A paraibana Ângela Pereira se prepara para estrear na literatura com o livro Mulherfagia, que está com campanha aberta de financiamento coletivo por meio do projeto Lua Negra, da Editora Triluna. O livro traz 40 poemas em versos livres e do gênero haikai, abordando temas que a autora considera engajados politicamente. A previsão é que a publicação seja lançada até o final deste ano.
A autora, que escreve poesia há vários anos, lança seu primeiro livro por meio de chamada pública do selo Lua Negra: “a segunda chamada do selo veio oportunizar o lançamento do meu livro. Já havia participado de saraus e, como sou pessoa múltipla, senti a necessidade de realizar o projeto da obra Mulherfagia. Na minha trajetória acadêmica, acabei me envolvendo com movimentos sociais, como o feminismo, possibilitando minhas ações de forma mais ampliada. Sempre gostei muito de escrever e, assim, externalizar angústias e apreensões como mulher negra, nordestina e brasileira”, disse ela. Ângela conta que quando escreve “passo a me entender melhor e quero inspirar outras pessoas. Considero a minha poesia engajada politicamente, de denúncia, na busca de um mundo justo, pois acredito que é possível um mundo livre da exploração do ser humano por outro ser humano”.
Sobre o título do livro, a autora explica que é atemporal, “refere-se ao mesmo nome de um dos poemas da obra e não faz menção ao movimento antropofágico do Modernismo”. Sobre o poema Mulherfagia, a autora destaca que é uma poesia atemporal “porque os desafios continuam, embora tenha se avançado em alguns direitos, mas ainda temos que avançar mais (...). ‘Fagia’ significa comer, mas o significado é o de buscar penetrar para romper esses padrões, e quanto mais rompe, mais ela vai ampliando seus espaços na sociedade”.
Nos poemas do livro, Ângela Pereira diz que se volta à apreciação de todos os processos e mudanças transcorridos, e que continuam a ser atravessados nos seus 40 anos de vida. “A fome de devorar verdades ditas lá fora sobre como eu devo ser, segue insaciável, e ainda continuo prevendo que vários “ismos” ainda precisarão ser devorados para afirmar para outros, não para mim, quem realmente sou”, comentou.
Três partes
A obra reúne poesias escritas entre 2004 e 2023 e foi organizada em três partes: Descasulando, Processo e Identidade. “Na primeira, abordo momentos da minha vida, mas também percebendo os desafios das mulheres perante o mundo. É a reunião das primeiras poesias escritas por mim, refletindo processos de transformação pessoais encasulados que registraram mudanças sobre o ser feminino em transição, descobrindo potências represadas, alegrias, paixões e decepções da inocência perdida, do ser poeta e tornar-se mulher na sociedade capitalista, racista e heteropatriarcal”, disse ela.
Na segunda parte, Processo, “abordo a revolta depois da decepção e a alegria da inocência perdida. A minha escrita faz a denúncia das dores, julgamentos, imposições e violências sofridas individual e coletivamente, assim como uma ode ao amor e aos feminismos que acolhem e libertam”, conta Ângela. Por fim, em Identidade, sua poética expõe o resgate da humanidade “roubada pelo racismo e pela branquitude; a afirmação da identidade político-cultural ancestral como mulher negra, a percepção tardia desta através do feminismo negro; a ênfase recai sobre um projeto de sociedade viva e das revoluções que virão. É quando vou, realmente, me percebendo e me afirmando como mulher negra e como mulher negra participando do ativismo”, afirmou Ângela Pereira.
A campanha de financiamento fica aberta até 29 de setembro, no link https://benfeitoria.com/mulherfagia, com diversas opções de apoio.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 22 de agosto de 2023.