Desde o último sábado (20), os franceses têm rendido atenção e aplausos ao cinema brasileiro por ocasião da 34ª edição do Festival de Cinema Latino-Americano, que acontece na cidade litorânea de Biarritz, na França. No domingo (21), a sessão quase lotada no Cassino de Biarritz, local das tradicionais exibições, abriu a grande tela para o filme paraibano Malaika, segundo longa-metragem de ficção do cineasta paraibano André Morais. O festival vai até a próxima sexta-feira (26).
“Esse momento é super importante, tanto pra nós da equipe do Malaika, quanto para o cinema produzido na Paraíba, com esse movimento de internacionalização”, afirma André. “Não é um trabalho só meu —envolve mais de 120 artistas do estado, entre técnica e elenco. É um momento muito importante e emocionante pra nós, fazer uma premiére mundial do nosso filme aqui na França”.
- André Morais acompanha a exibição de seu segundo longa em solo francês | Foto: Ianca Sobrinho/Divulgação
De acordo com o diretor de Malaika, o filme foi muito bem recebido pelo público – em grande parte composto por franceses. “É um festival muito acolhedor que enfoca o cinema de autor da América Latina. Eles buscam narrativas que têm de alguma forma um olhar singular sobre a realidade da nossa América Latina e eu sinto que Malaika tem um diálogo muito forte com a programação inteira do festival”, atesta.
André também dirigiu Rebento (2018), filme que conquistou diversos prêmios em festivais nacionais e internacionais. Desenvolvido desde 2016 e filmado em Catolé do Rocha, Malaika conta a história do arco de um dia na vida de uma adolescente albina, de nome homônimo ao título (vivida pela estreante Vitória Bianco), em jornada de autodescoberta ao lado de sua mãe (Norma Góes).
Fugindo das hostilidades de um sol que lhe agride a tez sensível, Malaika acorda muito cedo e caminha, em primeiro ato matutino, para a escola católica onde estuda, em cidade interiorana da Paraíba – sucedem-se sequências à tarde e à noite. Se o ambiente natural oferece riscos à sua saúde física, o fato de ser filha de uma mulher negra enseja estigmas e tensões na dimensão social da trama. De caráter lacunar, o longa tenciona reverberar dúvida poética nos espectadores.
“Tem essa troca de culturas diferentes. Eles [os franceses] estão vendo uma narrativa que seria nova; um olhar sobre uma personagem albina, filha de uma mulher negra, retinta. É uma fábula, como os contos de fada, mas tem um olhar muito nosso, brasileiro, latino, então pra eles é singular”, considera.
“Estrear um filme produzido na Paraíba aqui, no Festival de cinema de Biarritz, é uma conquista super importante. Acho fundamental que seja noticiado, não só por nós, mas pra que a sociedade civil saiba que existe um cinema sendo produzido na Paraíba; que políticas públicas têm feito a diferença para que a nossa cultura possa ganhar espaços em diferentes lugares do país e do mundo. Tô muito feliz”, ressalta André, desejoso de cada vez mais espaços de expansão de sua obra por todo o mundo.
.*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 24 de setembro de 2025.