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Mulheres ganham destaque nas Orquestras Sinfônicas

publicado: 17/06/2018 00h05, última modificação: 17/06/2018 17h36
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A cena musical atual apresenta avanços neste sentido, mas a luta de musicistas contra o preconceito ainda é grande - Foto: Edson Matos

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Jãmarrí Nogueira

Há algumas décadas o ambiente daqueles que fazem parte de orquestras sinfônicas e da produção da música clássica era profundamente masculino. Um ambiente machista e excludente. As coisas – ainda bem – têm mudado. Cada vez mais mulheres têm ocupado lugar de destaque nessa área onde o preconceito ainda é forte, inclusive tocando instrumentos ditos “de homens”.

Priscilla Santana que o diga... Mulher, negra e de origem muito distante das elites, ela é uma das poucas maestrinas no Brasil. Maestrina negra então... “Fiz uma pesquisa rápida e coloquei no Google ‘maestrina negra’. Só encontrei duas! Uma do Ceará, que agora está morando em Portugal, e outra de Minas Gerais”, disse a maestrina do projeto Prima [projeto do Governo da Paraíba, que trabalha com crianças e adolescentes carentes em várias cidades].

Ela lamenta a ausência de referência histórica que fortaleçam o papel da mulher na música clássica. Essa ausência é uma das explicações para a ainda pequena participação feminina. Segurando a batuta [regendo] a participação é ainda menor. “A representação social é de um homem branco e grisalho. A primeira vez que fui reger, não sabia nem que roupa usar”, contou Priscilla, que tem como referenciais as maestrinas Chiquinha Gonzaga e Marin Alsop.

A maestrina do Prima destacou que, por exemplo, a Filarmônica de Berlim somente abriu espaços para musicistas mulheres há pouco tempo. “No curso de Música da UFBA [subárea de Composição] apenas uma mulher se formou nos últimos 40 anos! A sociedade acha que a mulher não é capaz de reger. É preciso desconstruir e é preciso ser ousada”, finalizou Priscilla.

Outras orquestras na Paraíba

A Orquestra Sinfônica da Paraíba tem 66 integrantes. Somente 12 são mulheres, conforme o maestro Luiz Carlos Durier. As coisas ficam bem melhores na Orquestra Sinfônica Jovem: 71 músicos (sendo 30 mulheres). “A proporção da OSPB é bem pequena de fato, uma média de 18%. Na Jovem a proporção é muito boa: 42%”, avaliou Durier.

O regente comentou que os instrumentos de metal ainda são – predominantemente o de homens. Ainda assim, os ‘avanços’ evidenciam uma musicista na Jovem e outra na OSPB que tocam trompa, ‘instrumentos tipicamente masculinos’.

A Orquestra Sinfônica da UFPB é uma exceção quando o debate envolve igualdade entre homens e mulheres. Conforme o maestro Eli-Eri Moura, dos 21 músicos contratados, 10 são mulheres. “De fato, as orquestras do mundo tendem a ter mais homens, mas isso está mudando. A presença feminina está cada vez maior”, declarou Eli-Eri.
Na Orquestra Sinfônica Municipal de João Pessoa são 51 integrantes, regidos pelo maestro Laércio Diniz Sinhorelli. Lá, a quantidade de mulheres é quase inexistente. Apenas 13! Maior parte delas em instrumentos de cordas.
 
Renata Simões

A violinista Renata Simões diz nunca ter sofrido preconceito nem passado por dificuldade para conquistar espaços no meio musical. “Sempre exerci cargo de chefia. Passei 14 anos com concertina. Fui spalla. Antes era uma maioria avassaladora de homens, na década de 1980, quando entrei na Orquestra [Sinfônica da Paraíba]. Mas, as coisas têm mudado e a Orquestra Jovem, por exemplo, tem muitas mulheres.

Renata enfatiza que essa é uma questão complexa e que a mudança tem sido gradual, com pontos positivos e pontos negativos. “Ainda se tem um pouco da mentalidade de que há instrumentos femininos e instrumentos masculinos... Mas, turmas de Música na UFPB são predominantemente femininas”, comentou a violinista.
 
Elena Herrera

Quando o papo é mulher na música clássica e, mais, à frente de orquestras, é impossível não citar a maestrina cubana Elena Herrera. Ela faleceu em fevereiro do ano passado, aos 69 anos de idade, em Oviedo, na Espanha. Herrera fazia parte do pequeno grupo de mulheres que conseguiram arrancar as batutas das mãos dos homens.

Herrera tinha especial apreço pelo repertório de ópera e foi regente da Orquestra Sinfônica da Paraíba por diversas vezes. Nascida em Cabaigan (Cuba), era formada em piano. A carreira como regente teve início na década de 1980, quando regeu a Sinfônica de Matanzas e foi nomeada Assessora Nacional de Prática de Orquestra de Música de Câmara, em Cuba.

Depois de ser diretora musical da Ópera de Cuba, ela dirigiu montagens de óperas na Polônia, na Espanha, na Colômbia, em Porto Rico e no México. Formar público e trabalhar a música como forma de inclusão social era um dos objetivos de Herrera. A voz da maestrina também podia ser ouvida no rádio. Em 2007, ela apresentou os programas ‘A grande música’ e ‘Cultura clássica’, na Cultura FM, em Brasília (DF).