Linaldo Guedes
A poesia de Ariano Suassuna é uma pedra ainda a ser polida. Celebrado como dramaturgo e romancista, Ariano começou fazendo poemas que, no entanto, foram pouco abordados pela crítica. Hildeberto Barbosa Filho entrou nesse campo e lança neste sábado, às 10h, na Livraria do Luiz, o livro “Ariano Suassuna: pelas pedras da poesia”, Editora Sebo Vermelho (Natal/RN), 2018.
Segundo o autor, trata-se de pequeno ensaio introdutório à poesia de Ariano, focalizando sobretudo a singularidade de seus recursos formais e estilísticos, assim como os motivos recorrentes de sua dicção lírica. “Além do ensaio, espinha dorsal do livro, reúno alguns textos que escrevi sobre a obra e o autor em época diversas, porém unidos pela disposição de compreender a fenomenologia literária de sua prosa e de seu verso. Ative-me, nesse despretensioso estudo, à poesia uma vez que este capo é muito pouco explorado pela crítica. Salvo Carlos Newton Júnior e César Leal, quase ninguém mais se debruçou sobre a poesia do criador da Pedra do Reino”, explica.
Hildeberto lembra de uma frase de Ariano Suassuna - “Poema explicado é poema morto”, em nota explicativa aos “Sonetos com mote alheio” – para dizer que tal assertiva parece pertinente, na medida em que a explicação, valendo-se, sobretudo, da racionalidade científica, tende a deter o objeto de análise na sua plenitude e numa perspectiva exata e absoluta. “Na verdade, ninguém pode explicar um poema”, diz. Este trecho abre as reflexões do ensaio que, mesmo se voltando para os sortilégios da poesia de Ariano, parece também trazer luz para os problemas teóricos em torno do discurso poético.
Hildeberto entende que Ariano é desses escritores pelos quais não se passa incólume. “Criador de um mundo próprio, um Sertão mítico e armorial, divide, com Euclides da Cunha e Guimarães Rosa, as fundações de uma prosa única e de uma visão definitiva acerca da realidade brasileira. Sua estética, além da beleza, parece se crismar com as águas do reino da verdade e do bem”, acrescenta.
Hildeberto Barbosa Filho tem uma vasta publicação de livros no campo da crítica, da poesia, do ensaio. Nas suas contas, “Ariano Suassuna: pelas pedras da poesia”, completa, com “A constelação dos signos: ensaios literários”, a ser lançado em outubro, nos seus 64 anos, o quinquagésimo segundo título. “Gosto de livros como quem respira. De tê-los, de escrevê-los, de arrumá-los, de procurá-los, de amá-los, comê-los e possuí-los. Vejo-me poeta e crítico ou crítico/poeta, sem me preocupar com a ordem das categorias. Um se alimenta do outro e vice-versa. Fui professor de literatura a vida inteira. Fiz graduação, mestrado, doutorado, aposentei-me. Estou cada vez mais no tempo de desaprender, pois aprendi com Clarice, outra que amo pelos poros, que toda sabedoria é limitada; infinita mesma é a ignorância”, comenta.
Ariano Suassuna, o autor tema deste novo trabalho de Hildeberto Barbosa Filho, foi idealizador do Movimento Armorial e autor das obras Auto da Compadecida” e “O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, entre outros, além de ser um grande defensor da cultura do Nordeste do Brasil. Nascido em 1927, Ariano morreu em 2014.