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Marisa Monte: Depois de uma década sem turnê pelo país, cantora e compositora carioca se apresenta hoje, em João Pessoa

publicado: 28/04/2022 08h39, última modificação: 28/04/2022 08h39
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Foto: Leo Aversa/Divulgação

por Joel Cavalcanti*


Depois de 10 anos sem realizar uma turnê solo, a cantora Marisa Monte vem a João Pessoa com o show Portas, revisitando grandes sucessos com seu canto de sereia afinado e acompanhada por músicos excepcionais. Apresentando um espetáculo visual vigoroso por mais de duas horas, a carioca prova porque continua sendo umas das divas mais importantes da MPB. Com ingressos esgotados há duas semanas para o show, que ocorre às 21h, no Teatro A Pedra do Reino, a artista fala com exclusividade para A União sobre a concepção do espetáculo que aposta na resistência poética para resgatar o país, além da parceria com o paraibano Cassiano, morto no ano passado.

“Busquei criar um diálogo entre o mundo interior e o mundo exterior. Entre o isolamento, a reclusão, a solidão e o sonho, o imaginário, a natureza, a criatividade. Um reflexo desses últimos tempos em que todos nós vivemos onde a arte foi central para dar suporte ao insuportável”, explica a artista, que é a diretora-geral do show, referente ao álbum Portas, lançado em julho de 2021. Ela faz uso do simbolismo deste elemento para representar as passagens, transformações, aberturas e fechamentos que representam o período de pandemia. “Teremos um grande trabalho pela frente para resgatar a beleza, a poética e a riqueza do Brasil no imaginário mundial. A arte brasileira tem uma função central nesse processo”, acredita Marisa Monte.

No repertório da noite, a artista deverá reunir 32 músicas de todos os seus álbuns, lançados em 30 anos de carreira, das quais 11 estão presentes em Portas, mas que abre espaço para algumas que, há 20 anos, ela não performava ao vivo, como ‘Ainda lembro’ (1991). A canção, composta em parceria com Nando Reis, é uma das várias que revelam a influência da soul music na carreira dela, que sempre reverenciou o talento do seu ídolo campinense Cassiano, com quem gravou ‘Cedo ou tarde’. “Cassiano sempre foi uma grande referência pra mim: seu senso melódico, seu timbre, sua voz marcante fizeram parte da minha formação. Reconheço no meu próprio canto o forte traço soul brasileiro que identifico nele. Conheço os seus álbuns de cor. Tive a sorte e o privilégio de gravar com ele”, afirma a cantora, que traz a mesma pegada em ‘O que me importa’, sucesso na voz de Tim Maia, e ‘Calma’, bem mais recente, em parceria com Chico Brown.

O músico, filho de Carlinhos Brown e neto de Chico Buarque, com apenas 23 anos, é um dos grandes instrumentistas com quem ela se cerca no show e com quem ela compôs, além de ‘Calma’, ‘Déjà-vu’, presentes em seu álbum mais recente. Chico Brown se divide entre o baixo, a guitarra, voz e teclados, compartilhando o palco ainda com Dadi (baixo, teclado e guitarra), Davi Moraes (guitarras), Pupillo (bateria) e Pretinho da Serrinha (percussão, cavaquinho e voz). Outro destaque é o poderoso trio de metais formado por Antonio Neves (trombone, adaptações e arranjos de metais), Eduardo Santanna (trompete e flugelhorn) e Lessa (flauta e sax). Eles são os responsáveis por criar uma atmosfera mais pulsante ao show que, desta forma, se diferencia dos arranjos que destacam as cordas no álbum Portas.

Tomando todo o espaço do palco, uma caixa cênica formada por telões, onde são projetadas imagens, cria uma atmosfera visual capaz de deixar o público completamente imerso na apresentação. “Sou responsável pela ideia inicial, e por várias decisões, mas conto com uma equipe primorosa que desenvolve tudo e vai muito além”, afirma a artista, encarregada pela concepção visual do show, ao lado de Batman Zavareze e do cineasta Cláudio Torres. Os efeitos foram desenvolvidos a partir da exposição denominada Fundos, da artista visual gaúcha Lucia Koch. “Acompanhar a produção de artistas plásticos, visitar exposições e conhecer as novidades são sempre um prazer pra mim. Mas nesse período isso só foi possível filtrado pelas telas do computador”, conta Marisa Monte, que produz uma apresentação luxuosa também nos figurinos. São cinco as trocas de roupas, sempre combinando com a iluminação e os atos do show, como quando veste a saia rodada de Oyá citada na letra de ‘Vento sardo’, composta por ela e o uruguaio Jorge Drexler.

Consagrada como uma das melhores cantoras do país, com mais de 10 milhões de álbuns vendidos e quatro prêmios do Grammy Latino no currículo, a artista tem dois álbuns entre os 100 melhores da música brasileira, e demonstra como atingiu esse reconhecimento contando grande parte dessa história no palco d’A Teatro Pedra do Reino. Depois de interpretar ‘Eu sei’ (1991), ‘Seo Zé’ (1994), ‘Lenda das sereias, rainhas do mar’ (1975), ‘Preciso me encontrar’ (1976), ‘Magamabalares’ (1996) e ‘Já sei namorar’ (2002), ela volta ao palco para fechar o show em seu segundo bis cantando apenas os primeiros versos de ‘Bem que se quis’, versão em português criada por Nelson Motta, em 1989, e que lembra como o caminho de Marisa é uma porta que está sempre aberta e por onde o público atravessa para encontrar um lugar para ficar. “Hoje, com a trajetória de quase 30 anos, tenho um repertório muito extenso, muitas canções populares, que já não são mais minhas e que fazem parte da vida de muitas pessoas. É muito bonito testemunhar isso e celebrar a vida, compartilhando arte, poesia e emoção com o meu público”, finaliza Marisa Monte.

Foto: Leo Aversa/Divulgação

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 28 de abril de 2022