O “grilo mais inteligente do mundo” voltou à Paraíba. Homenageado do 2o Festival Internacional de Cinema de João Pessoa (FestinCineJP), o ator Matheus Nachtergaele esteve no último domingo em João Pessoa para a abertura do evento, que também contou com a participação do patrono da mostra, o diretor Jayme Monjardim. Na ocasião, foi exibido Mais Pesado É o Céu, do diretor cearense Petrus Cariry, filme mais recente com Nachtergaele e que conta com a participação do ator paraibano Buda Lira – presente na plateia.
Na expectativa para a estreia da sequência do filme O Auto da Compadecida, que deve chegar às salas de cinema do país no próximo dia 25 de dezembro, Matheus considerou, em sua fala, o momento propício desta estreia e a expectativa positiva para a obra. “Para Selton (Mello) e para mim, existe uma vida antes e depois d’O Auto. Esse filme nos jogou direto para o coração do público. Fizemos coisas muito lindas depois, mas seremos para sempre os personagens de Ariano Suassuna”, projetou o ator.
Para celebrar a homenagem, Nachtergaele recebeu uma obra de arte exclusiva, desenvolvida pelo artista paraibano Chico Ferreira. Emocionado, ele relembrou a sua primeira vinda ao estado, em 1998, e a importância da Paraíba na sua carreira. “Eu não tenho mulher, não tenho filhos, não tenho nada. Só tenho essa carreira, o que não é pouco. Um dos lugares marcantes em que estive nas minhas viagens por esse Brasil foi a Paraíba. Quando encontro alguém que sorri para mim, sei que esta pessoa, de alguma forma, está sorrindo para João Grilo”, assegurou.
“O Brasil é um sertão”
Depois da abertura, Jayme e Matheus participaram de uma entrevista coletiva. O ator falou sobre a representação crescente do Nordeste – sobretudo o Sertão – no audiovisual, em filmes, novelas e séries e que isso é utilizado como espelho da sociedade brasileira, numa perspectiva mais “urgente”. “O Brasil, do ponto de vista do mundo, é um sertão. A gente não está na primeira fila. O mundo espera plantar e colher coisas livremente, mas a gente está aqui para tentar atrapalhar esses interesses”, pontuou Matheus.
Jayme completou relembrando que filmes brasileiros de grande expressão nos últimos 50 anos, como O Pagador de Promessas (Anselmo Duarte, 1962) e Bye Bye Brasil (Cacá Diegues, 1980), produziram imagens do nosso país de “de dentro para fora”, asseverando que o Nordeste foi parte importante na condução de filmes que fizeram públicos nacionais e internacionais conhecerem melhor o Brasil. “O mundo tomou conhecimento dos Estados Unidos através do cinema americano. Natural que também façamos isso através da qualidade de nossas novelas e de nossos filmes”, disse Jayme.
“Cinema não é fácil”
Ator e diretor comentaram sobre o contexto de produção e exibição dos filmes após a pandemia de Covid-19, considerando o aparente desinteresse do público em voltar às salas de cinema. Monjardim contou que no início da crise sanitária havia acabado de lançar um filme, O Avental Rosa, que teve sua promoção prejudicada pelas medidas de isolamento. “Cinema não é fácil. É triste para nós que estamos ali com nosso roteirinho debaixo do braço, correndo atrás de produtores e distribuidores. A projeção de grandes filmes como O Auto da Compadecida 2 pode ser o princípio de uma retomada no setor”, confiou o diretor.
Nachtergaele admitiu que as telas – dos celulares e computadores – ocuparam um espaço definitivo na vida das pessoas. Ele mesmo confessou que reserva para as salas do cinema o ingresso de filmes que “valham a pena” ser assistidos na grande tela, mas assevera que as experiências coletivas e com públicos pequenos possam ser um atrativo. “Recentemente assisti A Paixão Segundo G. H. adaptação de Luiz Fernando Carvalho para texto de Clarice Lispector. Foi num cinema de rua, no Rio. O filme não teve bilheteria nenhuma. Mas para os 30 amantes do cinema que estavam comigo naquela sessão, aquele filme existiu”, ponderou o ator
“Investir em emoção”
Sobre a persistência da TV como veículo produtor de audiovisual e como primeira janela de produções de impacto, Nachtergaele afirmou que o país ainda é “primitivo” e que a TV segue sendo a principal forma de acesso de grande parcela da população à arte. “Quando eu faço televisão, eu faço com um amor muito grande. Acho fundamental que produzamos algo lindo. Mas acho que um dia voltaremos ao teatro, com tendência humanizante das narrativas. Apesar de as salas de cinema terem ficado às moscas, as plateias de teatro estão lotadas agora”, exprimiu.
Monjardim sinaliza que a TV vive um momento complicado de perda de popularidade entre espectadores mais jovens. Segundo o diretor, o caminho da produção audiovisual neste veículo é o investimento em produções de impacto, “épicas”, na tentativa de reconquistar as pessoas que deixaram de consumir televisão. “Eu sou um contador de histórias de novelas. E acho que são elas que vão ‘segurar’ a TV aberta. Mas neste ponto, concordo com Matheus: se não for através da TV, o teatro será o lugar em que poderemos experimentar sensações. Devemos investir em emoção, é nisso que acredito”, finalizou.
PROGRAMAÇÃO DE HOJE
Usina Energisa
- Sala Vladimir Carvalho
9h – Laboratório de produção executiva, com Clémentine Mourão-Ferreira, Marcus Baldini e Adrien Muselet
14h – Oficina Distribuição, com Marceli Moreira (Downtown Filmes)
- Tenda
9h – Debates sobre filmes das mostras competitivas, com mediação de André Dib
14h – Rodadas de negócios
- Café da Usina
14h – Painel “A contribuição das mulheres negras para o cinema brasileiro: Antônia Ágape e o Super-8 paraibano”, com Tatiana Carvalho (Apan), Antônia Ágape e Carine Fiúza
Centerplex (MAG Shopping)
- Sala 1
14h – Mostra Jayme Monjardim: Olga (2004) [2h21, 14 anos]
16h30 – Sessão Hors Concours: As Cegas [livre]; Mostra competitiva: Cuaderno de Nombres (Chile) [8min, 14 anos]; Muertes y Maravillas (Chile) [1h10, livre]
19h –Sessão Hors Concours: Esperançar, de Flavinho Ramos [11min, 12 anos]
19h – Mostras competitivas: Jussara (Brasil) [8min, livre]; Solange (Brasil) [1h, 14 anos]
21h – Mostras competitivas: Travessias (Brasil) [22min, 12 anos]; Ramona (República Dominicana) [1h21, 14 anos]
- Sala 2
15h30 – Reprise das mostras competitivas: Samuel Foi Trabalhar (Brasil) [17min, 10 anos]; Cervejas no Escuro (Brasil) [1h24, 12 anos]
19h30 – Mostras competitivas: Travessias (Brasil) [22min, 12 anos]; Ramona (República Dominicana) [1h21, 14 anos]
21h30 – Mostras competitivas: Jussara (Brasil) [8min, livre]; Solange (Brasil) [1h, 14 anos]
Local
- Na Usina Cultural Energisa (Av. Juarez Távora, 243, Centro, João Pessoa)
- No Centerplex MAG Shopping (MAG Shopping, Av. Gov. Flávio Ribeiro Coutinho, 115, Manaíra, João Pessoa)
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 28 de maio de 2024.