A tragédia que aconteceu no município de Queimadas no dia 12 de fevereiro de 2012 marcou a Paraíba. Onze anos depois, os relatos daquele estupro coletivo, presente de aniversário de um irmão para outro, ainda ecoam. As dores, as lembranças, a incredulidade diante de um caso tão desumano, o estupro coletivo e o assassinato de duas jovens – por terem reconhecido o agressor, estão no livro Era apenas um presente para o meu irmão – A barbárie de Queimadas (Todavia, R$ 74,90), do escritor Bruno Ribeiro. O lançamento será hoje, à 19h, na Livraria A União, instalada no Espaço Cultural José Lins do Rêgo, bairro de Tambauzinho. Durante o lançamento, haverá conversa do autor com a jornalista Tatyana Valéria, que fará a apresentação da obra.
Com a obra, para a qual entrevistou mais de cem pessoas, Bruno Ribeiro ganhou o Prêmio Todavia de Não-Ficção, em 2020, concorrendo com centenas de propostas. Mas, até chegar ao resultado final, o processo de levantamento das informações e entrevistas foi bem difícil. “A apuração começou no dia 17 de janeiro de 2019. A partir dali a escrita se iniciou também. A priori seria um roteiro audiovisual de ficção, mas conhecer a história real de perto me inquietou a tal ponto que decidi escrever um livro-reportagem. O processo foi árduo”, comenta Bruno Ribeiro.
Ele conta que, assim como todos paraibanos, ficou muito chocado com o crime, e lembra que muitos amigos e amigas, de Campina Grande ou de Queimadas, conheciam algumas das vítimas ou os culpados. “Foram dez homens culpados. Cinco mulheres violentadas e duas assassinadas. Gente demais, logo, inevitável que muitas pessoas conhecessem alguém ou ao menos algum dos familiares dos envolvidos neste triste episódio. E isto de alguma forma me motivou a querer contar essa história”, diz.
Bruno Ribeiro afirma que sua principal busca na literatura é entender como certas feridas podem marcar para sempre lugares e pessoas, assim como a barbárie marcou Queimadas e os queimadenses. “Deixou uma cicatriz infindável. E sempre me inquietou a violência a ponto de querer entendê-la melhor com o meu trabalho. Não foi a magnitude do crime que me chamou a atenção, mas o quão inexplicável ele é”.
O tema, de fato, chocou todos os paraibanos e foi abordado em reportagens nacionais, inclusive, recentemente, no programa Linha Direta, apresentado pelo jornalista Pedro Bial, da Rede Globo. Foi uma barbárie que deixou um saldo trágico de violência e mortes. Percorrer todo o caminho dessa história, ouvir relatos, inclusive de vítimas, mexeu com o autor.
“Me senti mal, foi um trabalho difícil e que me marcou bastante. Mas nunca quis escrever sobre o fácil, o ameno. A literatura, para mim, sempre foi um local de embate e de lidar com o que há de mais difícil na sociedade”, resume. Por outro lado, ressalta que suas expectativas são as melhores possíveis. “O livro demorou a sair, pois essas questões de publicações levam tempo mesmo. Então, estou bem ansioso para que esta obra caia na mão dos leitores”, acrescenta.
Lançamento
Na noite de hoje, o lançamento vai contar com bate-papo com a jornalista Tatyana Valéria, do Paraíba Feminina, que também fará a apresentação da obra. Ela, inclusive, foi uma das personagens centrais do livro. “É uma honra ser parte desse projeto, um livro que aborda um tema muito complexo, que ainda está presente na vida das mulheres paraibanas, especialmente porque o autor (do crime), Eduardo dos Santos, continua foragido. A Barbárie de Queimadas ainda é um crime que assombra as mulheres paraibanas”, diz Tatyana.
Ela acrescenta que não se trata apenas de um livro-reportagem. Muito além disso, considera como um documento histórico que merece e deve ser lido. “A Paraíba, assim como o restante do país, teve um aumento significativo no número de estupros, e os feminicídios ainda são recorrentes”, lamenta.
O autor
Bruno Ribeiro tem outros livros lançados e, inclusive, vai estar na programação na Bienal do Livro, que acontece de 1 a 10 de setembro, no Rio de Janeiro. A obra Era apenas um presente para o meu irmão – A barbárie de Queimadas, estará à venda no evento de lançamento e continuará disponível na Livraria A União.
É escritor, tradutor e roteirista. Mestre em Escrita Criativa pela Universidad de Tres de Febrero, em Buenos Aires, é autor de, entre outros, Glitter (Moinhos, 2019), Como Usar um Pesadelo (Caos e Letras, 2020), Porco de Raça (Darkside Books, 2021) e o ainda inédito O Dono e o Mal (Alfaguara). Além do Todavia de Não-Ficção, recebeu os prêmios Brasil em Prosa, Machado DarkSide Books, e foi finalista do Prêmio Jabuti.
Outros lançamentos
Dois outros lançamentos acontecem nesta sexta-feira (25), também na Livraria A União, a partir das 19h. Um deles é Estradas engenhos sinas, de Aderaldo Luciano, publicado em 2022, pela Editora Areia Dourada, com ilustrações do artista plástico S. do Norte. Também será lançado Onde cantam os passarinhos, de Hélder Pinheiro, publicado em 2023, pela Meroveu Editora, com ilustrações de Marcelo Soares.
As obras serão lançadas durante o evento ‘Conversas paralelas: a literatura paraibana contemporânea’, atividade organizada pelo Curso de Letras do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), Campus João Pessoa, juntamente com o Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Participarão do evento os escritores Aderaldo Luciano e Hélder Pinheiro, as professoras Analice Pereira e Ana Cristina Marinho, além do xilogravador Marcelo Soares.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 23 de agosto de 2023.