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Nascimento do poeta Vinícius de Moraes completa 103 anos

publicado: 18/10/2016 00h05, última modificação: 18/10/2016 11h35
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Vinícius de Moraes compôs, em parceria com Tom Jobim, a canção Garota de Ipanema, uma das mais importantes da história da música brasileira - Foto: Divulgação

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Guilherme Cabral

Eu posso me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure”. Quem já não leu, ou cantarolou, nos momentos em que o coração estava - ou então ainda se encontra - apaixonado tais versos finais do Soneto de Fidelidade? Pois bem, amanhã se completarão os 103 anos de nascimento do carioca Vinícius de Moraes (1913 - 1980), poeta, jornalista, dramaturgo, compositor - em parceria com Tom Jobim, por exemplo, de ‘Garota de Ipanema’, uma das mais importantes da história da música brasileira - e que é o autor desse texto, integrante do livro intitulado Poemas, Sonetos e Baladas, também conhecido como O Encontro do Cotidiano, publicado originalmente em 1946, o qual, posteriormente, viria a ser declamado junto com a canção ‘Eu Sei que Vou Te Amar’. “Uma grande importância de Vinícius foi a de dar uma estética à MPB, fazendo com que tivesse uma cara, um rosto, um espírito, além de ser um grande poeta”, disse para o jornal A União o regente da Orquestra Sinfônica da Paraíba (OSPB), Luiz Carlos Durier. “Vinícius de Moraes comandou toda uma geração de artistas e todos gostariam de tê-lo como parceiro”, ressaltou, ainda, o maestro Tom K.

Na opinião do maestro Luiz Carlos Durier, o poetinha - como também era carinhosamente conhecido Vinícius de Moraes - continua influenciando gerações. “A MPB já tinha uma cara, com o samba e o forró de Luiz Gonzaga. Mas ele trouxe uma nova forma estética, fundamentada na beleza artística e que projetou o Brasil no exterior, além de ser um grande poeta, com destaque para a parceria com o músico Toquinho, que deu muito certo e resultou em canções imortais, clássicas, que vão perdurar pela qualidade”, disse o regente, acrescentando já ter incluído composições de Vinícius, na forma de pout-porri, nos concertos realizados pela OSPB e assim continuará fazendo, se novas oportunidades surgirem.

“Vinícius de Moraes tinha capacidade de fazer versos sempre belíssimos, principalmente de amor. Eu vejo Vinícius como Mário de Andrade fez: pegou um monte de compositores para mostrar como queria que a música fosse feita e aqueles que o seguiram se deram bem. E vejo Vinícius nessa mesma proposta do Mário de Andrade, ao comandar uma geração por causa da sua capacidade artística”, acrescentou, também, o maestro Tom K, lembrando que o poetinha se cercou de bons músicos como parceiros, a exemplo de Baden Powell.

Nascido em 19 de outubro de 1913, no bairro da Gávea, na capital do Rio de Janeiro, Vinícius de Moraes - considerado um dos maiores poetas brasileiros do século XX - demonstrou desde cedo o seu pendor para as letras. E esse despertar não foi à toa: o pai, Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, era poeta bissexto e a mãe, Lydia Cruz de Moraes, uma exímia pianista. Em 1927, o Poetinha torna-se amigo dos irmãos Paulo e Haroldo Tapajós, com os quais começa a compor e formam - com alguns colegas do colégio - um conjunto musical que se apresenta em festinhas e em casas de famílias conhecidas. Em 1928, o trio compõe ‘Loura ou morena’ e ‘Canção da noite’, obtendo sucesso.

Na área do teatro, Vinícius de Moraes produziu obras-primas, a exemplo do espetáculo Orfeu da Conceição, escrito em 1954 e que é baseado no drama da mitologia grega Orfeu e Eurídice para a realidade de um morro carioca. Em 1959, essa peça foi transformada no filme Orfeu Negro pelo diretor francês Marcel Camus, tendo obtido repercussão internacional e rendido a Palma de Ouro no Festival de Cannes, na França, e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, nos Estados Unidos. Na literatura, também ganhou destaque com poemas como O Haver, Soneto de Separação e o Soneto de Fidelidade.

No entanto, considera-se, provavelmente, que Vinícius de Moraes experimentou o ápice da sua vida artística aos 41 anos de idade, quando conheceu o jovem pianista Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom Jobim, então um rapaz de 29 anos que vivia da venda de músicas e arranjos pelo bairro carioca de Copacabana. Dessa parceria resultou a canção marco - ou seja, o primeiro pilar do movimento da Bossa Nova - intitulada ‘Chega de Saudade’, incluída no álbum Canção do amor demais, da cantora Elizeth Cardoso, a qual incluía a inovadora sonoridade do violão de João Gilberto. Outras composições do Poetinha também reconhecidas são as seguintes: ‘Eu sei que vou te amar’, ‘Garota de Ipanema’, ‘Insensatez’, e ‘A Felicidade’.