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Juca Pontes: um personagem de seu tempo

publicado: 11/04/2023 11h20, última modificação: 11/04/2023 11h20
Na despedida, amigos, profissionais e admiradores falam sobre o poeta, escritor, editor, jornalista e um dos mais importantes ativistas culturais da Paraíba
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Juca Pontes morreu aos 64 anos de idade, na madrugada do último domingo (dia 9), após sofrer um infarto fulminante; seu corpo será cremado hoje - Foto: Edson Matos
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No velório, na São João Batista, em João Pessoa, compareceram nomes como o jornalista e escritor Gonzaga Rodrigues, além de uma legião de amigos, colegas de trabalho, familiares e admiradores - Foto: Marcos Russo
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Gonzaga Rodrigues fez um depoimento emocionado no velório - Foto: Marcos Russo
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por Lucilene Meireles*

Os acordes tristonhos de um violino acompanharam o velório do poeta, jornalista e escritor Juca Pontes, que faleceu na madrugada do último domingo (dia 9), após sofrer um infarto fulminante, aos 64 anos. Amigos, colegas de trabalho, familiares, admiradores se reuniram em torno dele, na Central de Velórios São João Batista, em João Pessoa, para prestar a última homenagem. Foram abraços apertados, assim como os que ele costumava dar, lágrimas, comoção e tantos relatos sobre sua doçura e a vontade com que se doava a tudo que fazia. Juca deixa um legado imenso como profissional e, acima de tudo, como ser humano. O corpo será cremado hoje e suas cinzas jogadas na Ponta do Seixas.

“Meus sentimentos pela perda do poeta, jornalista e escritor Juca Pontes. Colaborador da nossa gestão, ele deixa também sua importante contribuição à Fundação Casa de José Américo (FCJA). Sua sensibilidade e talento com as palavras fizeram história na literatura paraibana”, publicou o governador João Azevêdo, em nota de pesar.

Presidente da FCJA e amigo de Juca Pontes, Fernando Moura traduziu sua tristeza em palavras. “O corpo segue, mas a alma fica em nossos corações. O jornalista parte, mas o poeta se fixa na alma. O amigo se encanta, mas o irmão permanece no sangue que alimenta a eternidade. Seu sorriso encobrirá o vazio escancarado com essa partida brusca”, lamentou.

Para o diretor executivo da Funjope, Marcus Alves, a morte de Juca Pontes deixa uma lacuna muito grande, não só no aspecto da literatura, da palavra e dos livros que ele cuidava e editava, mas pelo afeto e pelo carinho que tinha com as pessoas. “Ele sempre foi muito atencioso, afetuoso com adultos e com as crianças. Era um contador de história e apaixonado pela vida. Eu lamento muito. Perdi um grande amigo, um irmão, um companheiro atencioso, que cuidava dos nossos livros, das nossas edições. Juca era um encantado aqui, na Terra”.

Hélder Moura, escritor e membro da Academia Paraibana de Letras (APL), ressaltou que Juca Pontes foi mais que um amigo, camarada e um parceiro das letras: foi um irmão. Com ele, Juca partilhou, há algumas décadas, um companheirismo profissional e, mais recentemente, um projeto de amor à literatura – a confraria Sol das Letras –, uma ponte construída com a solidez de um ideal comum. “Acredito termos alcançado juntos a outra margem do rio. Conheci o Juca editor, o poeta e o amante das palavras. Conheci também o Juca amigo, pai e parceiro leal e genuíno em sua humanidade. Em todos, um homem íntegro em sua inteireza e alteridade. Juca, personagem de seu tempo. Foi uma perda imensurável e só nos resta o consolo de seu exemplo e sua obra que são notáveis, e todas as belas inscrições que ficam no muro de nossas memórias”, pontuou.

Pedro Santos, secretário de estado da Cultura (Secult-PB), disse que é difícil falar de Juca no passado. “Uma presença tão marcante, por isso uma ausência tão sentida. Foi um dos maiores agitadores culturais da Paraíba, um homem gentil e sereno, cheio de planos e ideias. Um humanista que deixa como legado uma fina produção literária e um método único, sensível e generoso, de pensar e produzir arte”, comentou ele.

Ser humano exemplar

O artista plástico Flávio Tavares ressaltou a tristeza imensa com a perda do amigo. “Estou estarrecido. É uma notícia que pegou todo mundo de surpresa. Vai fazer muita falta porque ele era um ser humano exemplar. Perdemos um homem bom, fina estampa, amigo de todos. Juca era um editor fora do comum, um diagramador fantástico. E tudo isso, diante da perda dele como pessoa, fica pequeno. É uma perda irreparável. Juca era uma paisagem que fazia parte do lado criativo da cidade. Agora, fica essa lacuna”, disse.

A professora doutora Ana Adelaide Peixoto afirmou não ter palavras para expressar sua dor. “Estou muito atordoada e sem acreditar que Juca se foi. Nos conhecemos há muitas décadas, mas só vim me aproximar de Juca nos últimos 10, 15 anos. Ele foi editor dos meus livros e sempre fui uma profunda admiradora do seu trabalho. Tive a honra de fazer o seu perfil no livro A Paraíba na Literatura IV, que a Editora A União publicou. Tive uma alegria imensa também de fazer a apresentação do livro dele, Flores do Meu Jardim. Era um poeta singular, simples e preciso”, analisou. “Juca tinha um abraço que não tinha espaço para mais nada. Ele teve o papel de prover e prestigiar a arte na cidade. Sempre amoroso. Era um agitador cultural, um fazedor de cultura e era poeta, uma coisa dificílima, para poucos. Era editor de excelência, o homem dos afetos. Uma perda irreparável para a cultura, as artes, a família, os amigos, mas me dá um certo conforto ao saber que ele só destilou amor nessa vida”, acrescentou.

A presidente da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), Naná Garcez, calculou que conhecia Juca há pelo menos três décadas. Nos últimos sete anos, tiveram uma convivência mais próxima em função do trabalho de edição, do trabalho na área de comunicação e de publicação. Ela lembrou que ele era dono de um talento imenso, era uma pessoa discreta, afável e muito criativa. Naná frisou que ele deixa uma contribuição valiosa no mundo da literatura enquanto escritor e editor. “Era uma pessoa que sabíamos ser uma referência. É uma partida que surpreendeu. Eu, particularmente, fiquei muito surpresa quando soube que ele tinha falecido. Fiquei espantada, muito chocada. Todo o trabalho dele já transcendia que ele é imortal. As poesias de Juca, a qualidade do trabalho editado por ele, a presença dele. Quem chegasse se sentia bem ao lado dele, acolhido. É aquela questão: o que fica é o que você faz”, afirmou a jornalista.

“Ele não morreu”

Políbio Alves que, assim como Juca, é escritor, contou que o conheceu em 1980 e acompanhou toda sua trajetória. “Ele não era um amigo, era um filho que eu adotei. Além de um grande homem, companheiro, era uma pessoa humana, que se colocava sempre no lugar do outro. Isso aprendi com ele. Acompanhei também a trajetória dele como jornalista”, disse ele, frisando que Juca sempre lhe mostrava seus trabalhos. “Nós conversávamos e eu dizia a minha opinião. Era uma pessoa muito séria, principalmente com a poesia. Juca não morreu. O legado dele vai ficar, a amizade, os livros que ele escreveu. Quero me lembrar de Juca vivo e ele está vivo no meu coração”, disse ele, bastante emocionado.

Para o jornalista Carlos César Ferreira Muniz, Juca Pontes deixa dois legados. O primeiro, na produção literária, não só individual, mas a coletiva, do apoio que ele deu a muita gente de todas as áreas da cultura. O segundo, é a expressão da lealdade, da amizade. “Juca era o símbolo completo da amizade, intenso no abraço, nos gestos. Sempre brincávamos com ele: ‘Lá vem Juquinha, dar meia-hora de abraço’. Era afetivo, sincero e verdadeiro. Esse era Juca. Por isso, vemos aqui essa legião de amigos, de fãs, família, gente de todas as áreas da cultura”, disse Muniz. “Foi um homem que deixa um legado muito grande, não só do ponto de vista profissional, e eu tive o privilégio de trabalhar com ele por mais de 30 anos, mas principalmente o legado humano, como pessoa, como pai, amigo. Ainda não é possível dimensionar o tamanho dele. Juca não é terráqueo, é de outra dimensão, não é daqui”.

Um dos depoimentos mais emocionados durante o velório foi o do jornalista, escritor e cronista Gonzaga Rodrigues que, em lágrimas, descreveu o amigo. “Juca é uma pessoa que jamais cuidou das coisas dele. Ele vivia intensamente. Dedicou a vida aos problemas dos outros, a cuidar do meu livro. Ele foi o mais efetivo servidor da cultura da Paraíba, cultura literária, plástica e artística. Não foi uma testemunha, foi um agente. Ele não era meu amigo, era meu irmão gêmeo. Mas, ele não morreu. Ele continua lá na lembrança da Paraíba cultural e por muito tempo”, declarou Gonzaga.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 11 de abril de 2023.