Mãe Bené acorda inquieta depois de um pesadelo e, ao voltar a si, pressente que sua guia espiritual, Mãe Flor, está em perigo: para proteger a anciã e salvaguardar a sua própria cultura, ela recorre, então, às tradições Jurema Sagrada. A sinopse do curta-metragem Axé, Meu Amor, do diretor paraibano Thiago Costa, propõe um mergulho no universo em que a tradicional planta e o ancestral estão inseridos. O filme será exibido amanhã, às 19h, em uma sessão gratuita, seguida de debate no Cine Aruanda, situado no Centro de Comunicação Turismo e Artes (CCTA) da UFPB, em João Pessoa.
O projeto nasceu no Laboratório Negras Narrativas, da Amazon, e se desenvolveu ao longo de quatro anos. As personagens principais do curta, Mãe Bené e Mãe Flor, são vividas, respectivamente, por duas atrizes iniciantes, mas com experiência de sobra na cultura: Mãe Renilda, líder juremeira, e Vó Mera, mestra popular. A projeção é uma iniciativa da disciplina de Jurema Sagrada, do Departamento de Ciências das Religiões (DCR).
Também artista visual, Thiago Costa acumula uma década de experiência na sétima arte. A sua iniciação na Jurema, por sua vez, foi feita há oito anos. “É uma religião que se relaciona muito com a memória do Nordeste, com as geografias visíveis e invisíveis que foram construídas ao longo do tempo, a partir dos nossos territórios. Tem origem indígena e, com o passar dos anos, foi se difundindo nas cidades”, explica o realizador.
As presenças de Mãe Renilda e de Vó Mera foram fundamentais. Thiago conta que Axé, Meu Amor é um misto de ficção e documentário que retrata o cotidiano factual da protagonista, ligado ao culto da jurema. “O roteiro é baseado em uma experiência que nós vivemos no terreiro, em 2019, em que o que acontece no filme aconteceu, de alguma forma, na vida real. Além disso, há desejo de eternizar essas duas figuras tão importantes para a tradição negra paraibana”, sustenta.
Ainda de acordo com o realizador, o cinema brasileiro tem se aberto para a produção de curtas e longas sobre as ancestralidades negras e dos povos originários, mas ele afirma que é necessário lutar contra certos preconceitos. “Temos uma discussão importante, o cinema negro também é cinema brasileiro. Precisamos também garantir mais direitos e mais espaço nos editais, nas seleções e na TV aberta, viabilizando a presença nessa indústria e nessas gerações de emprego”, assevera.
Em 2025, além de alcançar espaço no meio acadêmico, a Jurema Sagrada foi alçada a patrimônio imaterial da Paraíba, por meio de lei estadual sancionada pelo governador João Azevedo. “A arte pode ser uma plataforma de salvaguarda, através do audiovisual, da música, da literatura, com esse intuito de memorizar e materializar a ciência da Jurema Sagrada”, conclui.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 2 de setembro de 2025.