A beatmaker, DJ, percussionista, cantora e compositora paraibana Luana Flores vai representar o Nordeste na 7ª edição do Mercado de Indústrias Culturais Argentinas 2023 (Mica), que acontece de 1º a 4 de junho, no Centro Cultural Kirchner, em Buenos Aires. Conhecida por seu projeto Nordeste Futurista, ela foi selecionada no primeiro edital de 2023 do Ministério da Cultura (MinC), com outros 90 empreendedores culturais para participar das rodadas de negócios e atividades formativas. O Brasil é convidado de honra e levará uma comitiva com profissionais do audiovisual, circo, dança, teatro, design, editorial, hip hop, música e jogos eletrônicos. O evento envolve pessoas de mais de 20 países.
Luana Flores vem se destacando na cena musical por desenvolver um trabalho de fusão entre os ritmos da cultura popular nordestina ao universo eletrônico com foco em temáticas como gênero, sexualidade e território. Por seu trabalho, vai representar o Nordeste na área de vendas no setor da música.
Luana Flores foi selecionada entre as 1.244 inscrições. Para pontuação, os critérios gerais consideraram a conexão da proposta ao evento; diversidade, representatividade, inclusão e criatividade; maturidade de negócios do empreendedor ou do empreendimento representado.
Ela conta que se inscreveu no setor de música, na área de vendas, enquanto empreendedora cultural, e que seu objetivo é vender seu show Nordeste Futurista. O edital nacional priorizou uma pessoa de cada região, com cinco vagas para o setor de música nacional. “Eu fiquei com o primeiro lugar do Nordeste. Quando digo que vou representar o Nordeste nesse setor é porque eu fui a pessoa selecionada que tirou a maior nota, inclusive uma das maiores notas na questão de vendas de músicas independentemente da região”, comemora ela.
O edital prevê todos os custos de passagem, hospedagem, alimentação para que os selecionados participem da feira internacional, construindo uma relação mais madura com o mercado internacional. “A ideia é conseguir levar o show para a maior quantidade de lugares possível no mundo e, junto comigo, levar a Paraíba”, comenta Luana.
O show Nordeste Futurista está rodando o Brasil, ganhando proporção e com cada vez mais ferramentas e linguagens agregadas. Nordeste Futurista é o nome do disco também e do conceito que ela vem desenvolvendo ao longo dos anos. “É um conceito estético, imagético, discursivo, narrativo. A premissa, inicialmente, é a música. Quando pensei na criação desse conceito, pensei em dar o nome do som que eu estava desenvolvendo que é a fusão entre os ritmos da cultura popular nordestina, com foco nos ritmos paraibanos, ao universo eletrônico com foco em temas como gênero sexualidade e território”, conta.
Flores diz que o show agrega múltiplas linguagens. O figurino é sempre baseado nas brincadeiras populares com foco na Paraíba. A apresentação agrega dança, teatro e, quando é possível, as mestras da cultura popular do estado, como foi o caso do show realizado em março desse ano, na Funesc, que, para ela, foi bem especial. “Eu convidei a mestra Ana do Coco e a mestra Vó Mera para estarem presentes durante o show que tem projeção, iluminação, tem uma dramaturgia e uma estrutura que está ficando cada vez mais profissional e que está sendo uma bandeira nessa questão LGBTQIAP+ dentro e fora da Paraíba”, pontua.
No Mica, a expectativa de Luana Flores é conseguir vender seu show para o máximo possível de compradores internacionais e, assim, se projetar para o mundo. “Imagina, um projeto que nasce na Paraíba, nas comunidades, no interior da Paraíba, e nós estamos conseguindo construir um projeto que está chamando a atenção para conseguir rodar o máximo possível, alcançar o máximo de espaços dentro de outros contextos, mas principalmente conseguir trazer esse quesito internacional, sair do Brasil e levar esse trabalho para o mundo”, pondera.
A expectativa é conseguir fazer contatos, networks, levando várias pessoas da Paraíba para construir o projeto. São artistas independentes paraibanos e paraibanas que estão na expectativa de ganhar mais visibilidade, mais espaços e construir outras narrativas para uma cena de mulheres LGBTQIAP+ na Paraíba e no mundo.
Luana Flores aprova a política de promoção internacional da cultura brasileira nessa parceria dos Ministérios da Cultura do Brasil e da Argentina. “Acho muito interessante, principalmente porque estamos falando no fortalecimento das nossas redes de contato na América Latina que é uma questão para o qual o Governo Lula sempre demonstrou muita preocupação. É uma porta muito importante de empreendedores culturais estarem trocando com o mercado internacional”.
‘Nordeste Futurix’
Luana Flores está no processo de construção e desenvolvimento do seu próximo disco que vai se chamar Nordeste Futurix, pegando algumas músicas que já existem no disco Nordeste Futurista e trazendo novas versões.
Também serão apresentadas novas músicas, com novas parcerias que ela considera fortes e potentes, mas que não revelou. “São muitas músicas novas nesse disco na mesma atmosfera do que estamos construindo no Nordeste Futurista”. A expectativa é que o lançamento seja ainda em 2023.
Sobre outros projetos em andamento, a cantora participa atualmente do projeto Corpos Visíveis, no Rio de Janeiro, que foi de um edital do Sesc carioca. Também no Rio, a artista está com outros grupos de mulheres para construir um show inédito também para 2023.
Luana está em contato com grupos de outras regiões, construindo shows coletivos. “Espero que 2023 seja um ano em que o show Nordeste Futurista ganhe muitos espaços, mas também que eu consiga transitar – e já está acontecendo – em projetos coletivos”.
No dia 9 de junho, Flores participará de um show da cantora Cátia de França, no Itaú Cultural, em São Paulo. “Isso é algo muito especial que vai acontecer na minha carreira este ano. Acho importante essa aproximação da cena contemporânea paraibana, eu, enquanto mulher lésbica, paraibana, estar me juntando com outra mulher lésbica da vanguarda paraibana que é a grande Cátia de França”.
Para ela, o desenvolvimento do trabalho no estado está muito agregado à questão do audiovisual incluído nas leis. “Espero que possamos também criar linguagens contemporâneas, modernas, outras narrativas para rodar também sobre a Paraíba em outra perspectiva”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 21 de maio de 2023.