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Lispectorante tem pré-estreia no Bangüê

publicado: 07/05/2025 10h40, última modificação: 07/05/2025 10h40
A atriz Marcélia Cartaxo e a diretora Renata Pinheiro conversam com o público hoje
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A atriz paraibana volta ao universo de Clarice Lispector 40 anos após “A Hora da Estrela” | Foto: Divulgação/Embaúba Filmes

por Esmejoano Lincol*

No longa-metragem Lispectorante, a protagonista Glória Hartman recebe uma lufada de ar e de inspiração, vindos da musa Clarice Lispector, que viveu na cidade de Recife por um curto, mas marcante espaço de tempo. Esse filme ganha uma pré-estreia hoje no Cine Banguê, em João Pessoa, seguida de um debate os com espectadores, hoje, às 19h: marcam presença a diretora Renata Pinheiro e a atriz Marcélia Cartaxo, ambas sob mediação do Renato Felix, editor de Cultura de A União. Os ingressos custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia) e serão vendidos uma hora antes da sessão, na bilheteria do cinema, no Espaço Cultural.

Marcélia dá vida à heroína de Lispectorante: recém-separada do marido que tolheu, durante anos, o seu crescimento profissional, Glória chega à capital pernambucana com o intuito de reconectar-se com suas origens e com seu ofício principal: artista. Ao visitar a casa onde Clarice Lispector residiu, no bairro da Boa Vista, e a Praça Maciel Pinheiro, onde foi erguida uma estátua em tributo à escritora ucraniana, ela conhece outros personagens que a guiarão durante essa jornada pessoal e surrealista em busca de si mesma.

O nome Glória Hartman não foi escolhido por acaso — essa é uma referência às iniciais do livro A Paixão Segundo G. H., lançado por Clarice em 1964. A presença de Marcélia nesse filme também faz coro ao leque de influências clariceanas: seu primeiro papel em um longa-metragem foi Macabéa, de A Hora da Estrela, obra clássica da autora, transposta para a grande tela por Suzana Amaral, há 40 anos.

“Era através do conhecimento dela mesma que ela via a sociedade feminina. Nós somos muito desiguais, mas me identifico bastante com essa forma dela falar da gente, dela mesma e dos nossos sentimentos”, afirma Marcélia sobre a escritora.

A atriz surpreendeu-se negativamente com a degradação da praça dedicada à Clarice — “a estátua dela estava cheia de cocôs de pombos”, recorda. Ao falar sobre o projeto que estreia nos demais cinemas do país amanhã, ela sustenta que o longa possa servir como manifesto em prol da recuperação do local.

“Fui muitas vezes a Recife, mas nunca me imaginei indo naquele lugar. O [Cinema] São Luís e outros equipamentos foram recuperados. E aquele lugar ficou se acabando, como muitas outras coisas que a gente vai ver no filme. Mas através da arte, com uma denúncia, a gente pode transformar isso”, declara.

Lispectorante também discute o etarismo por meio da tentativa de Glória de voltar ao mercado de trabalho, agora numa nova cidade. Renata Pinheiro assevera que essa discussão, além de necessária, precisa ser didática, para que ela não se limite à sua ficção e para que transforme, também, o público.

“A gente vive numa sociedade patriarcal que a cada segundo das nossas vidas trabalha para colocar a mulher num lugar de desfavorecimento em prol do homem ascender, como se fosse algo natural. É preciso, realmente, que as pessoas entendam que essa não é a natureza da vida”, defende.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 07 de maio de 2025.