Num trecho pouco visto da Rua Tavares Cavalcante, no Centro de Campina Grande, há um busto do filósofo prussiano Friedrich Nietzsche — posto lá de forma misteriosa. A homenagem está registrada na capa do livro Nietzsche no Brasil (1892-1945) — Traduções de Textos do Filósofo Alemão, Artigos e Poemas a Seu Respeito Publicados na Imprensa, que perfaz parte da pesquisa do paraibano Geraldo Dias. Esse e outro livro de autoria de Dias, que se debruçam sobre a presença e a influência de Nietzsche na literatura, sociologia e imprensa brasileiras, serão lançados hoje em evento no Cineclube Memorial, na Rainha da Borborema, em celebração aos 180 anos do nascimento do filósofo. Nesse encontro, também será projetado o filme Dias de Nietzsche em Turim, do cineasta Júlio Bressane. Será no Memorial Severino Cabral, a partir das 19h, com entrada franca.
O evento se inicia justamente com a exibição do longa de Bressane, produzido em 2001 e que conta com o ator Fernando Eiras interpretando o personagem principal. Como o título antecipa, a obra retrata o curto e intenso período em que Nietzsche viveu na Itália. O debate sobre o filme será mediado pelo curador do memorial, Romero Azevedo. Num segundo momento, haverá o lançamento dos dois livros. Nietzsche no Brasil (1892-1945) — Traduções de Textos do Filósofo Alemão, Artigos e Poemas a Seu Respeito Publicados na Imprensa sai pela editora CRV; e Nietzsche no Brasil (1922-1945) — Modernistas e Intérpretes do País, pela editora Unifesp.
O primeiro livro trata das primeiras publicações de textos de Nietzsche — filosóficos e poéticos — na imprensa do nosso país, no início do século 20. Nessa pesquisa, Dias infere que o vocabulário brasileiro incorporou alguns dos conceitos e expressões do autor, a partir do contato inédito com tais informações. A segunda publicação elenca as influências nietzscheanas em autores modernistas do Brasil, como Mário de Andrade e Manuel Bandeira, e entre sociólogos como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda.
As pesquisas de Dias tiveram início no doutorado, mas são atravessadas pela curiosidade pessoal do pesquisador, natural do município de Monte Horebe, em compreender como os escritos de Nietzsche influenciaram outros autores da literatura, das ciências humanas e das artes. “Esse interesse ainda se estende às questões filosóficas centrais que Nietzsche aborda, como a crítica aos valores, à metafísica e à religião, bem como à concepção do ser humano como ser inacabado e em constante transformação”, ele detalhou.
O peso de Nietzsche na literatura brasileira tem um recorte específico na nossa região: Dias alega que a recepção da filosofia de Nietzsche teve origem no Nordeste brasileiro e que foi a partir de autores conterrâneos que o autor chegou ao movimento modernista, como citado anteriormente. “Posso mencionar o interesse pela filosofia do prussiano por parte do poeta Augusto dos Anjos, do escritor e político Álvaro de Carvalho, do cronista e ensaísta José Lins do Rego, do intelectual e jornalista Assis Chateaubriand, entre outros”, elencou o pesquisador.
Quanto ao busto de Nietzsche em Campina, Dias afirma ter ido ao local para investigar a origem da obra, mas não obteve sucesso na empreitada: o autor da criação e o motivo de ela ter ido parar naquela rua seguem ignorados. “Professores do Instituto Federal de Educação da Paraíba (IFPB) também a visitaram e discutiram a possibilidade de levá-la para o campus, tarefa que requer a atuação de um profissional capacitado”, informou o professor.
Em atividade desde 2018, o Cineclube Memorial reúne cerca de 40 pessoas a cada encontro, com periodicidade semanal. Ao longo de seis anos, foram projetados mais de 150 filmes.
Dias de Nietzsche em Turim + Livros de Geraldo Dias
- Hoje, às 19h na Casa de Cultura e Memorial Severino Cabral (Av. Pres. Getúlio Vargas, 344, Centro, Campina Grande).
- Entrada franca.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 15 de outubro de 2024.