Notícias

Literatura

Motivações de uma revolucionária cultural

publicado: 04/07/2023 10h09, última modificação: 04/07/2023 10h09
Hoje, na sede da Fiep, em Campina Grande, a escritora, pesquisadora e crítica literária Elizabeth Marinheiro lança o seu 11º livro
elizabeth_marinheiro_escritora_cg_fabiana_veloso (9).JPG

Obra ‘Motivações’ é dividida em três partes: são tessituras reescritas, depoimentos que partiram de colegas, professores e doutores sobre a autora, e, por fim, 16 textos mais recentes assinados por Marinheiro, todos publicados no Jornal ‘A União’, sobre crítica literária e ensaios - Foto: Fabiana Veloso

por Guilherme Cabral*

A escritora e crítica literária Elizabeth Marinheiro lança hoje, em sessão de autógrafos a partir das 16h, no auditório da sede da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (Fiep), localizada na cidade de Campina Grande, o livro Motivações. A obra – 11ª da paraibana – reúne perfis de algumas personalidades e ensaios, tem 102 páginas, custa R$ 50 e é publicada pela RG Editora. Parte da renda arrecadada com a comercialização dos exemplares será doada pela autora para ação de caráter beneficente.

Durante a programação de lançamento da obra haverá pronunciamentos do prefaciador, o escritor e diretor de Rádio e TV da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), Rui Leitão, e da própria autora. “O livro é dividido em tem três partes e o nome já diz do que se trata. Na primeira, são minhas tessituras reescritas. Na segunda parte são aqueles depoimentos que não foram solicitados, nem tão pouco encomendados, partiram de colegas, professores, doutores que me surpreenderam e me envaideceram. E a terceira parte são meus textos, supostamente teóricos críticos”, resumiu Elizabeth Marinheiro.

A primeira parte do livro, Tessituras reescritas, é bem intimista, nas palavras de Marinheiro, mas com objetividade, pois elimina a confissão e pontua o outro. “É um conteúdo que reúne a objetividade da memória, onde destacamos Ivandro Cunha Lima, Félix de Souza Araújo, o escritor Gilberto Mendonça Teles, a professora Lucy Mayer Motta, o empresário Chico Aguiar e o ativista cultural Lula Cabral. Faço perfis de vida e obra, em que destaco a fidelidade de Ivandro aos amigos; Félix Araújo, o grande poeta de Tamar, que é um livro lindíssimo; Gilberto Mendonça Teles, meu orientador na tese de Doutorado sobre Ariano Suassuna, na Pontifícia Universidade Católica (PUC), do Rio Grande do Sul; Lucy, companheira de minha travessia profissional; Chico Aguiar, o empresário devotado à cultura, pela qual fez muito; e Lula Cabral, que requeria um capítulo, por sua ação cultural, que abrangeu a Paraíba, pois foi secretário de cultura de Campina Grande, mas não se limitou a ser puro secretário de retórica, mas de fazer. Essa parte é um discurso em reconhecimento à memória e ao fazer dessas personalidades”, comentou ela.

A parte seguinte se intitula Depoimentos que dispensam legitimações. “A teoria das legitimações ruiu definitivamente. É preciso que seja reinventada. A teoria é redutora, porque reduz a critérios pessoais. É preciso um próprio olhar puramente estético, como defendem o mexicano Octavio Paz e o alemão Theodor Adorno, pois ambos fazem leituras distintas possíveis nessa discussão estética. O grande texto é aquele que deixa dúvidas”, explicou Elizabeth Marinheiro.

Ao longo das teorias é o título da terceira – e última – parte do livro. “São meus textos mais recentes, escritos de 2021 para cá e todos publicados em A União. São 16 textos de crítica literária, ensaios sobre autores como Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Virgínius da Gama e Melo, Ramalho Filho e Lindolf Bell, com o seu Cantogrito. A exceção é o único texto de crônica poética, que foge ao meu estilo, de cunho emotivo, sobre o meu ex-cachorro da raça yorkshire chamado Czar, que foi assassinado por um cachorro do vizinho, em outubro de 2021. Minhas duas filhas, uma médica e outra arquiteta, que moram no Rio de Janeiro, publicaram em suas redes sociais esse texto, cujo título é Czar, o brilho dos olhinhos, que obteve grande repercussão”, comentou a autora campinense.

motivacoes.jpg
Imagem: RG Editora/Divulgação

Autor do prefácio do livro Motivações, Rui Leitão falou da sua satisfação em assinar o texto. “Fiquei surpreso ao receber o telefonema de Elizabeth Marinheiro me convidando. Para mim, é uma alegria grande e muita honra, porque ela é uma crítica literária reconhecida nacionalmente e escritora produtiva, além de ser minha confreira na APL (Academia Paraibana de Letras)”, disse ele.

No prefácio, A Literatura como motivação, Leitão observa, por exemplo, que “a devoção pela literatura se faz sempre presente na generosidade” da leitura que Elizabeth Marinheiro faz dos novos autores. “De espírito irrequieto desvenda o mundo com o olhar curioso de quem dedica sua vida ao fazer intelectual, à escrita e à crítica literária, esse grande diálogo do autor de uma obra com o seu tempo e sua cultura. É pelo crivo do crítico que a obra literária é conectada com os valores e a estética da época de sua produção”, registra ele.

“Pioneira, sendo a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Paraibana de Letras, um feito que merece sempre ser relembrado ao pensarmos que apenas três anos antes, em 1977, a Academia Brasileira de Letras abriu suas portas para outra nordestina, a cearense Rachel de Queiroz. Elizabeth fez carreira acadêmica brilhante na Universidade Federal da Paraíba tendo sido mestra de diversos escritores que hoje iluminam a vida literária da nossa terra. Além de ser doutora em Letras, é pós-doutora em Literaturas e Línguas do Centro Ibero-Americano de Cooperación, de Madri”, ressalta Rui Leitão em seu texto.

Em outro trecho, é destacado que Marinheiro “é uma revolucionária cultural, porque, quando se dedica ao ofício das letras, aprofunda visões de mundo, produzindo um olhar crítico que repõe significados e valores da contemporaneidade, recusando-se ser administrada pelos padrões dominantes. Possui uma extraordinária energia libertária. Cumpre um importante papel histórico na consolidação do campo intelectual brasileiro, sem, necessariamente, politizar os temas relacionados à ação cultural”.

Nova parte da autobiografia

Elizabeth Marinheiro antecipou que seu próximo projeto é lançar a segunda parte da sua autobiografia, mas ainda sem data prevista. “A primeira autobiografia, Eu com os outros, lancei em 2021, pela RG Editora. Já comecei a escrever e decidi publicar a segunda parte porque tenho muita coisa e o conteúdo será do tipo conversa, diálogo, ou seja, no formato dialógico”, disse ela.

A autora contou que recebeu convite da Editora Galo Branco, do Rio de Janeiro. “É a mesma editora que publicou, em 1976, a obra resultante da minha tese de Doutorado pela PUC, do Rio Grande do Sul, intitulada A intertextualidade das formas simples, sobre Ariano Suassuna. Esse estudo não foi sobre a dramaturgia de Ariano, mas sobre o romance A Pedra do Reino. O aspecto mais importante foi o de que esse estudo, na época, foi inédito no Brasil porque foi o primeiro estudo brasileiro a respeito dessa obra. O posfácio foi assinado pelo próprio Ariano Suassuna”, afirmou a escritora e crítica literária.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 4 de julho de 2023.