Guilherme Cabral
"É, de fato, o mais importante filme do pós-guerra como novidade, como temática, como explosão de consciência e, principalmente, de cinema para reflexão. Com uma mensagem nova, uma estrutura nova e uma história consistente e instigante, abalou a cinematografia mundial porque surgiu de um País, o Japão, que ficou acabado, destruído e martirizado pela 2ª Guerra Mundial e ainda é um filme atual”, disse para o jornal A União o crítico e historiador de cinema paraibano, Wills Leal, referindo-se ao longa-metragem intitulado Rashomon, produção japonesa de 1950 dirigida por Akira Kurosawa que ele comenta hoje, dentro da programação do Cineclube O Homem de Areia, da Fundação Casa de José Américo (FCJA), localizada em João Pessoa. A sessão única - cuja entrada é gratuita para o público - começa às 19h30 e a Classificação Indicativa é 16 anos de idade.
Protagonizado pelos atores Toshiro Mifune, Machiko Kyô, Masayuki Mori, Takashi Shimura e Minoru Chiaki, o filme Rashomon mescla drama e mistério, com aspectos de cunho policial. Ambientado no Japão do século XI, na trama, durante uma forte tempestade, um lenhador, um sacerdote e um camponês procuram refúgio nas ruínas de pedra do Portão de Rashomon. O religioso relata os detalhes de um julgamento que testemunhou, envolvendo um casal, cuja esposa, Masako, foi estuprada, e o marido - um samurai - assassinado. Aquele momento é mostrado em flashback, quando o bandido Tajomaru é julgado e, na ocasião, quatro testemunhos, inclusive o de Takehiro (Masayuki Mori), são prestados, por meio de um médium. No entanto, cada qual é uma “verdade”, mas que entra em conflito com os outros depoentes. “O filme tem questionamentos filosóficos e mexe com a consciência”, observou, ainda, o crítico de cinema, Wills Leal.
O presidente da Fundação Casa de José Américo e membro da Academia Paraibana de Cinema (APC), professor Damião Ramos Cavalcanti, também elogiou o filme. “A chuva, com sua beleza e consequências, é uma das naturezas sempre presente nos filmes de Akira Kurosawa. Ela e esse genial diretor japonês reúnem, sob as ruínas do portal de Rashomon, um lenhador, um plebeu e um padre que começa a conversar, enquanto testemunha sobre o estupro de uma mulher e o assassinato do samurai, marido da vítima”, disse ele.
“Esses três personagens protagonizam a condução do espectador durante todo o enredo. Extraordinários desempenhos dos atores e atrizes, inclusive do espírito do samurai que acompanha o relato do crime do qual foi vítima. Akira Kurosawa, um senhor de formação clássica exemplar ao mundo do cinema, apresenta esse dom, em seus filmes, cujos talentos ressaltam filosofia, antropologia cultural e, sobretudo, valores histórico-sociais do seu povo”, concluiu o presidente da FCJA, Damião Ramos.