Depois de cinco anos, a artista Heloísa Maia volta a realizar exposição na Paraíba. Trata-se da mostra Deserto, (De)sertão, Sertão… Ancestral, cuja abertura acontece hoje, a partir das 19h, no Centro Cultural São Francisco, em João Pessoa. A individual inclui 44 obras, entre pinturas em telas e sobre papel, além de uma mesa de jantar montada com vários utensílios de barro pintados, que apontam ligações entre o Sertão nordestino e o Marrocos.
Com curadoria de Walter Arcela, a mostra permanece aberta à visitação do público até 9 de dezembro, sempre no período de terça-feira a domingo, das 9h às 16h, com entrada até as 15h45, e, aos domingos, das 9h às 15h, com ingresso até as 14h45. A entrada custa R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia).
“Gosto muito de mostrar o meu trabalho na Paraíba, onde tenho ido com frequência, e a Galeria Espaço Arte Brasil, de João Pessoa, é quem representa minhas obras para a região Nordeste. Meu trabalho tem muito a ver com a Paraíba. Essa nova exposição é toda baseada em minhas memórias afetivas e na ancestralidade da família, principalmente do meu pai, Adolpho Maia, que morreu por conta da Covid-19 em 2021, aos 85 anos de idade. Foi uma coisa muito rápida, que deixou todo mundo abalado, porque meu pai era muito presente no convívio familiar”, disse Heloísa Maia, que está radicada em Miami, nos EUA, desde 2007.
A artista, que é natural de João Pessoa, relatou como surgiu a ideia do projeto da exposição. “Por incrível que pareça, essa história começou no Marrocos, onde estive de férias, para passear, em 2022. Quando estava lá, me lembrei de uma conversa que meu pai teve comigo, há cerca de 35 anos, em que ele achava que seus ancestrais poderiam ter vindo do Marrocos, país que ele também chegou a visitar, por causa da similaridade de ser um povo resiliente, pela simplicidade das pessoas, assim como o sertanejo, e por viver numa região árida, rural”, disse ela, que também fará visitas guiadas com o público, durante a individual.
“Fora essa parte emocional, a origem da família poderia ser, talvez, o fato dos povos do Norte da África, os mouros e berberes, que são os antigos marroquinos, tenham invadido, há cerca de 800 anos, a Europa, principalmente Espanha e Portugal, de onde a família do meu pai é descendente, e depois é que os portugueses vieram para o Brasil. Claro que nada disso pude atestar na minha pesquisa histórica, que só foi até 200 anos atrás. Não tenho base da pesquisa histórica para comprovar, porque minha pesquisa é baseada em hipóteses, pictórica. Mas, hipoteticamente, é uma coisa viável”, observou Heloísa Maia.
No ano passado, a artista viajou ao Marrocos duas vezes. “A primeira vez foi em junho e a segunda em outubro, quando aluguei um lugar, montei um atelier entre a cidade de Marrakesh e o deserto do Saara e passei um mês pintando. Parte das obras dessa exposição foi produzida lá e, depois, levei para meu atelier em Miami, onde fiz o acabamento. Em fevereiro e agosto de 2023, fiz duas viagens para o Sertão e, na cidade de Catolé do Rocha, comecei a pintar. Essa exposição é muito importante porque se baseia nas memórias, através do meu pai, mas também pela relação do Marrocos com o Sertão da Paraíba, numa ligação entre esses dois mundos. São partes da história da minha família e é por isso que o nome da exposição remete à formação da palavra ‘Sertão’, que vem de ‘desertão’, um grande deserto, que era como os portugueses identificavam a região. Não é uma tentativa de provar nada, mas de afetividade”.
A exposição ocupa duas salas. Em um ambiente está o que considera o “corpo central” da mostra, onde o público vai apreciar nove obras de grandes dimensões. “São quadros que mostram cenas que me marcaram muito, tanto no Marrocos como no Sertão. São paisagens, casas, registro de pessoas e da família, que mostram minhas memórias. Uma das telas principais retrata a Fazenda Curralinho, que é a casa principal da família Maia, em Catolé do Rocha. Há, também, cenas do Marrocos, como a vegetação, tamareiras e o deserto do Saara. É tudo muito colorido, pois trabalho muito com cores e com muita luz, porque é assim a maneira como enxergo o Marrocos e o Sertão”, comentou ela.
No outro salão, foi montado um ambiente com obras de menor porte. “São vários trabalhos de pintura sobre papel e mais nove telas que também retratam cenas do Marrocos e do Sertão. Nessa mesma sala ainda estão utensílios de barro, que comprei no Marrocos e em João Pessoa, e montei uma mesa de jantar com cinco cadeiras, para representar os membros da família, onde estão pratos, canecos, panelas e cuscuzeiras. Eu pintei de forma bem colorida, embora apareça o barro, em algumas partes das peças. Essa parte de cerâmica produzi na Paraíba e, como também uso muito pigmento seco nas minhas telas, mesclei pigmentos do Marrocos e Paraíba para pintar os utensílios”, disse a artista.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 09 de novembro de 2023.