Exibido nos cinemas de João Pessoa no sábado passado, A Viagem de Chihiro rapidamente esgotou ingressos. Mas o sucesso levou os cinemas a programarem novas sessões e a animação japonesa de Hayao Miyazaki ainda poderá ser vista hoje e amanhã, em cópias dubladas (no Cinépolis do Manaíra Shopping) e legendadas (no Centerplex do MAG Shopping). A sessão de hoje, no MAG, às 18h30, faz parte do projeto Papo na Tela, parceria da rádio Parahyba FM com o Centerplex e é seguida de debate. Para esta sessão, os ingressos custam R$ 20.
Amanhã, o Centerplex exibe Chihiro às 18h45. Já no Cinépolis o filme passa hoje, às 20h50, e amanhã, às 21h20. A volta do filme aos cinemas faz parte do Ghibli Fest, que celebra os 40 anos do estúdio Ghibli e da Sato Company, empresa brasileira responsável pela distribuição desses títulos no país. Outros filmes do estúdio estão sendo exibidos desde a semana passada.
- O sucesso das sessões do fim de semana levou os cinemas de João Pessoa a programarem novas apresentações da obra-prima de Hayao Miyazaki, vencedora do Oscar de melhor filme de animação
A tal Viagem narra as desventuras da protagonista de mesmo nome, em companhia de seus pais. O carro da família, que está de mudança, desvia da rota principal e estaciona numa cidade abandonada. Enquanto os adultos encontram comida num restaurante estranhamente vazio, Chihiro explora os arredores. A menina conhece, então, o jovem Haku, ser misterioso que habita o local: o rapaz adverte que ela e os seus parentes devem deixar aquele local antes do anoitecer.
Mas é tarde demais. Ao chegar até os pais, Chihiro vê que eles foram transformados em porcos gigantes. E a cidade, antes deserta, começa a tomar forma, com surgimento de casas e com a aparição de criaturas fantásticas.
Ao mesmo tempo, Chihiro começa a desaparecer, sendo ajudada mais uma vez por Haku, que fornece um alimento capaz de mantê-la viva naquele ambiente. A menina parte em busca de uma solução para o atual estado de seus pais, infiltrando-se como empregada numa sauna. Ela é acompanhada de perto por Yu-bird, meio ave, meio gente: a vigilância é encampada por Yubaba, bruxa responsável pelo feitiço dos pais de Chihiro e a única capaz de desfazê-lo.
Para adultos e crianças
Em meio a essa aventura, conhecemos outros personagens de Miyazaki, parte deles inspirados pelos yōkai, espíritos do folclore japonês. Sem Rosto, o mais conhecido, é um fantasma solitário que segue a heroína de perto. Os traços da protagonista também foram desenhados tendo como base uma referência conhecida pelo diretor — Chiaki, filha de seu produtor, Seiji Okuda. Lançado no Japão em 2001, ganhou distribuição da Disney nos Estados Unidos, tornando-se um sucesso também na América do Norte, ganhando o Oscar de filme de animação em 2003. Durante mais de duas décadas, foi a maior bilheteria do cinema japonês, sendo superada apenas em 2020.
Após a exibição da sessão Papo na Tela, hoje, o debate será com as jornalistas Gi Ismael e Nalim Tavares, mediado por Ângela Duarte. A primeira lembra que assistiu ao filme ainda na adolescência, quando era otaku, como são chamados os entusiastas dos animes e dos mangás (animações e quadrinhos japoneses).
Naquela época, o que mais chamou a sua atenção foi a personalidade heróica de Chihiro. “Rever o filme, já adulta, abriu um olhar mais crítico. Percebi nas entrelinhas as batalhas da classe trabalhadora, a sociedade de consumo, o afastamento da natureza. Cada exibição revela algo novo, e tenho certeza de que assistir, novamente, agora, terá outro impacto em mim e no público. Esse é justamente o efeito das obras-primas: elas não se esgotam”, destaca.
O maior mérito dos trabalhos do Ghibli, de acordo com a debatedora, é a capacidade de criar um universo delicado e atrativo para as crianças sem esquecer de contemplar o público adulto. Esse conecta-se com os títulos japoneses graças aos discursos “escondidos” nas entrelinhas, explorando, nesse ínterim, temáticas cotidianas e urgentes.
“O Ghibli transformou a animação ao mostrar que é arte, memória e reflexão. Suas obras unem beleza estética a narrativas que tratam de temas universais, da guerra ao meio ambiente, regados de delicadeza. Criam um espaço de contemplação em meio à lógica acelerada do entretenimento. Não à toa seus filmes se tornaram referências globais”, resume a jornalista.
Maratona Ghibli
Nalim Tavares também guarda na memória o seu primeiro contato com A Viagem de Chihiro — ainda criança, numa “maratona”, ao lado de outros dois longas-metragens do Ghibli — O Serviço de Entregas da Kiki (de 1989, que também será exibido hoje, no MAG, às 18h45, legendado) e Meu Amigo Totoro (de 1988).
“Dava para perceber que o estilo da animação era diferente e meus primos me contaram dessa tradição de desenhar e pintar as cenas à mão. Eles tinham um dos livros de arte do Ghibli também e ficaram me mostrando as aquarelas e os rascunhos, contribuindo para que eu sentisse que aqueles filmes eram especiais”, lembra.
O Ghibli Fest tem, hoje e amanhã, outros filmes em exibição. Hoje, o Centerplex MAG programa também Vidas ao Vento (2013, às 16h15, legendado), e o Cinépolis Manaíra mostra Eu Posso Ouvir o Oceano (1993, às 19h, dublado). Amanhã, Porco Rosso, o Último Herói Romântico (1992) passa no Centerplex às 16h30, no som original com legendas, e no Cinépolis, às 19h, dublado.
André Cananéa, gerente conteúdos e de programação da Parahyba FM assevera a importância da Sato Company nesse tributo ao estúdio japonês: “Como admirador de cinema e de animações, digo que eles detém a distribuição de um acervo da melhor qualidade. Grandes filmes com muitas camadas e, principalmente, muitas lições”.
Fazendo um balanço do projeto Papo na Tela, que nas edições anteriores promoveu sessões comentadas dos filmes Homem com H e Superman, Cananéa atesta como diferencial dessa iniciativa o entrosamento entre as duas linguagens, o cinema e o rádio, algo que estimula de forma positiva a análise, junto aos espectadores, dos longas-metragens debatidos.
Onde:
- CENTERPLEX (MAG Shopping, Av. Gov. Flávio Ribeiro Coutinho, nº 115, Manaíra, João Pessoa).
- CINÉPOLIS MANAÍRA (Manaíra Shopping, R. Manoel Arruda Cavalcante, nº 805, Manaíra, João Pessoa
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de setembro de 2025.