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No compasso dos monólogos

publicado: 23/01/2024 08h52, última modificação: 23/01/2024 08h52
Dois espetáculos representarão a Paraíba dentro da programação da 11ª edição do Festival Nacional de Teatro do Piauí
Valsa Sem Dó - Foto Antônio Fernandes Divulgação.jpg

Protagonizada pelo ator campinense Diogo Targino, produção ‘Valsa Sem Dó’ é baseada no clássico literário ‘A Hora da Estrela’, romance de Clarice Lispector - Foto: Antônio Fernandes/Divulgação

por Guilherme Cabral*

Dois espetáculos, os monólogos Valsa Sem Dó, que tem autoria, direção e é protagonizado pelo campinense Diogo Targino; e Catiço, do areiense Thiago de Assis, vão representar a Paraíba, dentro da programação do 11º Festival Nacional de Teatro do Piauí, que começará amanhã e vai até o próximo domingo (dia 28), no Teatro Maria Bonita, na cidade de Floriano. O evento é promovido gratuitamente pelo grupo Escalet, com apoio da Secretaria de Cultura do Piauí e Governo do Estado, por meio do Sistema Estadual de Incentivo à Cultura (Siec). Além das duas montagens paraibanas, o festival terá 20 espetáculos de companhias oriundas de vários outros estados do Brasil, a exemplo de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte.

Diogo Targino participará pela primeira vez de um festival. “A expectativa é imensa, por poder representar Campina Grande e a Paraíba, o que também é uma enorme responsabilidade, levando um espetáculo baseado em um clássico da literatura nacional, o romance A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, publicado em 1977. Estou bastante ansioso e a minha preocupação é que o público possa entender a mensagem que o monólogo procura passar”, confessou ele. O artista informou que realizará sua apresentação no último dia do evento, no próximo sábado, a partir das 19h.

Terceiro texto de autoria de Diego Targino, escrito no ano passado, Valsa Sem Dó estreou em maio do ano passado, no Teatro Municipal Severino Cabral, em Campina Grande. Cinco meses depois, em outubro, foi encenado no Teatro Ednaldo do Egypto, em João Pessoa. No próximo dia 27 de abril, o monólogo retornará ao palco do Teatro Severino Cabral, para ser encenado às 20h.

“Valsa Sem Dó se passa em 1985, ano em que o filme A Hora da Estrela, dirigido por Suzana Amaral, estreou no Brasil e que tem a atriz paraibana Marcélia Cartaxo no personagem de Macabéa. Escolhi ambientar o monólogo nesse ano para mostrar que, apesar do tempo que passou, ainda existem muitas ‘Macabéas’ desconhecidas, que enfrentam desafios para garantir a sobrevivência em grandes centros do Brasil, como Rio de Janeiro e São Paulo”, explicou Diogo Targino, que se inspirou no longa-metragem para fazer a adaptação por costumar assistir ao filme com frequência e ser fã de Marcélia Cartaxo.

Thiago de Assis em 'Catiço' - Foto Thiago Trajano Divulgação.jpg
Thiago de Assis encena ‘Catiço’, peça baseada em campos de concentração criados, no começo do século 20, no Sertão do Ceará - Foto: Thiago Trajano/Divulgação

Targino também é autor das comédias O meu sonho em três minutos, sobre o romance de um casal que se conhece no aeroporto, já encenada em Campina Grande; e Quem vai herdar a porca de Maricotinha, a respeito das discussões em torno da herança desse animal, texto esse que ainda mantém guardado na gaveta, sem previsão de estreia. Ele ainda lembrou que, em 2022, dirigiu e atuou na peça A Mulher Distante, texto assinado por Dias Miranda, que se inspirou livremente no livro Água Viva, romance psicológico de Clarice Lispector, publicado em 1973. O espetáculo aborda a história de uma mulher solitária que vive à espera de um amor que não a ama, embora esse amor tenha sido muitas vezes correspondido, mas que, por causa dos imprevistos da vida, se acabou.

Com 17 anos de carreira artística, Diogo Targino justificou sua opção por escrever e atuar em monólogos. “Trabalhar dessa maneira é mais prático, ágil e econômico, pois evita enfrentar dificuldades na hora da produção e apresentação. Por isso, faço tudo sozinho”, disse o artista, que já vem escrevendo outra peça nesse mesmo estilo. Trata-se do espetáculo Ir, cuja trama gira em torno de um paciente no hospital e a questão da saúde mental.

O ator Thiago de Assis também confessou estar animado com relação a sua participação no Festival Nacional de Teatro do Piauí, evento cujo objetivo é promover a democratização da cultura. “Minha expectativa é positiva, por estar representando a cidade de Areia, a Paraíba e a ancestralidade dos nordestinos”, disse ele, que é integrante da Cia. de Teatro Taipas. No evento, Catiço, produção na qual também dirige, será encenado na próxima quinta-feira, a partir das 19h.

“Escrevi Catiço em 2020 e estreou em João Pessoa, no ano seguinte, no Festival Cena Preta. O espetáculo é baseado em fatos, que aconteceram entre 1915 e 1932, no Sertão do Ceará, onde campos de concentração, conhecidos como ‘currais’, foram montados em cidades como Quixeramobim, Cariús e Senador Pompeu para abrigar famílias de agricultores, quando o país passava por uma das maiores estiagens e seca nordestina”, detalhou o artista. “Nesses currais, as vítimas da seca passavam a ser aprisionadas e realizavam trabalho forçado, para evitar a migração em massa à capital do estado. Embora os locais não fossem ‘campos de extermínio’, eles foram criados para isolar a população indesejada que tentava sobreviver à seca do Sertão, fugindo para Fortaleza”, disse Thiago de Assis.

A palavra Catiço, que também é o nome do personagem do monólogo, vem dos termos usados nos terreiros de umbanda e candomblé e que significam algo perigoso, levado ou agitado e traz referências das religiões de matrizes africanas. “Em 2023, o espetáculo recebeu os prêmios de Melhor Ator, Prêmio Especial do Júri, Melhor Cenário e Prêmio do Júri Popular no 11º Festival de Teatro de Ubá (Fetuba), em Minas Gerais”, informou Assis, que vem preparando o espetáculo Anteros, o deus do amor, sátira sobre um deus grego, que pretende estrear no mês de julho.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 23 de janeiro de 2024.