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Amanhã, em João Pessoa, será apresentada a antologia que contempla os vencedores do concurso literário Juventude das Letras

Literatura: Revelando os novos talentos da Paraíba

publicado: 06/12/2022 12h37, última modificação: 29/12/2022 15h32
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Obra reúne a produção de cinco vencedores na categoria crônica (Prêmio Gonzaga Rodrigues), nove contos (Prêmio Marília Arnaud), 10 poesias (Prêmio Anayde Beiriz) e quatro textos de cordel (Prêmio Maria Pimentel) - Foto: Imagem: Editora A União/Divulgação

por Joel Cavalcanti*

 

Gonzaga Rodrigues começou a publicar suas crônicas apenas aos 45 anos de idade com Notas do meu lugar, de 1978. Marília Arnaud, ainda na juventude, precisou custear do próprio bolso o seu primeiro livro de contos, o Sentimento Marginal, de 1987. Eles são dois dos quatro patronos do concurso literário Juventude nas Letras, que busca superar as dificuldades que os talentos paraibanos entre 15 e 29 anos têm para verem seus textos publicados e serem remunerados por isso. A materialização dessa iniciativa inédita poderá ser conhecida amanhã, durante o lançamento da coletânea com os vencedores do edital em evento a ser realizado no auditório do Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa, às 19h.

A obra reúne a produção de cinco vencedores na categoria crônica (Prêmio Gonzaga Rodrigues), nove contos (Prêmio Marília Arnaud), dez poesias (Prêmio Anayde Beiriz) e quatro textos de cordel (Prêmio Maria Pimentel). Os três primeiros vencedores em cada gênero receberão, cada um, o valor de R$ 1 mil, que serão entregues com exemplares produzidos pela Editora A União. Juventude nas Letras oferece ao leitor a possibilidade de renovar o panorama de escritores do estado por um recorte de idade, que muitas vezes não define a maturidade literária de seus autores. É o caso da vencedora na categoria de Conto, a campinense Jadna Alana. Com 25 anos e formada em Letras pela UEPB, ela já tem sete publicações no currículo desde 2016, e acaba de ter seu mais recente livro, a novela Se tu me quisesse, como finalista da 7ª edição do Prêmio Kindle, da Amazon.

Na coletânea, ela apresenta O menino de imburana, uma releitura do clássico infantil Pinóquio, desenvolvida no gênero de regionalismo fantástico, que ela vem se especializando há três anos. O conto narra a história de Seu Pepeto, um artesão que vive em uma região desértica de Cacimba de Dentro. Por ser um senhor muito solitário e infeliz com as peças comuns que produzia em série, ele resolve esculpir pessoas. “Só que ele nunca consegue esculpir o boneco perfeito, e a madeira sempre acaba. Mas um dia ele encontra um pé de imburana muito diferente, ele sente que existe magia ali. Ele conversa com a árvore e pede para que ela o abençoe na conclusão do boneco. Seu Pepeto volta para casa desesperado, e não vou continuar a história para não estragar a surpresa do leitor”, resume a escritora, que cresceu em Nova Palmeira (PB).

Romancista, O menino de imburana marca a estreia de Jadna Alana no conto. A premiação no edital veio para confirmar suas escolhas estéticas e profissionais. “Foi muito emocionante porque, depois que eu decidi me arriscar por esse gênero, esse foi o primeiro concurso que eu me inscrevi para ter uma resposta. Eu sabia que as pessoas que estão avaliando entenderiam a proposta. Então, quando eu vi que estava em primeiro lugar eu vi que é uma fórmula que funciona, que é vendável, que é comercial, mas que também tem estética, é bem escrita e a crítica consegue reconhecer isso”, avalia Jadna, que iniciou no regionalismo fantástico com Riacho do Jerimum, de 2019.

Primeiro lugar na categoria Crônicas com a obra Dia de São José, Railson Gomes Almeida tem 27 anos de idade e faz Doutorado em Artes pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). O texto pelo qual ele foi premiado é Dia de São José. “Conto a história de um senhor que faz uma promessa: se chover, no Dia de São José, o nome da sua filha será escolhido pelo padre da cidade. A problemática da crônica é que o padre é muito preconceituoso e quem faz a promessa é casado com um homem transexual”, explicou o jovem autor, destacando que foi muito importante a premiação também dar oportunidade para a divulgação de um tema tão contemporâneo no Nordeste. “Sempre é uma surpresa ganhar, mas estou feliz porque isso mostra que a escrita é possível, e é um caminho positivo para todo mundo”, frisou ele, que é natural do município de Boa Vista, localizado na região Cariri da Paraíba, mas reside em João Pessoa.

Uma realização do Governo do Estado da Paraíba, através da Secretaria de Estado da Juventude, Esporte e Lazer (Sejel) da Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc) e da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), através da Editora A União, a primeira antologia Juventude nas Letras já tem previsão de ser repetida em 2023. “Uma publicação como essa estimula a produção literária da Paraíba, revelando novos talentos e descortinando uma área cultural muitas vezes longe da realidade da maioria dos jovens, uma vez que o edital foi amplamente divulgado para o público-alvo e parte dos exemplares serão destinados às bibliotecas públicas do Estado. Por tudo isso, o Juventude das Letras já nasce fazendo história”, destaca o gerente da Editora A União, o jornalista Alexandre Macedo.

Para a secretária executiva de Juventude da Paraíba, Madu Ayá, a população ainda vai ouvir muito os nomes presentes na nova publicação. “Essa coletânea é a realização do sonho de muitos jovens. Isso é muito importante porque nós temos esse papel, enquanto poder público, de fomentar, incentivar e estar juntos desses jovens escritores. Eles estão podendo concretizar o desejo de terem seus nomes publicados e receberem por sua produção literária”, considera a gestora, que destaca ainda a igualdade de oportunidades a todos que tenham o desejo de publicar e atendam aos requisitos do certame.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 6 de dezembro de 2022.