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No sotaque do “pop-Parahyba”

publicado: 16/04/2025 11h01, última modificação: 16/04/2025 11h01
Em nova fase, cantor e compositor Titá Moura lança o primeiro single do novo álbum solo
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Novo termo é cunhado da perspectiva do artista ser um compositor paraibano, impregnado das identidades e da história da canção do estado | Foto: Alessandro Potter/Divulgação

No panorama da música brasileira, a diversidade e a experimentação sonora têm sido as molas propulsoras para a criação de novas expressões artísticas. Diante desse contexto, o cantor e compositor paraibano Titá Moura lança nas plataformas digitais, a partir da meia-noite de amanhã, o single “Caldo Grosso”, integrante do segundo álbum solo do músico — que deve vir ao mundo em dezembro deste ano. O clipe da canção também chega ao canal do YouTube do músico (youtube.com/@tita8462) amanhã, a partir das 18h, compondo uma forma estética por ele denominada como “pop-Parahyba”.

“Não consigo me situar exatamente numa nova fase de carreira. É muito mais um processo novo de construção de um álbum, que vai construindo as sonoridades, a partir das escolhas das canções, as estéticas que vão se escolhendo para compor esse disco”, afirma.

Apesar de vincular-se à tradição composicional de canções, com densidade e apelo violonístico, a música pop tem sido um flerte. Não o pop pré-fabricado — como faz questão de ressaltar —, mas uma ressignificação do gênero, a partir de investigações próprias do seu processo criativo.

“Eu acho que a novidade é essa, nessa nova fase”, reconsidera. “Eu estou trazendo para esse disco algumas canções que estão dentro disso, que eu chamo de ‘pop--Parahyba’. Estou me atrevendo a cunhar um termo. A partir da perspectiva de ser um compositor da Paraíba, que está impregnado das nossas identidades, da história da nossa canção, eu consigo vislumbrar um jeito de fazer que tenha o nosso sotaque”.

Pisando o território da música pop, em seus procedimentos e na sua sonoridade final, Titá Moura afirma untar as camadas, fundamentado pelas identidades da música nordestina e paraibana.

Engrossando o caldo

As faixas do segundo álbum incluirão canções compostas há alguns anos e outras mais recentes, como o já citado “Caldo Grosso”, que surgiu em 2024. Originalmente feita para atender a uma encomenda de uma instrumentista paraibana que buscava repertório para um EP novo, a música acabou sendo integrada ao projeto solo de Titá por sua capacidade de equilibrar poesia regional com sonoridades dançantes e modernas.

“Essa tem sido a construção desse álbum: localizar a canção como meu primeiro impulso, vestindo-a com essas roupas modernas e contemporâneas. Criar bem esse híbrido de música orgânica e sintética”, afirma.

“Caldo Grosso” é um exemplo dessa abordagem. Segundo o compositor, a música mistura influências do Nordeste com elementos do zouk ─ estilo de dança praticada no Caribe ─ e tintas da música pop, apresentando uma fusão de estilos que representa sua busca por uma identidade musical singular. De acordo com Titá, não se trata de uma canção criada do zero, mas de um movimento de transposição das diversas contribuições que o músico vem dando, há pelo menos 10 anos, a repertórios de artistas locais como Elon, Nathalia Bellar e a banda Os Fulano, e até mesmo de outros estados, a exemplo do paulista Conrado Pera.

“A Caburé, que é minha banda, sempre me desafiou a tentar compor estéticas mais dançantes, mais pop dentro de um espectro de música afro-ameríndia, se localizando também nos timbres mais contemporâneos”, comenta Titá Moura.

O álbum vindouro vem sendo concebido já há alguns anos, desde a pandemia. Como cancionista que é, embebido pela diversidade da música brasileira e universal, Titá conta que já buscava realizar o trabalho de maneira a conciliar o sincretismo sonoro com sua assinatura própria, conferindo uma unidade final, sem descurar dos timbres eletrônicos, tão presentes à música atual.

“Reforma Agrária”, seu single anterior, já apresentava alguns desses elementos, como sintetizadores e algumas programações. “Caldo Grosso” vem justo adensar essa tendência, incluindo programações eletrônicas que substituem bateria e baixo.

O terceiro e último single do álbum — canção ainda a ser definida — está previsto para o segundo semestre deste ano e deverá incluir uma colaboração com outro artista. Após essa etapa, o restante do álbum será gravado em um formato mais imersivo, com a participação integral da banda no estúdio. “Pretendo, sim, convidar uma voz, algum artista com quem eu já me conecte, que eu consiga perceber uma relação artística com essa obra que virá”, diz o artista.

Sabe-se, entretanto, que o trabalho como um todo reflete uma dimensão dual da existência humana, abordando temas como amor e desamor, paz e angústia, alegria e tristeza. “Eu acho que esses assuntos estão bem distribuídos no álbum e eu acho que é uma perspectiva sobre esse tempo que a gente vive, onde tudo isso está muito mais polarizado, onde as alternâncias desses estados de espírito são muito mais aceleradas”.

Fase criativa

Reiterando o fato de ser um músico que sempre gravou seus materiais de forma orgânica, sem fazer uso de recursos eletrônicos, Titá esclarece que quando qualquer processo ainda está na sua fase de produção, o músico experimenta alguns estranhamentos em termos de sonoridade. “Assimilar isso e tomar as decisões certas é que está sendo um desafio maior. Conseguir ter uma boa lente para ler essas sonoridades e conseguir, a partir disso, entender o lugar delas, o lugar em que não vou sacrificar, como posso dizer, características que são muito preciosas nas canções para mim”, explicita. “Ou seja, como processar essas novas sonoridades tem sido o meu maior desafio, a partir da decisão de fazer um disco um pouco mais contemporâneo, mais pop”, completa.

Apesar de não considerar o atual momento como uma novíssima fase de carreira, o compositor enxerga o projeto como uma oportunidade de romper com zonas de conforto e explorar estéticas inéditas. “Essa reinvenção está em curso. Não é tão clara assim para mim”, admite. “Ela está acontecendo de uma forma difusa, descontinuada, vai e volta, na medida em que eu vou entrando no estúdio e elaborando as concepções de arranjos, me voltando para aquilo que já está muito definido”. E assevera, acerca do assunto do álbum que virá, o conselho: “Vai dormir que teu mal é sono. Trata dessa ambiguidade da existência desse tempo”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 16 de abril de 2025.