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Literatura que desperta liberdade

publicado: 06/02/2023 12h44, última modificação: 06/02/2023 12h44
Hoje, na capital, será apresentada no Salão do Artesanato Paraibano a obra ‘Catarse Literária’, estreia na área de Marina Oliveira, reeducanda da Penitenciária Maria Júlia Maranhão
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Antologia também deu mais visibilidade ao projeto ‘Castelo de Bonecas’, em que as reeducandas produzem a boneca de pano da ex-BBB e cantora Juliette, um dos temas das ilustrações internas de Domingos Sávio na obra
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por Guilherme Cabral*

 

Catarse Literária é o título do livro que marca a estreia, como escritora, da reeducanda Marina Oliveira, que tem 32 anos de idade e está reclusa desde outubro de 2019, na Penitenciária de Reeducação Feminina Maria Júlia Maranhão, em João Pessoa. Publicada pela Editora A União, a obra é organizada pela jornalista Jailma Santos, e será lançada hoje, às 17h, no palco principal do 35º Salão do Artesanato Paraibano, edição em homenagem aos povos indígenas que o Governo do Estado e o Sebrae realizam até amanhã, na Praia do Cabo Branco, na capital. Além da autora, participarão do evento autoridades estaduais e representantes da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC).

Com poesia e prosa, o livro é dividido em duas partes – Poéticas do cotidiano e Narrativas Diárias. “A primeira possui o total de 34 poemas, que versam sobre a vida e a experiência da reeducanda Marina Oliveira no cárcere, bem como sobre fé, amor, a esperança de liberdade e, também, a experiência dela como integrante do projeto ‘Castelo de Bonecas’, que é desenvolvido na Penitenciária de Reeducação Feminina Maria Júlia Maranhão e o cita várias vezes, no livro, o que contribui para despertar o interesse dos leitores. A segunda parte é de narrativa, de prosa, na qual a escritora fala sobre o seu cotidiano no presídio, como também sobre fé, força e as oportunidades da vida que recebeu. O livro é como se fosse um diário de Marina”, relatou Jailma Santos.

Com as borboletas que representam a liberdade, a capa do livro é do paraibano Alberto Art’s, e as ilustrações internas ficou por conta do artista Domingos Sávio. O projeto do livro surgiu depois que a reeducanda Marina Oliveira, que é natural da cidade de Santa Rita, escreveu, em 2021, uma correspondência para o governador da Paraíba, João Azevêdo, parabenizando-o pelo seu aniversário, cuja data é 14 de agosto. “A diretora da Penitenciária de Reeducação Feminina Maria Júlia Maranhão, Cinthya Almeida, gravou a Marina lendo a carta e a enviou para o governador, que gostou muito e a divulgou em suas redes sociais. Em junho de 2022, durante o 34º Salão do Artesanato Paraibano, em Campina Grande, quando foi receber a sua carteira de artesã, Marina conheceu presencialmente o governador, para quem leu a mesma carta que já lhe havia enviado. Na ocasião, o jornalista Josélio Carneiro sugeriu a ideia de publicar um livro de Marina e o chefe do Executivo gostou e autorizou”, relembrou a organizadora da obra.

Jailma Santos apontou que a reeducanda já era conhecida do público, pois já havia enviado carta para a ex-BBB e cantora paraibana Juliette Freire, que a divulgou e leu no seu documentário, disponível na plataforma do Globoplay. “Isso mostra a desenvoltura de Marina Oliveira com as palavras. Nós duas começamos a conversar em agosto de 2022 e terminei as visitas em outubro. Eu ia até o presídio feminino e recebia os textos manuscritos para digitar”, disse a organizadora da obra.

Diretora da Penitenciária de Reeducação Feminina Maria Júlia Maranhão há 11 anos, a policial penal Cinthya Almeida destacou a importância da escritora estreante. “Uma grande conquista e um grande feito para a própria reeducanda. Embora ainda continue como uma reeducanda, isso representa um recomeço de vida”, disse ela.

Embora não seja especificamente sobre o projeto, que é desenvolvido pela Secretaria de Administração Penitenciária do Estado, a diretora observou que o livro contribuirá para dar mais visibilidade ao ‘Castelo de Bonecas’, que produziu a boneca de pano da Juliette e é motivo de ilustração de Domingos Sávio incluída no livro. “A confecção da boneca Juliette deu uma alavancada enorme no movimento e ainda é uma das mais procuradas”, comentou Cinthya Almeida.

Nas orelhas do livro, gerente operacional da Editora A União, Alexandre Macedo, observa que a obra “surge com uma simbologia muito forte, por apresentar relatos reais da vida da autora, ora apresentados com linguagem prosaica, ora de forma poética, e ter sido escrito no cárcere”. O gestor registra que “o livro proporciona ao leitor, ao longo das suas 75 páginas, numa experiência narrativa muitas vezes surpreendente, conhecer o cotidiano da autora, com suas dores, saudades, alegrias e, principalmente, a superação e o desejo de voltar a conviver socialmente, fora dos muros da casa de detenção, e reconstruir a sua vida de forma digna e honesta”, escreveu Macedo, acrescentando que o livro é, “além de um chamado à reflexão, uma oportunidade de autoavaliação e, sobretudo, um espaço para ampliarmos nossos olhares sobre as nuances que compõem o ser humano, considerando as relações entre o Eu e o Outro em contextos diversos”.

Diretora-presidente da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), Naná Garcez assina um texto na quarta capa. “Foi exatamente o título, Catarse Literária, que me despertou o interesse da leitura do livro de Marina Oliveira. A palavra ‘catarse’ não é comumente usada no dia a dia, portanto, nela já se observa que o que se vai ler é algo que transformou, libertou, curou alguém. O complemento ‘literária’ me levou a percorrer as páginas do texto que recebi, e encontrar frases como ‘o cárcere não aprisionou minha mente’ e ‘Ninguém mantém um castelo desse sozinha’, revelando a força da autora”, registrou a gestora. “Agora, essa política de humanização avança anda mais com este livro publicado pela Editora A União/Empresa Paraibana de Educação, seguindo a orientação de uma gestão que se preocupa com as pessoas”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa d 4 de fevereiro de 2023.