Notícias

Literatura

Na ampulheta do processo da vida

publicado: 28/09/2023 08h50, última modificação: 28/09/2023 08h50
Hoje, na Livraria A União, em João Pessoa, pesquisadora paraibana Dilma Brasileiro lança ‘Os tempos dos envelhecentes e idosos: ressignificando o trabalho, o lazer e a saúde’

por Guilherme Cabral*

2023.09.27_dilma brasileiro © roberto guedes (10).JPG
Publicada pela Editora A União e Eduepb, obra é um ensaio com viés filosófico analisando a envelhescência dentro de um contexto sistêmico, com enfoque nas questões socioculturais e psicológicas - Foto: Roberto Guedes

O processo da vida, que vai do nascimento até a morte. A professora e pesquisadora paraibana Dilma Brasileiro lança o livro Os tempos dos envelhecentes e idosos: ressignificando o trabalho, o lazer e a saúde (Editora A União/Eduepb, 278 páginas, R$ 50), hoje, a partir das 19h, na Livraria A União, instalada no Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa. A obra é um ensaio com viés mais filosófico e, pelo conteúdo do livro, o evento também faz alusão ao Dia Internacional das Pessoas Idosas e ao Dia Nacional do Idoso, que são comemorados em 1º de outubro.

No evento, a própria autora é quem fará a apresentação da obra para o público. “Minha expectativa é de que seja um bom momento para se discutir as dimensões que são tratadas no livro, que são o trabalho, o lazer e a saúde. Mas que a obra também desperte o interesse do coletivo. Somos, por definição, seres coletivos. A vida é um jogo coletivo, de equipe, para que tenhamos qualidade, pois somos comunidade. E que o livro seja o pontapé inicial, um chamamento para que as autoridades atuem na elaboração de políticas públicas, de ações coletivas para dinamizar aquelas três dimensões e favorecer a sociedade contemporânea dos envelhecentes e idosos. Que o lançamento seja para a troca de conhecimentos e discussões, a partir do paradigma do lazer, do trabalho e da saúde. Com o envelhecimento populacional, o tema se torna cada dia mais importante e relevante para o século 21”, afirmou a escritora.

Os tempos dos envelhecentes e idosos é sua segunda obra da paraibana, da qual observou que uma curiosidade foi a de tê-la escrito na crise sanitária, sendo resultado da tese defendida para professora titular, em 2020, último posto na carreira docente da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), de onde atualmente é professora aposentada. “O livro tem toda uma influência desse período, quando os envelhecentes e idosos foram atingidos e correram mais riscos. É até como uma autobiografia, agora que estou aposentada e retomo o segundo tempo da vida com outro olhar”, disse a autora.

A propósito, no prefácio, ela escreve a respeito o seguinte: “As ebulições que surgiram como decorrência desse período da minha vida e o isolamento que advieram da pandemia contribuíram para as reflexões presentes agora neste ensaio. O arcabouço teórico aqui discutido é fruto das inquietações de uma mulher aos 50 e mais e deste tempo pandêmico”.

No prefácio, ainda, ela destaca para o leitor que a pesquisa analisa “a envelhescência dentro de um contexto sistêmico, com enfoque nas questões socioculturais e psicológicas dos envelhecentes, questiona-se sobre o tempo, o trabalho, o tempo livre/lazer e a saúde; como cuidar da vida/natureza, como nos cuidar, como cuidar dos outros depois dos 50 e mais”.

Visto no título da obra, Brasileiro trabalha com o conceito de envelhecente. “É um processo da vida que vai do nascimento até a morte e que divido em cinco categorias: criança,adolescente, adulto, envelhecente e idoso. Os envelhecentes corresponderiam aos adolescentes, ou seja, que não são adultos e nem idosos e vão dos 45 anos aos 65 anos de idade e idosos as pessoas com 65 a mais. Temos três dimensões que são as mais presentes na vida, que são o trabalho, o lazer e a saúde. Mas o trabalho marca o ritmo da vida, pois se estuda para trabalhar até chegar a se aposentar, quando se precisa ressignificar a vida. Antes, o trabalho era material, na fábrica, mas, a partir da segunda metade do século 20, com a sociedade moderna, surgiu a tecnologia digital, trazendo um impacto global para o trabalho e os indivíduos”, comentou a autora, que é natural de Patos, no Sertão do estado.

"Procuro mostrar como seria a relação da aposentadoria com o lazer, as mudanças de paradigmas do trabalho e do lazer, onde o tempo de trabalho e lazer se mesclam”

Dilma também abordou outra parte da obra, que envolve o divertimento. “Associado ao trabalho está o lazer. É como se fosse o oposto ao trabalho e se refere ao tempo livre, que a modernidade também construiu, e que são os finais de semana, feriados e a aposentadoria. Procuro mostrar como seria a relação da aposentadoria com o lazer, as mudanças de paradigmas do trabalho e do lazer, onde o tempo de trabalho e lazer se mesclam”.

O outro tema que a escritora levanta para discussão em seu livro é a saúde. “Não a saúde como ausência de doença, como considera a modernidade. É uma ideia muito mais ampla e muito mais a favor do corpo em movimento, pulsando e com vitalidade, e não ausência de doença. O corpo tem a ver com a expressão da saúde. A questão da saúde não é só pensar no corpo físico, mas no corpo uno, envolvendo o emocional, padrões mentais e espirituais que vão trazer qualidade de vida e saúde. Falo sobre o que chamo de educação lenta, num mundo acelerado, onde tudo é para ontem, mas é preciso uma reeducação da pessoa, para que ela possa potencializar a vida e as mudanças do trabalho através do lazer e viagens e a relação com o outro. Na vida estamos aprendendo. A vida é sempre um aprendizado e traz um outro olhar para a minha vida”, comentou Brasileiro. “Costuma se associar a velhice com doença, mas há idosos muito mais saudáveis do que alguns adolescentes. Se dizia, nos anos 1970, que o Brasil era o famoso país dos jovens, só que a população está envelhecendo e o que está se fazendo com relação a isso?”, afirmou Dilma Brasileiro.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 28 de setembro de 2023.