Integrando a memória cultural do Sertão Paraibano de Aparecida desde 2009, a Mostra Acauã do Audiovisual Paraibano realiza, de hoje a sábado (8), sua 14ª edição. Neste ano, a Fazenda Acauã faz as vezes de cinema para 32 produções, compostas majoritariamente por curtas-metragens paraibanos, contemplando títulos realizados em 22 municípios, no período de 2023 até 2025, como o recente Habeas Pinho (exibido amanhã), além de lançamentos oriundos de Aparecida e Sousa. O evento tem entrada franca.
Hoje serão exibidas as ficções Coral (de Jackson Kakito) e Luciá (dirigido por Priscila Tavares), além dos documentários Béradêro – Chico César e Mama África (com direção de Gabriel Navajo), Cajazeiras Sitiada (de Janduy Acedino) e Mata Branca Vivências (do Coletivo Mata Branca).
“A fazenda tem muitas histórias e lá é onde a gente realiza as exibições”, afirma Laércio Filho, coordenador da mostra. “A gente aproveita o espaço do conjunto também para exposições — neste ano teremos a exposição dos 20 anos de produção de cinema da Acauã Produções Culturais. Vamos ocupar o sobrado e a casa grande da fazenda com exposições de equipamentos, fotos e cartazes de filmes produzidos ao longo desses anos pela ONG e, à noite, exibimos os filmes na calçada”.
A grande tela divide a iluminação do espetáculo com o brilho rebatedor da lua, fazendo jus à tradição do evento em alinhar a semana de exibições ao calendário lunar, ora em sua fase de cheia. “Fica bem mais bonito, dá toda uma vida à fazenda”, atesta o coordenador. Já as oficinas de formação do audiovisual, que acontecem nas escolas da rede pública de ensino de Aparecida.
O encerramento da programação, no sábado, contará com a posse de Laércio na Academia Paraibana de Cinema (APC), ocasião em que alguns membros da APC viajam da capital para a solenidade. Natural de Pombal e radicado em Aparecida há alguns anos, o cineasta começou a trajetória junto à sétima arte em trabalho para o projeto Revelando os Brasis, promovido pelo Ministério da Cultura, em parceria com o Instituto Marlin Azul.
Selecionado em 2004, Laércio produziu seu primeiro filme, um documentário, em 2005. “Eu vinha do teatro, da literatura e nunca havia feito cinema. Depois do primeiro filme fica sempre aquele gosto de querer fazer mais. Costumo dizer que fui infectado pelo vírus do audiovisual”, brinca ele. Apesar de ter iniciado no gênero documental, fez também ficção e atualmente vem trabalhando com animações.
A mostra acontece anualmente na mais antiga fazenda da Paraíba. O conjunto arquitetônico da histórica Fazenda Acauã data de 1757 e foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no ano de 1967 — quando criança, o escritor e pensador armorial Ariano Suassuna (1927-2014) chegou a morar no local.
“Eu me sinto satisfeito porque sempre vejo pessoas surgindo. Minha filha tem 21 anos, começou a dirigir comigo e hoje já está dirigindo solo, com os filmes dela circulando. É bem motivador e dá um sentido danado à luta”, declara o novo imortal da APC.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 5 de novembro de 2025.