Lucas Silva - Especial para A União
"Junto a outros forrozeiros comecei a questionar entre nós porque que o forró não é patrimônio imaterial na Paraíba, já que em todas as outras regiões do Brasil ele já tem essa sensibilidade”, revelou com inquietude em entrevista ao jornal A União, a forrozeira e coordenadora do Projeto Forró de Raiz, Joana Alves da Silva, quando questionada sobre o pedido de registro das matrizes do forró como patrimônio cultural do Brasil. A iniciativa, que teve início em 2011, terá mais uma edição em Campina Grande durante os dias 27 e 28 de maio. Na ocasião, outros representantes de fóruns de diferentes regiões marcarão presença.
Além da Paraíba, participaram ano passado dessa empreitada, mais 12 regiões como Campina Grande, Pernambuco, Piauí, Ceará, Alagoas, Sergipe, Maranhão, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal (DF). Uma novidade é que, ainda esse ano serão realizados alguns fóruns para mapear o que possuímos em nosso Estado.
Tendo quatro anos de existência, a iniciativa tomou partido com um abaixo assinado que solicitava a formação de um fórum de forró raiz na capital. A partir disso, o grupo de forrozeiros de diversas organizações e amantes do legado cultural, se encontravam semanalmente desde o mês de março de 2011 dando início a uma série de debates para pedir o registro do gênero musical como patrimônio cultural do Estado.
“A partir desse ponta-pé inicial fomos para outros Estados para levar o nosso movimento. Durante todo esse tempo solicitamos o pedido de registro ao Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e eles aceitaram. Embora saibamos que seja difícil e lento o processo, o Iphan se propôs a fazer o encontro nacional no ano passado e a partir daí montamos uma carta de diretrizes”, comentou satisfeita a coordenadora do projeto Joana Alves da Silva ao ver que o projeto estava tomando corpo.
A coordenadora completou dizendo ainda que nesse período de sistematização é onde serão feitos outros contatos para levar o fórum para outros estados. “Essa iniciativa vai facilitar o processo de registro com Iphan, porque são documentos que vamos juntar para serem discutidos e documentados para que o próprio Iphan tenha em mãos um acervo histórico e atual”, concluiu.
Além do pedido geral, o fórum solicitou ainda outras petições. Uma delas foi à criação da sede permanente, que contém 50 pessoas, que lutam em prol da preservação e sustentabilidade das matrizes tradicionais do forró como, por exemplo, xote, baião, xaxado, arrasta-pé, rojão, xamego, balanço, miudinho e forró-samba.
Para o maestro Lucílio, que também está incluso na construção da iniciativa, a importância do pedido é tamanha porque é preciso ter uma elaboração e o aperfeiçoamento do projeto que visa à defesa do forró como matrizes materiais. “A coisa está totalmente ligada na defesa de uma cultura do povo, então quando falamos de matrizes falamos de ritmos conterrâneos. Dessa forma, o que é tão valorizado fora do País, precisa ter seu valor dentro do nosso Estado. Além disso, precisam ser mantidos porque eles fazem parte do cotidiano do povo, ou seja, é discutir o DNA do povo”, explicou detalhadamente o maestro Lucílio.
Tamanha referência cultural relacionada à nossa musicalidade e essência tem contribuído há tempos para a construção de uma identidade não só pessoense, mas paraibana e nacional, em especial, no que se refere aos seus gêneros, ritmos e modos de dança, transmitidos por várias gerações.
Fazendo um breve resumo do nosso atual cenário, o forró reúne saberes enraizados no cotidiano do povo nordestino e de vários grupos espalhados pelo Brasil, que tem o ritmo como marca de vivência coletiva do trabalho. Por outro lado, essa luta que traz consigo uma grande história não se traduz na atual situação socioeconômica de alguns dos profissionais forrozeiros: compositores, intérpretes, sanfoneiros, pandeiristas, trianguleiros e zabumbeiros, estando os mesmos em condições de trabalho frágeis, não condizentes com a importância do saber tradicional que detêm.
“Estamos lutando para conseguir um resultado final em registrar o nosso forró. Porque mesmo com todas as dificuldades que encontramos, o povo brasileiro tem essa característica em sua essência, a luta. Então, iremos lutar para que a sociedade se conscientize e possa entrar junto conosco nessa “briga” para que nossos forrozeiros sejam mais valorizados e tenham posse de seu patrimônio”, ressaltou Joana Alves da Silva.
Ainda dentro da iniciativa de tomar o forró como patrimônio cultural, surge a escola chamada de “Mestre Dominguinhos” onde era um espaço coletivo cujos alunos tinham a oportunidade de interagir e aprender a como manusear e tocar instrumentos musicais típicos de nossa região.
Formada em 2013, a escola ainda oferecia oficinas de canto, violão, acordeon e demais instrumentos. Algo que se destacou dentro da escola foi a formação da orquestra sinfônica “Balaio Nordeste” que adquiriu identidade e se firmou como um dos produtos culturais mais genuínos e expressivos da música nordestina, com arranjos próprios e produção musical própria.
“O sonho da escola surgiu pelo convite da ex-presidente Joana Alves da Silva. A minha participação teve início em 2011 a partir do meu conhecimento e envolvimento com o acordeon definimos uma proposta e fizemos um projeto para que tivesse uma escola local para se aprender a tocar instrumentos típicos de nossa região”, disse o maestro Lucílio.
Portanto, podemos destacar que o registro irá ressaltar o apoio em se ter uma dinâmica das tradições tão importantes para o nosso País, favorecendo a expressão das aspirações e reivindicações dos forrozeiros e amantes do forró de raiz.