Por Guilherme Cabral*
Com o título Toda Possibilidade, na próxima segunda-feira (dia 9) será a abertura da exposição do artista visual paraibano João Neto, no Celeiro Espaço Criativo, localizado no bairro Altiplano Cabo Branco, na cidade de João Pessoa. Nessa individual, cuja curadoria é de Ilson Moraes, 12 do total de 14 pinturas são inéditas, produzidas em diversas técnicas, e abordam vários temas, a exemplo da questão social. Outra característica é que todas possuem títulos de canções da Música Popular Brasileira. “Essa mostra é totalmente sensorial e, para uma experiência completa, recomendo a cada visitante trazer o seu fone de ouvido”, disse o autor. Os trabalhos vão ficar expostos ao público gratuitamente até dia 3 de fevereiro, sempre de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
João Neto falou sobre o conceito da sua segunda individual da carreira. “É uma exposição diferente da primeira, porque nessa eu me dei a oportunidade de utilizar novos materiais e novas técnicas de pintura, tendo produzindo obras com giz pastel seco, aquarela, tinta acrílica, colagem e desenho com caneta Polska, que tem ponta porosa. Na minha primeira exposição, realizada no ano passado, as 21 obras não tinham uma regra e nem convergiam entre si. Já nesta mostra há um fio condutor e as obras conversam entre si. O título de cada obra é o da música de algum compositor, a exemplo de Caetano Veloso, Rita Lee, Fernanda Takai e Jorge Vercillo. Em cada obra haverá um QR Code e, apontando o seu celular ou tablet para ele, o visitante poderá ouvi-la, enquanto contempla a pintura, pois cada música traz alguma relação com a minha obra. Daí a necessidade de se levar um fone de ouvido para se ter uma completa experiência sensorial”, explicou ele.
“Com o título da exposição, eu quero dizer que toda possibilidade é bem-vinda e, assim, quis deixar claro que tive a consciência de aproveitar a experiência de todas as possibilidades que 2022 me colocou”, resume ele. “Eu, o artista, fui várias pessoas em 2022, experimentei várias vertentes diferentes e um dos resultados é essa exposição que abrirei no Celeiro Espaço Criativo”.
As obras inéditas foram produzidas no final de novembro até dezembro do ano passado. “As outras, criadas em 2015, com base em material reciclável, eu já havia mostrado na individual intitulada O Lixo que Eu Vejo, que ocorreu em outubro e novembro de 2022, no Espaço Expositivo Alice Vinagre, no Espaço Cultural, em João Pessoa. Escolhi elas para essa segunda exposição por ter alguma relação com o tema”, comentou João Neto.
Trilha sonora
O artista visual falou a respeito dos temas tratados em Toda Possibilidade. “São, geralmente, relacionamentos entre amigos e relacionamentos amorosos. Mas também abordo outros assuntos, como a crítica à sociedade. A primeira obra que abre a mostra é ‘Alô! Alô, Marciano!’, cantada por Elis Regina, mas que é uma composição de Rita Lee e Roberto de Carvalho. Eu a escolhi, por exemplo, porque é como se já estivesse cansado da difícil situação em que vive o mundo e estivesse pedindo ajuda, socorro, para dar o fora do planeta”, detalhou o paraibano.
Geralmente, ele inicia a produção dos trabalhos ouvindo uma música, pois tem uma coleção de discos em vinil. Depois, ele falou que surge a ideia para produzir a obra, que tem alguma relação com a canção apreciada. “As obras da exposição são mais sobre situações cotidianas e cada uma tem uma música relacionada para que a mensagem não fique tão subjetiva e possa ser entendida, mas cada um vai fazer sua leitura enquanto estiver ouvindo a música. Caso, ao final da mostra, nem todas as obras sejam comercializadas, elas vão estar à disposição em galerias de João Pessoa”, disse ele.
João Neto falou, por exemplo, sobre duas pinturas inéditas. “A Fênix é uma reflexão sobre um mergulho interno. A obra em pé faz referência a um barco navegando; a obra deitada faz referência a um ‘olhar triste’. Quero que as pessoas entrem no barco e naveguem para dentro de si, em sua própria água profunda, em busca das suas próprias questões”, comentou ele. “A obra Jardins da Babilônia, composição de Lee Marcucci e Rita Lee, é uma crítica ao sistema e, sobretudo, ao machismo. Nela tem escrito em inglês – ‘Good girls go to heavenbadgirls go everywhere’ – que, traduzindo, quer dizer ‘boas meninas vão para o céu, más meninas vão para onde elas quiserem’”.
Entre as peças que João Neto já expôs está Trovoa, uma música de Maurício Pereira que fala sobre uma “confusão” acometida aos amantes/apaixonados. “A obra é um mix com informações, de cores, de formatos, uma confusão visual, mas que faz todo sentido, assim como estar apaixonado”, explicou o artista visual. “O Trem das Cores, de Caetano Veloso, é uma obra colorida, alegre, vibrante, tal qual meu estado de espírito, na maior parte do tempo. São pontos de cores separados por linhas de lã, mas que conversam entre si”, comentou ele.
Natural da cidade de João Pessoa, João Neto tem 31 anos de idade e é formado em Engenharia Civil pelo Instituto Federal da Paraíba (IFPB). “Em 2019, comecei, paralelamente à atividade como engenheiro civil, a produzir obras de arte, como uma válvula de escape para a dura rotina profissional. Mas o interesse pela arte foi ganhando proporção e passei a exercer as duas atividades”, lembrou o pintor, que já tem alguns outros projetos para 2023. “Neste mês, vou ministrar oficina de colagem e, depois, pintura sobre colagem no espaço Floresta Branca, localizado no bairro do Cabo Branco, na capital, mas ainda não houve definição da data do evento. Estou programando outra exposição em maio, mas prefiro deixar, por enquanto, tudo no sigilo”, finalizou ele.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 4 de janeiro de 2023.