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Lenine sinfônico

publicado: 04/08/2025 09h10, última modificação: 04/08/2025 09h18
Cantor pernambucano conversa com A União sobre sua apresentação de amanhã com a Orquestra Sinfônica da Paraíba e dos laços que o unem ao estado

por Esmejoano Lincol*

Lenine passava as férias de verão em João Pessoa e o período junino em Campina Grande | Foto: Jairo Goldflus/Divulgação

“Meu sublime torrão”, hino popular composto pelo pessoense Genival Macedo, ganhará novo tom na voz de um pernambucano, que celebrará junto com os vizinhos de estado o aniversário da Paraíba e de sua capital: a canção faz parte do repertório que Lenine entoa amanhã, ao lado da Orquestra Sinfônica da Paraíba (OSPB). O show acontece a partir das 20h30, na Praça do Povo do Espaço Cultural (Tambauzinho, João Pessoa). A entrada é franca, mas o público pode contribuir com um quilo de alimento não perecível; o material arrecadado será destinado a instituições beneficentes do município.

Músicas de sucesso do repertório de Lenine também ganham espaço nessa apresentação, a exemplo de “Hoje eu quero sair só” (do álbum O Dia em que Faremos Contato, de 1997), “Paciência” (de Na Pressão, 1999) e “Martelo bigorna” (de Labiata, 2007). Elas serão executadas a partir de trabalho do arranjador Luiz Gustavo Zago. A OSPB, por sua vez, estará sob a regência do maestro Gustavo de Paco de Gea.

Em entrevista para A União, Lenine assinala: “A Paraíba está no meu sangue”. Os pais José Geraldo e Daisy Pimentel, nasceram, respectivamente, em Campina Grande e João Pessoa. O “sublime torrão” também mora nas lembranças de infância do artista.

“Sempre passei as ‘grandes férias’, depois do Natal, em João Pessoa. E nas férias de junho, que era a época junina, eu ia para Campina. Então, faz parte da minha formação, infância e adolescência, estar no estado da Paraíba. E me sinto um pernambucano-paraibano”, destaca.

Casa 9

Na idade adulta, e a partir de sua trajetória na música, estreitou laços com artistas paraibanos, relações essas que continuaram quando Lenine se mudou para o Sudeste, na virada dos anos 1980 e 1990. Nessa época, ele morou na mítica “Casa 9”, residência numa vila do bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Por lá passaram outros nomes “exilados” — momentânea ou definitivamente: Bráulio Tavares, Ivan Santos e Tadeu Mathias, todos nascidos na Paraíba, além de Lula Queiroga, também pernambucano.

Com Queiroga gravou o seu primeiro álbum — o clássico contemporâneo Baque Solto, de 1983. Dois anos antes, ele havia participado do Festival MPB Shell, promovido pela TV Globo: defendeu “Prova de fogo”, lançada num compacto de vinil com outra faixa, “Princípio da culpa” — esta uma parceria com Ivan Santos, também natural da Paraíba. Na década seguinte, trouxe a público seu segundo LP, Olho de Peixe, parceria com o percussionista fluminense Marcos Suzano; das 11 canções, seis são parcerias com o amigo Bráulio Tavares.

A poucos anos de estrear como cantor solo com O Dia em que Faremos Contato, Lenine fez participação especial em Aos Vivos, registro histórico de Chico César, na sala da Funarte em São Paulo, e que completa três décadas em 2025: tocou violão nas músicas “Dança”, “Dúvida cruel” e “Nato”. Com o passar dos anos essa parceria nos palcos continuou em shows marcantes.

Escolha da músicas

Sinfônica vai mergulhar no repertório do músico pernambucano | Foto: César Matos/Divulgação

A experiência no palco com músicos de concerto não é nova. Lenine recorda de colaborações, apenas na última década, com a Orquestra Ouro Preto, a Jazz Sinfônica Brasil e a Orquestra Petrobrás Sinfônica.

“E com cada uma delas, tem essa questão da personalidade da orquestra, desse ajuntamento de pessoas tocando juntos. Cada uma tem suas características”, afirma. “E eu celebro muito quando acontecem esses encontros, porque é como se eu pudesse ‘vestir’ a minha música com uma roupagem de muitos, ganhando uma infinidade de nuances”.

O artista destaca o trabalho de Felipe Zago, pianista e responsável por adaptar seus arranjos originais, pops ou acústicos, para a lógica das cordas e dos metais. Mas Lenine ressalta que a decisão sobre qual faixa pode entrar num show com orquestra também passa por ele.

“E eu sempre tenho um certo filtro que ponho na escolha dessas músicas, de alguma maneira, eu imagino a canção que pode seduzir e dentro do escopo da própria canção, na gravação original, tem elementos sonoros que podem ser desenvolvidos em um ambiente sinfônico”, explica.

O concerto da Orquestra Sinfônica da Paraíba com convidados virou tradição no aniversário de João Pessoa: Chico César (2018), Paralamas do Sucesso e Cátia de França (2022), Santanna, o Cantador (2023) e Lucy Alves (2024) já foram atrações na Praça do Povo. Além do show, a Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc) promove a partir das 18h, também na Praça do Povo, uma feirinha cultural.

“Eu me sinto muito honrado. E a felicidade é enorme de participar dessa festa, na cidade que eu frequento desde quando nasci”, conclui Lenine.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 03 de agosto de 2025.