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Morte do dramaturgo Paulo Pontes completa 40 anos

publicado: 27/12/2016 00h05, última modificação: 28/12/2016 01h40
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O paraibano Paulo Pontes nasceu em Campina Grande e se consolidou como um dos principais dramaturgos e teatrólogos do País - Foto: Divulgação

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Hilton Gouvêa

Hoje completam-se 40 anos que o teatrólogo e dramaturgo paraibano Vicente de Paula de Holanda Pontes - Paulo Pontes – morreu no Hospital São Samaritano (RJ), aos 36 anos de idade. Um câncer o retirou do mundo das artes. Imediatamente a classe teatral homenageou-o como o profissional e intelectual que era: uma sumidade. As cartas de condolências lidas nos teatros traduziam saudade e comoção. E, quem sabe, se um coro de anjos não teve seu choro abafado pelo alarido de humanos inconsoláveis?

Seu caixão, ao baixar na sepultura do Cemitério São Francisco, em 28 de dezembro de 1976, seria, na opinião de um sábio, uma espécie de invólucro que conduzia o gênio responsável pela criação da peça “Um Edifício Chamado 200”, de grande sucesso nacional, e de outras raridades da dramaturgia. Foi um dos redatores da série “A Grande Família”, dirigida por Milton Gonçalves e produzida pela Rede Globo, que a exibiu entre 26 de outubro de 1972 e 27 de março de 1975, em 112 episódios.

Nascido a 8 de novembro de 1940 em Campina Grande (PB), Paulo foi amigo e contemporâneo de grandes nomes da constelação artística brasileira: Chico Buarque de Holanda, Ruy Guerra, Jorge Dória, Oduvaldo Viana Filho, Flávio Rangel, Antunes Filho e a atriz Bibi Ferreira, com quem foi casado. Homem do teatro e rádio, ele surgiu como precursor dos programas radiofônicos de meio-dia. Deixou isto claro ao comandar “O Rodízio”, na Rádio Tabajara, em João Pessoa, que inspirou as programações similares até hoje existentes no Brasil.

Por causa de realidades assim, o elegeram patrono do Teatro do Espaço Cultural José Lins do Rêgo, atualmente um dos mais frequentados da Paraíba. Paulo foi mais longe: no auge da Ditadura Militar, se insurgiu contra a liberdade de expressão e de imprensa, personificando a coragem artística de enfrentar o arbítrio instalado no Brasil, após o ano de 1964. Coincidentemente, em 1976, ano de sua morte, também morreram três paladinos da liberdade: Juscelino Kubitscheck, João Goulart e a estilista Zuzu Angel.

Forçado pela chuva e induzido por uma linda atriz

O cineasta paraibano Ipojuca Pontes, atualmente morando no Rio de Janeiro, concedeu entrevista exclusiva ao repórter Hilton Gouvêa. Segundo ele, “Paulo se interessou pelas artes cênicas a partir de um convite da atriz Gil Santos, que o convidou a assistir um ensaio no Teatro Santa Roza”. A entrevista:

Como surgiu o gosto de Paulo Pontes pelo teatro?

Uma linda atriz, Gil Santos, nos viu no Santa Roza, aguardando passar uma chuva. E convidou Paulo para assistir um ensaio. Daí nasceu um caso de amor à primeira vista, que o fez envolver-se, ainda adolescente, com a engrenagem teatral.

Existe alguma curiosidade na vida de Paulo que a gente desconheça?

Paulo tinha bela voz, bem modulada. Queria ser ator. Em 1958, quando se uniu à turma do Teatro da Cultura, os Irmãos Cordeiro lhe ofereceram um pequeno papel, em “Apenas uma Cadeira Vazia” Apesar de passar duas semanas ensaiando, Paulo tropeçou numa fala. O teatro perdeu um ator, mas ganhou um bom autor.

Paulo era chegado ao teatro, circo e dramaturgia. Era possível entre você cineasta, e ele dramaturgo, haver harmonia de ideias?

Nossas eventuais discussões eram de natureza política. Ele pensava de um modo e eu de outro. De resto, sempre considerei o cinema não como arte, mas como um código de comunicações. Já com o teatro é diferente: o mundo ocidental começou a pensar e se emocionar com a tragédia grega e os dramas de Sheakepeare. Em suma: sempre consideramos a dramaturgia como um labor que deve chegar à beleza, em termos aristotélicos, pela emoção. Por isso, entre eu e Paulo, neste ponto, nunca houve discordância.

A convivência com Bibi e Procópio Ferreira teria inspirado Paulo a se tornar o gênio teatrólogo que foi?

Bibi nem Procópio não tiveram a menor influência sobre o teatro e a formação de Paulo Pontes. Quando Paulo passou a viver com Bibi, Procópio já era ator decadente, perto dos 90 anos. A conversa de Procópio, depois de algum tempo, até fatigava. E ele, então, já estava longe da personalidade que levou o Brasil a descobrir o teatro.

No que se refere a Bibi, Paulo a fez ingressar na TV Tupi, por intermédio da comediante Nádia Maria. Com o estado pré-falimentar da emissora, Paulo a levou de volta para os palcos, como diretora de “Brasileiro, Profissão Esperança!.” Depois, para atuar como atriz no musical o “Homem de La Mancha”, do qual Paulo era o produtor.

Antes de escrever “Gota D’água”, Paulo se separou de Bibi e foi viver com Marisa Raja Gabaglia, jornalista controversa e neta de paraibanos. Posteriormente voltou para Bibi. Aí estava doente e perto do fim. O apoio de Bibi a Paulo foi emocional, nada desprezível para quem enfrentou a briga de foice, que permeia a luta pelo sucesso.