Uma das maiores revelações recentes da música paraibana lança na próxima sexta-feira (dia 13) o álbum visual do seu segundo EP, através do canal do YouTube (@clansessions). Trata-se de Elon - Ao Vivo no Clan, iniciativa com quatro faixas em que o músico de Pombal realiza um trabalho autoral com uma banda completa pela primeira vez. Os projetos paralelos à carreira solo de Elon são marcados por um minimalismo em que o foco principal é a canção, a exemplo do quarteto vocal A Quadrilha ou do grupo Pertença. Mesmo os shows de Tateia, primeiro EP lançado, em janeiro do ano passado, tinham essa característica devido ao dueto formado com o piano de Helinho. Sem dividir espaços com formações mais coletivas ou essencialmente intimistas, ele passa a assumir uma apresentação em que sua performance é a protagonista do espetáculo.
É o Sertão queer que Elon parece mirar com esse novo trabalho que ele vem classificando como o início de uma “nova era”. O EP assinala para uma transformação em sua carreira, mas as quatro faixas presentes no álbum visual também podem ser vistas como um desdobramento do que foi produzido para Tateia, principalmente a partir de ‘Quentin’, música de maior aderência entre os seus fãs. E dois aspectos em especial justificam isso: o mergulho do cantor com os arranjos bregas e seresteiros, e as possibilidades cênicas que esta sonoridade concede para o intérprete performar no palco de maneira mais dramática e exuberante. Tudo para dar ainda mais destaque a voz de tenor inconfundível que carrega o timbre e o valor do sotaque do interior da Paraíba em uma celebração da diversidade.
“Isso me dá liberdade de explorar mais, com desenho de luz específico. Agora, eu vou me apresentar como Elon, com uma banda me acompanhando e explorando novas sonoridades e propostas estéticas mais dançantes”, define o artista. “Essa nova proposta explora uma sonoridade pop e global para canções que trazem a influência da musicalidade da região. É um ingresso no pop nordestino. E nisso inclui o brega, o arrocha, o forró, a seresta, o bolero. Minha voz se encaixa muito bem nas linhas melódicas de um cancioneiro nordestino. Eu fui percebendo que estava caminhando para esse lado de compor e gostar de estar cantando músicas relacionadas à sofrência”, acrescenta o artista.
O repertório escolhido para representar essa “nova era” não é exatamente novo, mas vem com arranjos diferentes e inéditos em gravações. A exceção é ‘Afoita corrente’, que Elon já havia lançado como single em 2019. As outras três faixas nunca haviam sido gravadas, mas estavam incluídas no repertório do show de Tateia, como ‘Bolero do colchão’, ‘Transverberar’ e ‘Chorar e curtir’. Esta última é a única que não é composta por Elon, mas foi criada especialmente para ele por Guga Limeira e Titá Moura. A banda que o acompanha é formada por Hugo Limeira (beats), Ingrid Simplício (baixo), Adrielly Oliveira (synths), Samuel Dreher (guitarra) e Cassicobra (percussão).
Com o primeiro EP, Elon conseguiu ampliar o alcance de sua voz e ter seu nome incluído entre os fundamentais da cena musical paraibana. Ele fez shows por várias cidades da Paraíba, assim como turnês por Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo. “Eu já tinha a ideia que eu queria realizar um espetáculo para teatro, mas eu ainda não tinha uma ideia exata de como seria o desenho de minha movimentação no palco. Hoje, ele é um espetáculo com começo, meio e fim, em que a gente sobe no palco e sabe exatamente o que vai fazer. Isso me fez abrir para esse aprendizado”.
O resultado desse processo poderá ser visto numa série de shows em que Elon vai testar a ressonância desse novo conceito junto ao público. No próximo domingo (15), ele faz uma apresentação como uma prévia, com formação reduzida, na Feira Armazém, no Espaço Cultural, em João Pessoa. A estreia oficial, porém, ocorre no dia 28 deste mês (um dia depois do lançamento do EP nas plataformas de streaming), dentro da programação do projeto Viva Usina, quando o show contará com a banda completa, na Sala Vladimir Carvalho. Todo esse movimento é planejado como uma preparação do primeiro álbum de Elon, que deve se chamar Extraviado/A costela mais brilhante. “Muitos desdobramentos virão a partir desse trabalho. Estou colocando muita fé nessas músicas e estou muito confiante nessa nova era que está começando a surgir”, finaliza Elon.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 10 de outubro de 2023.