Amilton Pinheiro - Especial para A União - De São Paulo
No meio de tantos filmes novos, a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo reserva todos os anos uma pequena parte de sua programação aos filmes que fizeram e formaram a cabeça de cinéfilos e cineastas. Persona, um dos grandes filmes do diretor sueco Ingman Bergman (1918-2007), autor de tantas obras seminais, que fica até difícil eleger a melhor delas, será exibido na Mostra, que ganha também uma exposição intitulada "Por Trás da Máscara – 50 anos de Persona", com objetos e fotos nunca exibidos dos bastidores das filmagens. A mostra acontece no Itaú Cultura, na Avenida Paulista, com entrada franca.
O diretor Bergman construiu sua carreira com filmes que exploram os insondáveis questionamentos existenciais humanos, e não é por acaso que a morte é um dos temas mais presentes nos seus filmes, como Sétimo Selo e Morangos Silvestres. Antes de realizar Persona, o diretor passou um tempo numa clínica para tratamento de uma pneumonia. Na época, Bergman questionava o sentido de seus filmes na sua vida, o próprio sentido da arte na vida dele. Essas indagações pessoais e existencialistas estão presentes no filme Persona, que conta a história de uma atriz (Liv Ullmann) que sofre uma crise emocional e vai se tratar numa casa de repouso. Lá, será cuidada pela enfermeira (Bibi Andersson) que começa a nutrir uma forte relação emocional com a atriz, num jogo de apropriação do Ser e do Parecer.
Nessa conjugação do eu refletido no outro, contado nas histórias dessas duas mulheres, Bergman cria signos das imagens e do sentido rarefeito delas na projeção de nós sobre os outros. A relação das mulheres e seus espelhamentos de personalidades servem como metáfora sobre os limites do que é real e do que é invenção, num jogo de difícil conclusão. Persona, ao longo desses 50 anos, continua ainda a perturbarmos e elevarmos para algo que foge ao nosso controle e entendimento, um sentido da obra de arte na fragilidade humana, que Bergman passou a vida toda questionando.
A Idade da Terra
O ator Antônio Pitanga ganha uma justa e merecida homenagem dentro da Mostra de São Paulo, com a exibição de dois filmes em que ele trabalhou: Barravento (1962), de Glauber Rocha e A Grande Cidade (1966), de Cacá Diegues. Será exibido ainda o documentário Pitanga, um ensaio-poético sobre o ator e sobre o fato de se fazer artista num País de Terceiro Mundo. O documentário é dirigido por Beto Brant e pela filha do ator, a atriz Camila Pitanga. O ator Antônio Pitanga, que começou a fazer cinema no início dos anos 1960, trabalhou em dezenas de filmes, além de ter trabalhos também na televisão e no teatro. O feliz encontro entre Camila Pitanga, seu pai e o diretor Beto Brant tinha se dado no filme Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios (2011), dirigido por Brant, protagonizado por Camila com a participação de Pitanga. Agora, eles se encontram novamente nesse belo ensaio-poético sobre um ator negro e politizado num Brasil do Cinema Novo e do País do futuro que nunca chegou.