O interesse pela sétima arte e a paixão pela literatura alicerçaram a trajetória do jornalista e professor paraibano Aroaldo Maia, tanto como entusiasta do cinema, quanto como escritor. Reunindo crônicas sobre temas diversos, ele lança, agora, o seu mais novo livro, homenageando, de uma vez só, as duas formas de expressão que mais lhe influenciaram ao longo da vida: Como Se Fosse Um Filme chega a público na próxima na próxima quinta-feira (31), a partir das 19h, no Pavilhão Central da Memória Sapeense, situado no Centro da cidade de Sapé, Zona da Mata paraibana. O evento, gratuito, conta com apoio da Academia Sapeense de Letras, Artes e Cultura (ASLAC), do qual Aroaldo é membro.
Os 26 textos reunidos nesta obra, editada pela Ideia, passeiam não apenas por temas cotidianos, algo próprio do gênero, mas por lembranças do próprio Aroaldo. Tais crônicas são adjetivadas como “memorialistas” por Socorro Medeiros, colega que assina a orelha de Como Se Fosse Um Filme. Exemplo disso é “A expulsão”, que abre o livro: ele narra a saída tumultuada de um colega do exército, na juventude. “Foi uma coisa que guardei por 60 anos ”, revela o escritor nesta que é a sua quarta publicação.
Já em “O cinema de arte”, ele faz uma digressão sobre o hobby que mantinha, no passado: a ida semanal ao antigo Cine Municipal, em João Pessoa, para conferir os longas-metragens que chegavam à capital; o título do livro, a propósito, faz reverência não apenas a esse costume, mas ao modo como tais memórias são reavivadas em sua mente, como uma fita projetada na tela branca. “Eram os clássicos de Elia Kazan, Cecil B. DeMille e Alfred Hitchcock. São coisas que não vemos mais a não ser TV, raramente”, lamenta.
O exercício das letras e o reconhecimento de sua importância na carreira como escritor e docente extravasam o âmbito pessoal. Aroaldo mantém um projeto próprio e contínuo de doação de livros a instituições públicas do estado. A idéia surgiu em uma viagem ao município de Alagoa Nova. “Sou maçom e em contato com outros irmãos disse que incomodava o fato de não haver uma biblioteca pública naquela cidade. Mas eles disseram que havia, sim, e que havíamos passado por ela: funcionava num prédio sem fachada”, detalha.
A primeira doação, de 500 volumes, veio do acervo do próprio Aroaldo. A esta seguiram-se outras, destinadas às demais bibliotecas e escolas de Alagoa Nova, Mari e Sapé, sua terra natal. Ele estima ter doado mais de seis mil exemplares ao longo de 12 anos. “Até na cadeia pública eu botei livros, por meio de um irmão nosso que trabalhava lá. Entrei, cumprimentei os presos e fiz uma rápida palestra sobre o benefício da leitura, aconselhei que eles aproveitassem o tempo em que estariam privados de liberdade para ler”, assinala.
Esse segmento está presente de forma ativa na vida de Aroaldo Maia desde a infância. Dos gibis de detetives que consumia ele saltou, já adulto, para os primeiros textos autorais, que foram publicados, inicialmente, no extinto jornal O Norte, na segunda metade dos anos 1970. “Um cunhado que trabalhava em A União me convidou para ser colunista lá. Passei a década de 1980 colaborando com este jornal. Na década de 1990, fui para O Combate, fundado por Jório Machado, após a sua saída de A União”, remonta.
Com a terceira idade veio a estréia como autor titular, depois de participar de uma dezena de coletâneas locais: o livro de crônicas Grafites (Editora Ideia, 2020). Ele está produzindo sua quinta obra, a ser lançada no ano que vem. “Na época do exército, nas manobras que fazíamos no mato, eu andava sempre com aquele exemplar de bolso. Quando tinha um momentinho, lia à luz de velas. Talvez isso tenha estragado um pouco a minha vista. Mas, para mim, a leitura é tudo. É fundamental para todo ser humano”, conclui.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 29 de julho de 2025.