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Veterana dos palcos da Academia de Cinema de Hollywood, a violinista paraibana tocou ao lado de grandes nomes do pop mundial, como Beyoncé e Billie Eilish

Karoline Menezes: saiba quem é a paraibana do Oscar

publicado: 04/04/2022 09h05, última modificação: 05/04/2022 08h55
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Foto: Acervo Pessoal

por Joel Cavalcanti*

A performance ao vivo da música vencedora do Oscar de Melhor Canção Original contou com o talento de uma paraibana. Formada na Escola Estadual de Música Anthenor Navarro, na Fundação Espaço Cultural, a violinista Karoline Menezes se apresentou ao lado de Billie Eilish, no Dolby Theatre, em Los Angeles (EUA), defendendo a canção do filme 007 - Sem tempo para morrer. Na mesma cerimônia, a instrumentista integrou a orquestra que acompanhou Beyoncé em ‘Be Alive’, do filme King Richard: criando campeãs. Em sua quarta participação no Academy Awards, a pessoense acumula trabalhos em parcerias com Adele, Elton John, The Weekend, Snoop Dogg e Andrea Bocelli, e sonha em ir muito mais longe.

Quando chegou ao estúdio para gravar a canção que levaria a estatueta no último domingo (dia 27), Karoline ainda não sabia quem estaria presente no local e se surpreendeu ao ver na partitura o nome Billie Eilish, vencedora de sete prêmios Grammy. Ela já tinha trabalhado com a americana no ano passado, quando preparou os seus alunos da Youth Orchestra of Los Angeles para tocar em um documentário com a cantora. Mas susto maior ela teve quando soube que gravaria com outra diva pop. “Quase que eu caio para trás quando vi que seria com a Beyoncé, uma das maiores artistas do mundo. Foi inacreditável, mas obviamente que a gente tinha que se concentrar para tocar as notas da forma mais perfeita possível”, conta a musicista, que estava torcendo pela vitória dela no Oscar. “As gravações para as duas artistas foram incríveis. Foi uma energia muito especial nas salas de estúdio. Realmente, me surpreendeu”.

Para a apresentação que abriu a noite de premiações, Karoline teve que se preparar por duas semanas em ensaios intensos e sob um forte esquema para garantir o sigilo da gravação ocorrida em uma quadra de tênis de um parque da cidade de Compton, Califórnia. “Confiscaram nossos celulares e deixaram guardados o dia inteiro. Eles não queriam que ninguém tirasse fotos. E quem vai segurar de tirar fotos em um set de gravação com a Beyoncé?”, questiona a paraibana, que não se atreveu a antecipar nada de sua apresentação até para a sua família e amigos próximos. Padrão diferente do que ela havia experienciado em 2015, quando a violinista tocou com a banda de The Weekend, na faixa ‘Earned It’, trilha sonora do filme 50 Tons de Cinza, ou em 2020 com o rapper Eminem na música ‘Love yourself’, ou ainda no ano passado acompanhando a cantora Celeste para o filme Os 7 de Chicago.

O privilégio de estar no evento assistido por 16 milhões de pessoas ao vivo nos Estados Unidos colocou a paraibana nos bastidores do infame momento em que o ator Will Smith desfere o tapa no comediante Chris Rock. Karoline estava em uma sala para onde vão os convidados quando querem tomar um drinque e tirar uma pausa entre uma premiação e outra, quando ouviu a agressão. “Todo mundo ficou em silêncio. Ninguém achava que aquilo tivesse sido verdade. Quando o tapão aconteceu a nossa reação foi que aquilo deveria ter sido ensaiado, algum número entre os dois. Mas não foi. Foi uma coisa de muito choque. A sala ficou em silêncio por alguns minutos, com todo mundo só olhando um para o outro, sem saber o que estava acontecendo. Não foi legal, foi muito constrangedor”, descreve a violinista, que acompanhou tudo por televisores instalados nas áreas restritas do teatro.

Morando nos Estados Unidos há 13 anos, Karoline ganhou uma bolsa de estudos na Azusa Pacific University e tem mestrado na University of Southern California. “Já estou dentro desse network há muitos anos, as pessoas me conhecem e quando chegam oportunidades assim os contratantes costumam considerar o seu nome”, conta ela sobre teve a chance de se apresentar com tantos astros da música, que ela concilia com vários trabalhos no âmbitos da música, seja dando aulas na El Camino College, tocando em shows ao vivo ou participando de gravações para vídeo e trilhas sonoras de filmes e séries. Com todo esse destaque, Karoline quase optou pela carreira no Direito, que ela cursava no terceiro período em João Pessoa, mas contou com o incentivo determinante de professores da Paraíba para investir no seu sonho.

Ela tinha 9 anos quando começou a estudar na EEMAN e só aos 10 pegou em um violino pela primeira vez, idade considerada tardia para quem segue o rigor de uma dedicação profissional de alto nível. Aos 20 anos, depois de participar do Femusc, festival de referência na América Latina que acontece em Santa Catarina, ela recebeu a chance de ir aos Estados Unidos, em 2009. “O que mais me marcou em minha formação de musicista, em João Pessoa, foi trabalhar com professores tão gentis e tão maravilhosos comigo”, ressalta Karoline, citando Renata Simões, Yerko Tabilo e Luiz Carlos Durier. “Essas pessoas me marcaram muito porque foram pessoas que realmente foram do meu início e aguentaram aqueles sons horríveis que a gente faz quando está aprendendo e têm muita paciência. Eu tenho um respeito e admiração muito grande por eles”.

Apesar de uma agenda concorrida e com um ritmo de trabalho que a faz passar muitas madrugadas praticando o violino e a viola, Karoline Menezes costuma vir ao Brasil com frequência e em duas semanas ela deve estar na Paraíba para visitar sua família. “Isso é só o começo. Tem muitos projetos legais que estão acontecendo, inclusive no Brasil, que eu estarei compartilhando mais sobre isso no futuro. A vida é lutar e esse é só o início. Estou plantando sementinhas que para coisas muito legais que virão, eu creio”, finaliza.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 03 de abril de 2022