O atemporal Aos Vivos, disco de estreia de Chico César, conquista gerações de ouvintes desde o seu lançamento, em 1995. Um desses fãs, o autor e pesquisador paraibano Jon Moreira, que encantou-se, ainda adolescente, pela voz “despida” do artista catoleense. “Na primeira vez em que ouvi [a canção] ‘Béradêro’, me fiz uma pergunta que me acompanhou por muito tempo: ‘O que danado é isso?’”, ele recorda. Essas e outras questões são respondidas ou perspectivadas no livro O Sertão e o Mundo nas Margens do Alguidar – A Canção de Chico César, que ganha lançamento hoje, a partir das 18h, na Caravela Cultural, Centro de João Pessoa. Desse evento, com entrada franca, participa o músico Adeildo Vieira.
A obra advém da pesquisa desenvolvida por Moreira no doutorado em Letras, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) — um panorama de toda a carreira de Chico, que deságua nas constantes encontradas em seu corpus. Cinco faixas são observadas com mais atenção: “Nato”, “A prosa impúrpura do Caicó”, “Zabé”, “Folia de príncipe” e “Dança do papangu”.
“Escolhi essas canções porque acredito que são bastante representativas daquilo que analiso como elemento central na sua obra: as diversas tradições com as quais o autor constrói sua música, que é atravessada pelas tensões que se estabelecem entre o popular e o culto, o asfalto e o barro, o terreiro e os arranha-céus, o sertão e o mundo”, explica.
O interesse pessoal de Jon une sua visão subjetiva (alimentada, com o passar dos anos, graças ao contato constante com as canções de Chico) à semiótica, que, por sua vez, alicerça estudos sobre a significação em diversas áreas do conhecimento. Boa parte da bibliografia referencia o teórico estadunidense Charles Sanders Peirce.
“Entretanto, existem contribuições de diversos teóricos no âmbito das Letras. Transformar a tese em um livro foi um trabalho difícil, porém prazeroso. O resultado é um livro feito não apenas para o leitor especializado, mas para todos aqueles que se interessam pelas discussões sobre canção popular, poesia e, claro, para quem acompanha e admira o trabalho do paraibano”, assevera.
Chico César respondeu o que é “beradeiro” numa entrevista para A União, em 2024. O compositor disse que “beradeiro” designa alguém “à margem”, “na beira” da sociedade, significados que definem a relação de Chico com a arte e com os demais sujeitos.
“Ele tem ciência do livro, inclusive compartilhou informações sobre o lançamento nas suas redes sociais, comentou nos cards de divulgação e etc. Ele foi muito generoso e se mostrou interessado em relação à obra, mas acredito que ainda não tenha tido contato com o seu conteúdo. Espero que em breve ele tenha esse livro em mãos”, almeja.
Jon Moreira constata que a arte e as letras são ferramentas importantes para a compreensão da sociedade — na universidade ou fora dela. “A música e a literatura paraibanas, tão ricas, devem ter um espaço no ensino e nas pesquisas. Nos ajuda a refletir sobre quem somos, em que lugar vivemos, qual é nossa história e de que maneira esses elementos nos constroem no mundo. Compreender nossas artes faz parte dessa reflexão necessária”, conclui.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 5 de dezembro de 2025.
