A paraibana Marcélia Cartaxo viajou o Brasil e o mundo por conta de seu papel mais conhecido: Macabéa, personagem criado por Clarice Lispector em A Hora da Estrela, livro adaptado em 1985 para a grande tela. Ela esteve, por exemplo, em mostras de cinema em Brasília e na Alemanha – nesta última, voltou ao Brasil com o prêmio de melhor atriz, recebido no Festival de Berlim. Através da recente restauração de seu longa-metragem mais celebrado, ela se fará presente em um debate durante sessão especial do filme de Suzana Amaral, desta vez no seu estado natal: será hoje, às 19h, no Cine Bangüê, situado no Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa (no bairro de Tambauzinho). Os ingressos, a partir de R$ 5, podem ser adquiridos presencialmente na bilheteria do cinema – que abrirá uma hora antes do início da projeção. O bate-papo com o público será mediado pelo diretor do Bangüê, Gian Orsini.
A Hora da Estrela narra as desventuras da retirante Macabéa em São Paulo, cidade que a enxerga como uma estranha em vários aspectos. Ao contrário de sua personagem, Marcélia se sente acolhida pelo público a cada vez que conversa com os espectadores sobre seu trabalho no longa. “Acho incrível quando as pessoas revivem esse personagem. Se criou uma imagem em torno desse livro e essa imagem é a minha interpretação: eu sou a Macabéa e a Macabéa sou eu”, pontua a atriz.
A cópia renovada do longa-metragem foi feita a partir dos negativos originais, melhorados pela restauradora Débora Butruce e pela equipe da Vitrine Filmes. O projeto impressionou Marcélia. Ela recorda que as projeções originais, feitas com rolos de 35 milímetros, ostentavam uma qualidade muito boa de som e imagem, que acabaram se esmaecendo com o tempo e com as cópias posteriores. “Agora, então, ficou um material limpo, sobretudo o som. Ficou digno de cinema. Nunca pensei que a restauração pudesse fazer este trabalho. Fiquei muito feliz de saber que poderemos vê-lo com este aspecto também no streaming e na televisão, em breve”, assevera.
A HORA DA ESTRELA
- Brasil, 1986. Suzana Amaral.
- Elenco: Marcélia Cartaxo, José Dumont, Tamara Taxman, Fernanda Montenegro.
- Sessão com debate hoje, às 19h. Mais sessões do filme: dom. 23/06: 15h; seg. 24/06: 19h; dom. 30/06: 17h.
- No Cine Bangüê (Espaço Cultural, Abdias Gomes de Almeida, 800, Tambauzinho, João Pessoa - Instagram: @cinebangue)
- R$ 10 (inteira), R$ 5 (meia).
As cartas de Suzana
O reencontro com seu primeiro longa-metragem evoca as lembranças que Marcélia tem do set de filmagem. Suzana Amaral, a diretora, encontrou nossa conterrânea, quando a então menina de Cajazeiras levou o espetáculo Beiço de Estrada para uma temporada de apresentações em São Paulo. Em encontro no camarim após a sessão, a realizadora lhe falou sobre o projeto de adaptação da obra de Clarice. De volta à Paraíba, Suzana e Marcélia trocaram uma série de cartas; a última das correspondências veio com uma passagem que trouxe a atriz mais uma vez a São Paulo, desta vez para começar os trabalhos.
“A gente sempre descobre alguma coisa a mais quando revê. Eu era muito nova na época, tinha 20 anos. Hoje fico impressionada com o trabalho de Fernanda Montenegro e Tamara Taxman (atrizes que também estão no longa)”, revela. Assim como Marcélia debutava no cinema, Suzana Amaral voltava ao Brasil para rodar o seu primeiro longa-metragem, depois de uma temporada nos Estados Unidos, aperfeiçoando os estudos em direção de atores na famosa escola Actor’s Studio. “Ela trouxe muita experiência de lá e aplicou tudo na Macabéa”, rememora a atriz.
Sempre reservada, Marcélia lamenta o fato de, nesta sessão do Bangüê, não estar acompanhada de Bertrand Lira, cineasta paraibano e amigo de longa data, que sempre a assessora em eventos parecidos; o diretor está filmando seu novo longa de ficção, no interior do estado. Mas ela afirma estar contente com a oportunidade de debater A Hora da Estrela, ocasião em que poderá abraçar os fãs e os velhos amigos. “Algumas pessoas já me ligaram para me dizer que querem o autógrafo que prometi dar nos livros de Clarice e em alguns DVDs de A Hora da Estrela”, finalizou, rindo.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de junho de 2024.