texto que escrevi teve como resultado final uma abordagem bastante acessível ao leitor comum”, explica.

Edônio também atua no jornalismo esportivo e escreve sobre o esporte em blogues. Ele considera tais atividades gratificantes e prazerosas. “Com ela, consigo exercer o meu lado lúdico com a linguagem, assim como o jogador de futebol faz com a bola. E como também sou poeta, consigo enxergar o futebol com toda a sua poeticidade característica e isso me desafia muito como jornalista e escritor. É o tipo de trabalho que dá um prazer imenso. Me sinto como uma criança jogando bola quando estou escrevendo sobre futebol”, acrescenta.

Para ele, a produção literária sobre futebol no País hoje está crescendo muito, tanto em quantidade quanto em qualidade. “Parece que os escritores brasileiros finalmente acordaram para um tema muito caro à cultura brasileira; algo que até certo tempo atrás era menosprezado ou até desvalorizado como tema canônico da nossa literatura, digamos assim. Acho que isso trazia um certo traço de preconceito com as questões populares, algo muito arraigado na mentalidade da elite cultural brasileira. Como o futebol é o que os sociólogos chamam de um “fato social total”, isto é, está presente em todos os aspectos da nossa cultura, não haveria como fugir dele. A própria grandeza do tema e do fenômeno do futebol obrigou os escritores a tomá-lo como tema de suas obras, inevitavelmente, de modo que todo grande escritor brasileiro hoje tem algo escrito sobre futebol. Até a Clarice Lispector, que é uma escritora de uma subjetividade radical e tem uma literatura voltada pra dentro, já se rendeu aos encantos da bola. Por aí, se tira o resto”, comenta.

Phelipe Caldas deve lançar seu livro "Além do Futebol” no próximo mês de julhoJá o jornalista Phelipe Caldas vai lançar no próximo mês julho o livro “Além do Futebol: paixões, dores e memórias sobre um jogo de bola”, com crônicas sobre o esporte. São textos mais leves, com um tom mais emotivo, mais poético, por assim dizer. “O engraçado é que eu comecei a escrever estes textos sem ter a pretensão de colocá-los um dia em livro. Escrevia para liberar as tensões, para me emocionar, para viajar. Mas só quando eu recebi elogios de escritores já consagrados, como Sérgio de Castro Pinto e Hildeberto Barbosa Filho, é que eu levei realmente a sério esta ideia”, conta.

O livro é uma reunião de 71 crônicas. Histórias que giram em torno do futebol, mas em muitas vezes o futebol é só o cenário em que acontecem as histórias. Daí o nome “Além do Futebol”. “Existem crônicas ficcionais, outras autobiográficas, de momentos do passado com meus pais, por exemplo, e de momentos históricos do futebol. Foram textos que eu adorei escrever. Porque é um estilo completamente diferente do que eu costumo ter no jornalismo. Eu sempre me julguei muito formal, inclusive no texto jornalístico. Então nas crônicas eu tento ousar mais e me soltar mais. É um desafio gratificante que eu me dou”, afirma.

Phelipe tem um blogue, “Carrinho por trás”, onde escreve sobre futebol. O blogue tem o objetivo principal de denunciar o amadorismo do esporte paraibano e as lambanças dos cartolas. “É um tom direto, duro, crítico, que muitas vezes é visto até como agressivo, ainda que eu faça questão de respeitar as pessoas como pessoa física. Eu “ataco” a instituição, o cargo, não a pessoa. Mas esta separação é tênue, eu sei, e nem sempre é entendida. Esta linha editorial mais dura causa algumas situações engraçadas. Eu sou muito xingado no Twitter, por exemplo, por torcedores que não aceitam críticas ao seu clube do coração. E uma ou vez eu fui xingado em coro por um estádio cheio. O torcedor é aquela típica figura que acha que só eles próprios podem falar de seu time. É uma reação passional”, observa.

Phelipe diz que tem muitos livros de futebol sendo publicados. “Há tempos já ficou para trás aquela ideia de que o futebol é algo alienante. E estamos dando o devido valor a uma riqueza imaterial que também é nossa. A maioria destes livros são livros-reportagens, narrativas sobre momentos históricos, biografias, trabalhos acadêmicos, etc. Em relação a estes, a produção de livros de crônicas e de romances, penso, é proporcionalmente menor. Isto não é necessariamente algo ruim. É só uma impressão que tenho”, completa.

Sobre o futebol praticado pela seleção brasileira comandada por Dunga, os dois não demonstram otimismo. “Eu estou completamente entristecido com a Seleção. Dunga é incompetente como técnico, teimoso... mas, o que é pior, mal-educado com jornalistas e demais profissionais que acompanham o dia a dia da Seleção. É uma figura que não honra o cargo que ocupa. Não honra o cargo que um dia já foi de Telê Santana, por exemplo. Isto é triste. Isto se reflete no campo. A Seleção é pobre, pouco criativa, pouco inventiva. A Seleção hoje é irreconhecível”, comenta Phelipe. Edônio arremata: “Nós levamos uma goleada vergonhosa de 7 a 1 para a Alemanha numa Copa do Mundo realizada em nosso País e ainda não reagimos a isso. Não há um plano consistente para recuperarmos a qualidade perdida do nosso futebol e enquanto isso apenas nos iludimos com um 7 a 1 sobre o Haiti. Penso que essa vitória irônica e paródica às avessas contra o Haiti é a metáfora perfeita do que disse acima sobre esta nossa Seleção, que, não por acaso, é comandada por um empírico do futebol e não por um verdadeiro técnico e conhecedor da área”.