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Artes Visuais

Mostra enaltece a riqueza da região

publicado: 18/10/2023 09h25, última modificação: 18/10/2023 09h25
Em cartaz na Usina Cultural Energisa, na capital, exposição ‘Viva Nordeste’ gera uma série de reflexões
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Amanda Dias, ou Zona, pesquisa os pigmentos extraídos da natureza - Foto: Fábio Nosferatus/Divulgação
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São cerca de 40 obras que combinam influências de elementos da natureza com a intervenção urbana em diversas linguagens e materiais com a aplicação em telas, painéis, instalações, esculturas e peças artesanais - Imagem: Zona/Divulgação
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Imagem: Zona/Divulgação
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por Joel Cavalcanti*

A primeira exposição individual da multiartista paraibana Zona procura narrar as várias fases dos 20 anos que ela se dedica às artes plásticas no estado. São cerca de 40 obras que combinam influências de elementos da natureza com a intervenção urbana em diversas linguagens e materiais com a aplicação em telas, painéis, instalações, esculturas e peças artesanais. A arte marginal com as referências típicas do grafite e da pichação está conciliada com a pesquisa de extração de tintas naturais, obras orgânicas e instalações vivas. É de tudo isso que se compõe a exposição Viva Nordeste, que fica disponível para visitação gratuita até o dia 5 de novembro, de terça a domingo, das 9h às 20h, na Usina Cultural Energisa, em João Pessoa.

Logo ao entrar na Galeria Alexandre Filho, o visitante vai se deparar com um painel de 12 metros quadrados em grafite com vários elementos consagrados na cultura nordestina, como a música, os festejos e a religiosidade. A tela divide espaço com instalações que criam uma simbiose entre plantas e obras de arte que precisam ser cultivadas para que a obra não morra. “Essa é uma celebração à nossa cultura com muitos elementos que nos trazem afetividade e memória. Essa é uma exposição que fala sobre memória e trajetória. Tem muito do que eu vivi na rua como malabarista, dançando nos sinais com uma bola de cristal”, define a artista pessoense.

Zona, nome artístico de Amanda Dias, é uma criadora visual nativa que em quase duas décadas de colaboração no mundo da arte vem se debruçando na pesquisa com biotintas – os pigmentos extraídos da natureza. A vocação criativa da artista inclui trabalhos como ilustradora, grafiteira, tatuadora, dançarina e malabarista de contato. Por muitos anos ela pôde ser vista diante dos semáforos da capital dançando com uma bola de cristal. Com a exposição Viva Nordeste, ela procura enaltecer a riqueza e cultura de sua região, trazendo reflexões sobre o território, texturas, cores, biomas, arquitetura e história.

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Imagem: Zona/Divulgação

Grande parte das obras, porém, corresponde a uma época mais recente das produções de Zona e estão ligadas às investigações do mundo mineral e vegetal, além de cianobactérias. “Trago uma explanação um pouco mais científica para o espaço incluir uma estrutura educacional, uma vez que ele também tem uma função pedagógica”, conta Zona. Outro exemplo desse uso das matérias-primas naturais está na série Olhos da mata, formada por três peças criadas com algodão cru tingido com jenipapo e café. As obras são costuradas com palha da costa sob chassi de cipó de clitoria ternatea e verniz de linhaça. Os cílios são formados com pluma de pavão.

“O processo criativo de qualquer artista perpassa a sua própria vivência. São experiências que a gente absorve e é atravessado. Não poderia deixar de desenhar o que vivo, pintar o que eu sinto e tudo que vejo. Essa exposição é especial porque ela reúne uma gama enorme de referências artísticas”, considera. Zona reconhece aí o seu território criativo, valorizando a biodiversidade mesmo diante da intervenção urbana. É isso que define o que está na gênese de Zona, que vem de uma família de desenhistas e dançarinos, artistas que nunca tiveram a oportunidade de se profissionalizar, mas que influenciaram de forma definitiva a pessoense de 30 anos.

Na exposição, os visitantes podem fazer lances secretos pelas obras expostas. É o que Zona chama de leilão urbano de artistas periféricos. “No leilão às cegas, ao fim da visitação, as pessoas podem deixar nas urnas em forma de cabaças os seus lances silenciosos pelas obras que elas demonstram interesse. Existem lances iniciais que são sugeridos por mim”, explica a artista. É com sintéticos, orgânicos e com novas formas de fazer da arte algo que sustente a vida que se projeta a vocação criativa de Zona, espelhando um mundo por uma perspectiva contemporânea, combativa e lúdica.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 18 de outubro de 2023.