Pensar. O verbo que dá nome ao caderno mensal de A União revela a intenção do jornal em relação ao leitor: abordar, nessa editoria, temas relevantes, a partir de uma grande reportagem. Criado há seis anos, o segmento vem sendo editado em formato de revista desde 2020, reproduzindo matérias originalmente publicadas nos meses anteriores. A quarta edição da revista Pensar virá a público em um evento gratuito amanhã, às 9h, no Cine Aruanda (Centro de Comunicação Turismo e Artes da Universidade Federal da Paraíba, CCTA-UFPB), em João Pessoa. O produto estará nas bancas a partir de amanhã, ao custo de R$ 20.
O lançamento será mediado por Jorge Rezende (editor do caderno na época das matérias publicadas neste volume) e Audaci Júnior (atual editor). A quarta edição reúne 12 reportagens, publicadas entre janeiro e dezembro de 2022, compiladas em 98 páginas. A capa contém ilustração de Bruno Chiossi.
Entre os tópicos abordados, estão temas gerais sob vieses específicos, como a eleição (motivada pelo pleito daquele ano) e “Interpretação: o que é para mim é para você?”. Outros assuntos, como estoicismo e idiossincrasia dão nomes a comportamentos raramente delimitados por meio do próprio vocábulo: o primeiro perfaz uma corrente filosófica que define o modo de encarar, de maneira menos sofrida, a inevitabilidade de fatos como a morte; o segundo descreve os comportamentos característicos de cada indivíduo.
O surgimento do Pensar coincide com a criação da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), no primeiro semestre de 2019, e com a nova fase dos veículos pertencentes ao conglomerado. A editoria foi idealizada por Naná Garcez, diretora-presidente da EPC, e entregue, inicialmente, aos cuidados de Jorge Rezende.
“A ideia, já pelo título, era provocar. Trataríamos de temáticas atemporais, que estivessem de maneira mais aprofundada nessas quatro páginas. Não queríamos algo rebuscado, mas que, em alguma medida, tivesse um tratamento acadêmico. O extinto Correio da Paraíba chegou a fazer algo similar nos anos 1990, com o Terceiro Caderno, mas não com a densidade que nós damos”, afirma Jorge.
Desde então, a cada mês, uma temática diferente é debatida, com o depoimento de pessoas comuns e de especialistas. Depois de finalizado, o segmento chega às mãos dos leitores no penúltimo domingo de cada mês. A primeira edição do caderno abordou os direitos humanos, a partir das legislações que mantêm essas garantias. “Como os temas instigam essas discussões, se faz necessário que repórteres diversos sejam pautados para o Pensar, em formato de rodízio, para que tenhamos tratamentos diferentes. Na minha época, eu procurava jornalistas de várias editorias, mas, como eu conhecia os colegas, costumava entregar temas que estivessem mais alinhados àquela pessoa”, recorda o antigo editor.
Orgulhoso do projeto que ajudou a implantar, Jorge chama o Pensar de “filho adotivo”. Ele assevera que alguns dos temas selecionados para o caderno anteciparam discussões que meses depois foram assunto na internet, em nível nacional, como a gordofobia e a aporofobia, tópicos presentes na revista e que designam aversão a pessoas gordas e pobres, respectivamente.
“Acho que temos cumprido a nossa missão, a de, literalmente, fazer pensar. Apesar de termos mexido com certos tabus, sempre recebemos retorno positivo, por meio de e-mails ou telefonemas. Sei que algumas edições serviram de fonte para trabalhos escolares ou acadêmicos. Creio que essa é uma das funções da comunicação”, garante.
Junto à academia
Audaci Junior assumiu o Pensar em fevereiro de 2024, junto com mais dois segmentos — o Memorial e o Almanaque — e recebeu, neste ano, a missão de editar a quarta edição da revista. Ele considera o Pensar uma extensão dos demais cadernos, trabalhando, por vezes, na mesma perspectiva de investigar termos do passado ou expandir temas do presente.
“No ano passado, por exemplo, tratamos da sorofobia, o preconceito contra portadores do vírus HIV. Chegamos a esse tópico graças a um episódio sorofóbico, ocorrido naquela época. Mas, em vez de apenas repercutir por um breve momento e acabar o assunto, nós encampamos o debate. Justamente por isso, acho que esse é um dos cadernos mais pertinentes no jornal”, revela o atual editor.
Apesar da distância temporal entre a publicação no jornal e a compilação na revista, Audaci indica que as reportagens permanecem com o mesmo frescor e a mesma urgência de quando foram escritas. Foram realizados apenas ajustes diminutos, como datas e menções a políticos que foram substituídos em seu mandato.
“Nas nossas reuniões de pauta, fazemos aquela ‘tempestade de ideias’ e notamos que cada abordagem poderia ter mais do que quatro páginas. A gente acaba precisando definir certos recortes. Não queremos trazer a verdade, porque verdade absoluta não existe. Essas reportagens servem de combustível para o leitor refletir e dizer: ‘Nunca tinha pensando nisso sob esse prisma’”, assinala Audaci.
Entre os temas que mais surpreenderam o editor está o gaslighting, situação de assédio psicológico contra a mulher em que o agressor leva a vítima a duvidar de sua própria memória ou capacidade mental. O nome dado a essa forma de opressão foi inspirado na peça e no filme À Meia Luz (1944; Gaslight, no original): a personagem de Ingrid Bergman é quem padece nas mãos do companheiro.
“Eu nem sabia o que era. Às vezes, a pessoa até tem noção do que se trata ou já sofreu algo parecido, mas não conhece esse termo. Lendo e coletando outros dados sobre ele, você acaba agregando ainda mais conhecimento”, opina.
Comentando o fato de o lançamento estar sendo realizado na UFPB, com a participação de alunos do curso de Jornalismo, Audaci marca como essencial a aproximação com a academia. Segundo ele, os textos podem criar um vínculo diferente com a profissão, permitindo que os estudantes percebam o mercado por meio de um entendimento menos imediatista. “Por vezes, a universidade fica muito longe do campo profissional. Será muito importante estarmos lá para dizer que existimos enquanto jornal há 132 anos e que temos, no Pensar, um dos grandes exemplos para aprofundarmos uma pauta. Acho que eles serão beneficiados e, quem sabe, alimentados para dizer: “Quero escrever algo assim também”, projeta.
Naná Garcez considera que os conteúdos do Pensar ganham fôlego a partir de sua edição em um novo formato, mas ressalta que, desde a sua publicação original, esses tópicos têm suscitado reflexões junto ao seu público, a partir da possibilidade de trocarmos o enfoque cotidiano por uma perspectiva mais densa.
“Proporcionamos ao nosso público um conteúdo de qualidade. E, quando a gente leva essa discussão de volta para as bancas ou para o ambiente das faculdades, permitimos que pessoas que nem sabiam da existência do Pensar se interessem em ter a revista, exatamente em função das abordagens que estão sendo feitas ali”, conclui a gestora da EPC.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de fevereiro de 2025.